O termo “Kamon” (家紋) refere-se a uma crista utilizada no Japão para indicar as linhagens sanguíneas, a ascendência, o status ou (mais recentemente) uma instituição ou entidade comercial. Também é referido simplesmente como “Mondokoro” (紋所) ou “Mon” (紋).
Enquanto mon é um termo abrangente que pode se referir a qualquer emblema, kamon e mondokoro referem-se especificamente aos usados por uma família.
Segundo dizem, existem mais de 20.000 Kamon no Japão. Kamon são muitas vezes referidos como “Cristas de Família”, semelhantes às cristas heráldicas europeias, mas diferente em muitos aspectos. No caso do Kamon, ele é capaz de identificar uma família ou clã.
Kamon é uma cultura e tradição única que você pode encontrar apenas no Japão. Um Kamon foi criado para servir como um emblema único para representar a identidade de uma família.
Kamon tornou-se o símbolo da nobreza e classe samurai
Antigamente, somente os “Buke” (guerreiros samurai) e “Kuge” (nobreza) usavam Kamon, que eram classificados em alguns grupos de acordo com a linhagem sanguínea ou origem histórica. Cada grupo era representado por um Kamon específico ou suas variações.
Era comum o Kamon estar presente nas armas Samurai (Katana) e nas armaduras (kacchu). Para evitar a apropriação de kamons de classes superiores como Daimyo (senhor feudal japonês) ou Shogun (comandante geral), o que poderia gerar conflitos, havia uma regra tácita onde ninguém deveria usar um Kamon que pertencesse a uma família da nobreza.
Quando o Kamon passou a ser usado?
A origem de Kamon remonta ao fim do período Heian quando alguns membros da nobreza como Sanesue Saionji e Saneyoshi Tokudaiji, criaram o seu próprio “mon” e passaram a usa-lo em seus carros de boi. Outros nobres gostaram da ideia e criaram também os seus brasões.
Os samurais criaram seus “kamon” mais tarde, quando um conflito entre os clãs Heiji e Genji tornou-se mais violento. No começo, os emblemas eram usados em Hatamaku (bandeira) para anunciar as conquistas. Durante o período Kamakura, quase todos os samurais tinham seu próprio Kamon, tornando-se um costume estabelecido entre a classe samurai.
A popularização do Kamon no Japão
Durante o período Edo, estabeleceu-se um período de paz, com poucas batalhas entre os samurais. Com isso, o Kamon acabou desempenhando outro papel e passou a ser usado como uma espécie de símbolo de autoridade. Naquela época, o Japão era uma sociedade hierárquica formada especialmente por samurais, senhores feudais, artesãos e comerciantes.
O Kamon passou a ser usado então como uma maneira de indicar o status social de uma família perante os demais. Com isso era possível identificar sua posição social e a linhagem sanguínea. Ou seja, o kamon passou a ser usado por pessoas comuns, o que contrastava com os países europeus, onde apenas os aristocratas podiam usar uma crista.
Agricultores, comerciantes, artesãos e até artistas Rakugo e Yujo (prostitutas) usavam Kamon. No final do período de Edo, os projetos Kamon ficaram conhecidos no exterior, sobretudo na Europa por causa do design estético simples, mas altamente simbólico.
“Kamon” na Sociedade Japonesa Contemporânea
Praticamente todas as famílias japonesas modernas têm seu próprio “Kamon”. Em ocasiões em que o uso de um Kamon é necessário, é possível encontrá-lo nos registros de suas famílias em templos ou santuários de sua cidade natal, em uma das muitas publicações genealógicas disponíveis ou em sites específicos como o kamon myoji.
Também podemos ver o “Kamon” incorporado em logotipos de lojas de artesanato ou especialidades tradicionais e restaurantes. Além disso, muitas empresas, como “Mitsubishi”, “Yamaha” e “Kikkoman” têm o logotipo da empresa, originárias de Kamon.
Também encontramos projetos de Kamon em marcas de produtos alimentícios como tofu, sembei e sake, para lhes dar um ar de elegância, refinamento e tradição.
Os projetos de Kamon podem até ser vistos nas telhas cerâmicas de casas antigas, túmulos, móveis e roupas da família. O Kamon também está presente na moeda de 500 ienes (Paulownia Kamon) e no passaporte japonês (Imperial Kamon).
“Kamon” pode ser visto também na indústria têxtil, especialmente na confecção de quimonos. Os Kamon podem ser formais ou informais, dependendo da formalidade do quimono. Em outros trajes típicos podemos encontrar o Kamon em cada manga e no meio das costas.
Vale lembrar que o mesmo “Kamon” pode ser usado por várias famílias, exceto os considerados especiais como da família imperial (crista do crisântemo) e de governantes do Japão, como Tokugawa (crista da paulownia). No caso da crista ser uma flor, o número de pétalas também desempenha um papel importante na hierarquia das famílias japonesas.
Por exemplo, a crista de paulownia com 5-7-5 folhas é reservada para o primeiro ministro, enquanto que paulownia com menos folhas pode ser usada por qualquer pessoa. O crisântemo imperial possui 16 pétalas e é usado pelos imperadores, enquanto que o crisântemo com menos pétalas é usado por outros membros da família imperial.
Não há regras estabelecidas para o projeto de um kamon. A maioria consiste em um círculo com a figura de objetos, animais ou elementos da natureza. Símbolos religiosos, formas geométricas e kanji também eram comumente usados. Kamon são essencialmente monocromáticos; Embora a cor não faça parte do projeto, o Kamon pode ser utilizado em qualquer cor.
Cristas Oficiais “Kamon”
Outras Cristas “Kamon”