Relações líquidas: é muito fácil bloquear, deixar de seguir, de visualizar – simplesmente sumir e não dar ao outro o direito de saber a razão.
Estou pensando muito no termo “relações líquidas”, desde que li pela primeira vez.
O sociólogo Zygmunt Bauman, escreveu um livro intitulado “Amor Líquido”, onde ele analisa a liquidez, a superficialidade e a rapidez com que se diluem os relacionamentos, atualmente.
Ele diz que “Líquidos mudam de forma, rapidamente, sob a menor pressão. Na verdade, são incapazes de manter a mesma forma por muito tempo.
No atual estágio “líquido” da modernidade, os líquidos são deliberadamente impedidos de se solidificarem. A temperatura elevada — ou seja, o impulso de transgredir, de substituir, de acelerar a circulação de mercadorias rentáveis — não dá ao fluxo uma oportunidade de abrandar, nem o tempo necessário para condensar e solidificar-se em formas estáveis, com uma maior expectativa de vida.
Ou seja, vivemos em tempos líquidos, onde nada é para durar.
Entre namoro, noivado e casamento passaram-se 13 anos. Saí de uma era onde as mensagens de texto eram limitadas no pacote e caí de paraquedas na era do Tinder e Instagram. Orkut era só para convidados e conversas no MSN eram possíveis só para quem tivesse o seu e-mail.
Fico me perguntando quando deixamos de ser indivíduos reais, com todas as nossas particularidades, para nos tornamos apenas uma foto de perfil.
As relações líquidas se caracterizam por sua fragilidade. Criam-se laços que se diluem e se escapam diante de qualquer conflito ou com qualquer desculpa.
Sabe quando nossos pais dizem que “antigamente as coisas eram consertadas, hoje são apenas substituídas”? Pois é, os relacionamentos, assim como as pessoas, também estão assim. Rasos e pequenos. Não existe mais responsabilidade emocional sobre o outro. As pessoas são descartadas conforme sua foto fica mais para baixo na lista de contatos do Instagram ou WhatsApp. Perdemos o interesse pelo outro da mesma forma que cansamos de uma série.
Temos muito de tudo, mas pouco de cada coisa. Não existe mais interesse real no outro, e, sim, no que o outro pode oferecer naquele momento.
As pessoas reclamam de solidão, mas não perguntam como foi o dia do outro. Não existe universo fora do próprio umbigo – ou da própria timeline.
É muito fácil bloquear, deixar de seguir, de visualizar – simplesmente sumir e não dar ao outro o direito de saber a razão. A gente simplesmente cansa quando deixa de ser interessante ou quando surge alguém que parece mais interessante – o que é muito fácil e rápido, considerando que hoje em dia temos uma quantidade absurda de pessoas disponíveis a um clique de distância.
Mas o quanto essas pessoas são reais? O quanto essas relações são profundas? O quanto de realidade ainda existe nesse tipo de relação?
Eu me pergunto isso todos os dias, e confesso que tenho dificuldade em entender a superficialidade das relações atuais. Questiono-me sobre o quanto vale a pena se adaptar a esse novo mundo, deixando de lado tudo que eu sempre acreditei. Mas essa não seria eu.
Talvez o ideal seja tentar um meio termo, entre sólido e líquido…e tentar criar um novo termo…”relações pastosas”, talvez? Só o tempo dirá…