O próximo inverno pode ser especialmente cruel para os japoneses.
Restrições a exportações da Coreia do Sul, decorrentes de disputas em torno da reparação a escravas sexuais durante a ocupação que durou 35 anos, podem levar a escassez e disparada de preços do querosene. É uma questão séria porque 61% do aquecimento doméstico no Japão vem de aparelhos movidos a querosene, que fornecem calor instantâneo (e malcheiroso).
Como ocorre regularmente nas brigas entre Rússia e Ucrânia em torno do gás para calefação no inverno, não há ameaça mais potente quando a temperatura desaba que o corte no abastecimento da fonte de calor da população. Felizmente, muitas famílias japonesas têm a opção de usar o ar condicionado.
Se usado corretamente, o aparelho de ar condicionado com função de aquecimento é a forma mais eficiente de elevar a temperatura de um cômodo. Afinal, são bombas de calor: a energia consumida para movimentar o calor representa uma fração pequena do calor que são capazes de fornecer. Um aquecedor movido a querosene nunca será capaz de oferecer mais calor do que está contido no combustível que queima. Já a eficiência das bombas de aquecimento pode superar 300%.
A crescente demanda mundial por resfriamento via condicionadores de ar será responsável por boa parte do consumo de energia nas próximas décadas. No entanto, o uso desses mesmos aparelhos no lugar de radiadores elétricos ou movidos a combustíveis fósseis pode proporcionar significativa economia de energia. A participação desses aparelhos na calefação dos edifícios precisa triplicar a partir dos 3% atuais para atingir as metas de eficiência necessárias para evitar os piores efeitos da mudança climática, segundo a Agência Internacional de Energia.
A eficiência dos condicionadores de ar vai de encontro com a percepção no Japão de que os aquecedores a querosene são a opção mais barata. Muito depende da forma de uso. Um litro de querosene contém cerca de 10 quilowatt-hora de energia e custa 90,9 ienes (US$ 0,85). O gasto para se produzir a mesma quantidade com um aparelho de ar condicionado é 99 ienes, pela tarifa mais alta da Tokyo Electric Power e presumindo eficiência de 300%.
Isso seria o desempenho máximo, algo que não acontece em um aparelho antigo ou mal conservado, que aponta para o local errado do cômodo ou continua ligado quando o morador sai de casa. Nas regiões mais geladas do país, como Hokkaido, o desempenho dos aquecedores cai drasticamente junto com a temperatura. Mas na maior parte do país, ainda são opção atraente.
Quem já encarou um inverno dentro de casa no Japão, tentando esquentar os pés sob o kotatsu (tradicional mesinha com aquecedor e cobertor acoplados), sabe que o país é extremamente frugal quando se trata de alguns confortos domésticos. O consumo de energia para aquecimento por residência é um quarto do que se observa nos EUA e Europa Ocidental, apesar do isolamento ruim dos lares japoneses e do fato de muitas pessoas abrirem um pouco a janela para sair o cheiro do querosene. Por outro lado, americanos e europeus que aquecem a casa toda e ficam só de camiseta enquanto a neve cai lá fora podem aprender muito com os japoneses, que, para economizar energia, só aquecem o cômodo onde estão.
Ainda assim, os que temem um aumento do preço do querosene pela Coreia do Sul devem se lembrar que os aparelhos de ar condicionado são quase onipresentes no Japão e os mais modernos costumam ter função de aquecimento. Aprender a usar esses sistemas no próximo inverno pode economizar dinheiro e eliminar saídas para encher o galão de querosene. Embora o carvão tenha grande presença na matriz energética do Japão, o clima também pode ser favorecido por essa prática.