Cerca de 200 pessoas participaram do evento, que contou com a participação do vice-cônsul do Brasil em Nagoya, Rômulo Gondinho, que é portador de autismo leve.
No dia 30 de abril aconteceu em Toyohashi, província de Aichi-ken, o 1° Encontro Tsunago de Conscientização sobre Autismo e TDAH. O evento reuniu famílias e especialistas da área, que falaram sobre vários temas relacionados ao TEA (Transtorno do Espectro Autista).
A primeira palestrante foi a psicopedagoga Márcia Queiroz, que falou sobre a construção da aprendizagem em portadores de autismo e TDAH. Márcia tem um filho portador de autismo e contou um pouco de sua experiência e de como foi o aprendizado de seu filho, que hoje, com 15 anos, está no primeiro ano do ensino médio japonês.
A segunda especialista a palestrar foi a psicóloga Ana Satie Takayama, que falou sobre a importância da família na educação da criança, seja ela portadora de algum transtorno ou não. Segundo Ana, a participação ativa dos pais na vida dos filhos é fundamental para a formação de seu caráter e, mesmo quando o filho possui algum transtorno de desenvolvimento, os pais devem ensiná-lo sobre o que é certo e o que é errado.
Oficina de Atividades
O encontro também trouxe a profissional Edgenalda Santiago, que apresentou uma oficina, onde ensinou aos pais atividades lúdicas, que podem ser aplicadas em casa com seus filhos, sejam eles autistas ou não. Edgenalda falou sobre a importância de se reservar, pelo menos, 40 minutos para brincar com os filhos.
Violência infantil
A fundadora do grupo SOS Mamães no Japão, Lilian Mishima, falou sobre a incidência de casos de violência e abusos praticados contra crianças na comunidade brasileira no Japão e sobre os prejuízos que isso causa ao desenvolvimento da criança, que são agravados nos casos de portadores de autismo. Segundo Lilian, a criança portadora de autismo muitas vezes não sabe diferenciar o que é carinho e o que é abuso, como em caso que ela citou, de uma menina de 14 anos, que foi abusada mas não sabia ao certo o que havia acontecido. O agressor só foi preso graças à sua irmã, que viu o que aconteceu. Lilian alertou os pais sobre a importância de orientar seus filhos desde cedo sobre suas partes íntimas, para que eles consigam identificar uma situação em que esteja sofrendo um abuso.
Histórias inspiradoras
O encontro também teve dois depoimentos que emocionaram e inspiraram os participantes.
Camila Mierzwinski contou sua história com seu filho Arthur, que é portador de autismo leve, mas como ela mesma diz, não tão leve assim. Ela contou que seu filho passou por quase todas as escolas da região, mas entende que essas escolas não puderam mantê-lo por falta de profissionais que pudessem atendê-lo da forma correta. Camila falou um pouco sobre suas dificuldades, mas demonstrou de forma bem clara o grande amor que sente por seu filho e a importância de nunca desistir, mesmo quando tudo parecer impossível. Ela também alertou sobre a importância de se procurar ajuda logo que detectar qualquer dificuldade no desenvolvimento. “Busque por ajuda o quanto antes! Se seu filho não tiver nada, ótimo”, disse ela. Camila também deixou um recado emocionado aos pais: “Mamãe, lembre-se que você não está sozinha. E papai, saiba que existe uma razão para Deus ter lhe dado esse filho. Dê a ele todo amor, tempo e carinho que você puder”.
O vice-cônsul do Brasil em Nagoya, Rômulo Gondinho, também contou sua história e inspirou a todos os presentes.
Rômulo tem autismo leve e contou que passou por muitas dificuldades durante sua vida, principalmente no convívio social e na escola. Por não conseguir se adaptar à forma tradicional de estudo, com o caderno de anotações, ele demorou para concluir a faculdade e teve que enfrentar muitos obstáculos e ter muita força de vontade para chegar onde chegou. Ele disse que muitas coisas passaram a fazer sentido no momento em que foi diagnosticado, pois passou a entender porque certas situações ocorriam em sua vida. O depoimento de Rômulo foi um dos grandes momentos do evento e, com certeza, deu esperança e força para que os pais acreditem e lutem pelo futuro de seus filhos.
A importância do diagnóstico precoce
Um dos principais objetivos do evento foi alertar os pais sobre a importância de diagnosticar e iniciar o tratamento da criança nos primeiros anos de vida. Estudos afirmam que quanto antes o tratamento é iniciado, maiores são as chances do quadro regredir e da criança levar uma vida praticamente normal.
Segundo Ronaldo J. Sugimoto, organizador do evento, muitos pais acabam deixando para depois, pois não têm consciência de que isso pode causar danos irreparáveis no desenvolvimento de seus filhos. Ronaldo alerta para alguns sinais que podem ser notados desde cedo e que servem de alerta para que os pais procurem ajuda:
– Falta de contato visual com a mãe ao ser amamentado. Isso pode ocorrer logo nos primeiros meses de vida;
– Falta de reações emocionais. Os bebês com autismo não reagem com frequência a brincadeiras e parecem ter sempre a mesma expressão;
– Não reage quando é chamado pelo nome, mesmo depois de completar um ano de idade;
– Não tenta falar ou apresenta dificuldades na fala, mesmo após completar 2 anos;
– Quando bebê, não interage com adultos e, logo nos primeiros anos de vida, não gosta de brincar com outras crianças;
– Tem movimentos repetitivos, que aparecem geralmente entre 1 e 2 anos de idade, como ficar se balançando ou bater as mãos ou a cabeça em algo.
Caso um ou mais desses sintomas sejam notados, é hora de buscar ajuda profissional.
O fechamento do diagnóstico no Japão não é tão rápido, mas após uma consulta com um psicólogo ou psiquiatra e com um atestado em mãos, já é possível conseguir um subsídio do governo para iniciar o tratamento em uma instituição de apoio ao desenvolvimento infantil.
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