Embora tenham se passado 30 anos, Kazuhiko Ochiai ainda lembra da primeira vez que provou queijo em uma visita à França, um prazer para o paladar que inspirou o ex-pesquisador a começar a produzir sua própria variedade no Japão.
Mas agora ele teme que um acordo comercial entre a UE e o Japão possa desencadear uma enxurrada de queijos baratos importados da Europa, que poderiam tirar uma fatia generosa do seu próprio negócio.
Ochiai faz cinco tipos de queijo, incluindo brie e uma variedade semelhante ao comte.
Seus negócios cresceram, e as vendas alcançam 20 milhões de ienes (US$ 177.500) este ano, acima dos 2 milhões de ienes de quando ele começou, há uma década.
“Não podemos atender à demanda”, disse o homem de 74 anos, que emprega apenas um punhado de funcionários.
Mas ele se preocupa com o impacto do acordo de livre-comércio, que eliminará a pesada tarifa de 29,8% atualmente imposta aos queijos importados.
“Estou preocupado com o longo prazo”, disse Ochiai à AFP em sua pequena fábrica na cidade montanhosa de Nasushiobara, ao norte de Tóquio, enquanto seus colegas trabalhavam dando forma e embalando queijos especiais.
“Acho que a concorrência de preços será acirrada. É difícil para nós baixar o preço porque é preciso tempo e esforço para os pequenos produtores de queijo”, disse ele, acrescentando que o leite é muito mais barato na Europa que no Japão.
O acordo assinado em julho – o maior já negociado pela UE – cria uma enorme área de livre-comércio que cobre quase um terço do PIB global, eliminando tarifas para tudo, de carros japoneses ao queijo francês.
Anunciando o acordo, o primeiro-ministro Shinzo Abe disse que o povo japonês “poderá desfrutar de excelentes vinhos ou queijos da Europa”.
O consumo japonês de queijo está aumentando, de 279.000 toneladas em 2007 para 338.000 toneladas uma década depois, de acordo com as estatísticas mais recentes do ministério da fazenda.
Mas há muito espaço para crescimento. O consumo anual per capita é de apenas 2,66 kg, em comparação com 27,2 kg na França, 24,7 kg na Alemanha e gritantes 28,1 kg na Dinamarca.
Cerca de três quartos do queijo consumido é importado, principalmente da Austrália e da Nova Zelândia.
– ‘Queijos deliciosos’ –
Centenas de quilômetros ao norte, na ilha de Hokkaido, onde a maioria dos laticínios japoneses é fabricada, os criadores de gado também observam os desdobramentos comerciais com inquietação.
“Estamos preocupados que a demanda por queijo fabricado no Japão possa ser perdida”, disse à AFP a Cooperativa Agrícola do Japão em Hokkaido.
Outra preocupação é a possibilidade de, diante da maior concorrência, os fabricantes de queijo passarem a pressionar os produtores de leite para reduzir seus preços.
Quase todo o leite usado na produção de queijo no Japão vem de Hokkaido.
Empenhados em apoiar os agricultores familiares – um importante grupo de apoio político a Abe – o governo já anunciou medidas para amortecer o impacto.
O governo de Abe destinou 15 bilhões de ienes em subsídios “para conter o crescimento do queijo europeu antes que o acordo comercial entre em vigor”, segundo o Ministério da Agricultura.
Os fabricantes podem usar os subsídios para expandir suas instalações, participar de treinamentos no exterior para melhorar a qualidade ou promover o consumo de queijo.
Ochiai deposita suas esperanças nos gostos de queijo dos consumidores japoneses, que tendem a preferir variedades mais suaves.
“Não são muitos os japoneses que gostam de queijo com sabores muito fortes. Uma maneira de competir é produzir queijo com sabores suaves que mais pessoas japonesas gostariam”, disse ele.
“Acho que a única maneira é melhorar a qualidade e fazer queijos deliciosos. Acho que podemos sobreviver de alguma forma se fizermos isso.”