O Crisântemo é a Flor Nacional do Japão e possui muitos significados culturais, além de ser o Brasão Oficial da Família Imperial. Esta flor singela é retratada em diversas obras de arte como gravuras, pinturas e literatura. A imagem acima, por exemplo, foi uma pintura de Ohno Bakufu, grande pintor japonês.
O Crisântemo tem seu significado tão firmemente enraizado na cultura oriental, que acabou se tornando personagem principal de vários poemas e histórias, entre elas uma fábula bastante popular no Japão: Dama Branca e Dama Amarela.
A Dama Branca e Amarela é um conto japonês, que embora simples, nos passa uma lição incrível. Acabou se popularizando no mundo todo devido ao livro “Myths & Legends of Japan” (Mitos e Lendas do Japão), do escritor F. Hadland Davis.
Pintura com crisântemo branco e amarelo, do artista e pintor japonês Koitsu Tsuchiya (1870-1949)
A Dama Branca e a Dama Amarela
Era uma vez dois crisântemos, um branco e outro amarelo que cresciam lado a lado em um campo. Um dia, um velho jardineiro as encontrou e se apaixonou pela dama amarela. Ele ofereceu-se para levá-la para sua casa e torná-la ainda mais bela do que era. A dama amarela, sem pensar duas vezes, despediu-se da irmã e foi levada pelas mãos suaves do jardineiro para ser plantada em seu jardim.
Depois que a dama amarela partiu, a dama branca chorou amargamente. Sua beleza singela havia sido desprezada e, pior que isso, viu-se forçada a permanecer sozinha no campo, sem mais a companhia da irmã, com quem passava horas a conversar. Enquanto isso, a dama amarela se tornava cada dia mais bela.
Nem parecia mais a simples flor amarela do campo. Apesar de estar vivendo uma vida de luxo, a dama amarela às vezes se lembrava da irmã branca que havia abandonado sozinha no campo, sem ninguém para conversar. Mas assim que o jardineiro vinha cuidar de sua beleza, ela logo esquecia de sua irmã solitária.
Um dia, um capitão da vila chegou dizendo que estava procurando uma flor perfeita para se tornar a crista do elmo do seu senhor. O jardineiro então mostrou a ele, sua mais linda flor, o crisântemo amarelo. Mas o capitão foi logo dizendo que não estava a procura de um crisântemo que tivesse muitas e longas pétalas.
Ele buscava um crisântemo que fosse da cor branca, simples e com apenas dezesseis pétalas. Como ele não havia gostado da dama amarela, agradeceu e partiu logo em seguida à procura da sua flor perfeita. A dama amarela ficou muito desapontada por ter sido desprezada pelo capitão da vila, mas procurou não ficar pensando nisto.
No caminho, o homem passou pelo campo e encontrou a dama branca chorando. Ela contou a ele sobre a dama amarela que a havia abandonado, deixando-a tão triste e solitária no campo. Ele então lhe contou que conheceu a dama amarela e que ela não era nem metade tão bela quanto à branca flor que tinha diante dos olhos.
Diante dos elogios do capitão, a dama branca parou de chorar e ficou muito animada e feliz, especialmente depois que ele perguntou-lhe se ela desejaria ser a crista do elmo do seu senhor. O homem ainda disse-lhe que caso aceitasse, ela seria muito bem cuidada e teria uma vida de rainha, com muitos luxos.
A dama branca concordou e logo foi plantada em uma janela no palácio do Daimyo. O senhor feudal e toda sua família concordaram que realmente a dama branca era mesmo a flor perfeita para a sua crista. Vários artesãos e artistas vieram de longe e de perto, para retratar o belo crisântemo em todos os pertences da família.
Além de estar retratada na armadura do Daimyo, a dama branca percebeu de que não precisava mais de um espelho para se mirar, pois sua bela face branca estava presente em todos os mais preciosos bens da família do Daimyo, como caixas de laca, roupões de banho, travesseiros, colchas, mantos e outros objetos da família.
Olhando para cima, podia ver o seu rosto entalhado em grandes painéis. Foi pintada de todas as maneiras possíveis e imagináveis, inclusive boiando sobre a correnteza. Todo mundo concordava de que o crisântemo branco, apesar de possuir apenas dezesseis pétalas, representava o mais belo elmo de todo o Japão.
Quanto ao crisântemo amarelo, sua vida de luxo e riqueza teve uma curta duração. Enquanto a face feliz da dama Branca era perpetuada nos bens do Daimyo, a face da dama Amarela só transpirava tristeza. Por um período curto de tempo, foi feliz, se tornou uma bela flor e havia ganho muitos elogios dos visitantes.
No entanto, um dia, ela sentiu uma rigidez nos membros e percebeu o fim da exuberância de sua existência. A antiga cabeça orgulhosa, que antes era repleta de belas e longas pétalas douradas, pendeu e quando o velho jardineiro a viu desfalecida, a arrancou do canteiro para jogá-la em meio a um monte de lixo.
Enquanto isso, a dama branca foi cuidadosamente conservada, sem contudo perder a sua beleza simples, afinal havia sido escolhida pelo Daimyo para ser o brasão da família, justamente por sua singela simplicidade e humildade.
Fonte: Japão em Foco