Quem foi criança nos anos ???? deve se lembrar do Linus Van Pelt, melhor amigo do Charlie Brown, que vivia agarrado ao seu cobertor de segurança. Toda vez que Linus sentia-se inseguro e com medo, chupava o dedo e agarrava forte o seu cobertor, tal qual ele fazia quando ainda era um bebê.
Esse comportamento é o que chamamos na Psicologia, especialmente na Psicanálise, de Regressão, um dos muitos mecanismos de defesa que o ego pode lançar mão toda vez que sente sua integridade ameaçada. Assim, diante de um problema ou de um conflito que causa muita angústia e medo e que exige uma nova forma de adaptação, ou um novo nível de consciência, e sobre o qual não nos sentimos fortes e maduros o suficiente para enfrentar, inconscientemente regredimos para um estágio anterior do desenvolvimento, a fim de angariar forças.
Ou seja, retornamos para aquele tempo em que nos sentíamos mais seguros, não conhecíamos as tensões em questão e éramos protegidos por um pai todo-poderoso que podia nos levar embora. Essa regressão certamente vem acompanhada dos comportamentos que lhe são típicos: ódio, agressividade, crueldade, abusos verbais, obsessões, avareza, egoísmo, indiferença, individualismo. Atitudes características de um estágio de ego mais primitivo. Em pessoas mais velhas, a regressão também pode se manifestar como aquela eterna exaltação saudosista: “No meu tempo é que era bom”, deixando claro que as condições de vida do presente não são aquelas que se gostaria de estar vivenciando.
Todos nós sentimos angústia diante dos conflitos e das demandas que a vida constantemente nos apresenta, e é justamente essa angústia que nos impulsiona a resolve-los. No entanto, nem sempre somos capazes de resolver os mesmos de forma direta e imediata, através apenas do uso da razão. Somos animais racionais sim, mas somos, sobretudo, animais emocionais, o que diminui consideravelmente a nossa objetividade. Por isso, somos levados muitas vezes a resolver os conflitos de forma indireta e tortuosa, a fim de adaptar-nos às exigências que nos são impostas pela vida e pela sociedade em que vivemos.
A Democracia, por sua vez, é um sistema político que requer maturidade e responsabilidade, porque pressupõe a consciência da coletividade e das diferenças, e o diálogo na busca por soluções que beneficiem a todos. No entanto, há que se lembrar que a democracia brasileira ainda é muito jovem e, como todo jovem, talvez ainda não esteja madura o suficiente para enfrentar os desafios e conflitos da idade adulta. Talvez ainda não esteja pronta o suficiente para adaptar-se às exigências dos novos tempos e, por isso, precise regredir para estágios anteriores de desenvolvimento para fortalecer-se, e assim voltar a crescer.
O Brasil está no divã, olhando para as suas sombras, seus conflitos e temores. Ao que tudo indica, a psicoterapia terá duração de pelo menos quatro anos. Que possamos nos superar e nos transformar, chegando ao final desse processo com um desejo imenso de seguir adiante. Como disse certa vez Ariano Suassuna: “O otimista é um tolo. O pessimista é um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso.”