A Estética Japonesa é composta por diversos princípios que estão interligados e se sobrepõem. Tratam-se de princípios capazes de mudar nossos conceitos e percepções em relação a muitas coisas, além é claro de estimular nossa criatividade no que se refere à arte e design.
Os princípios da estética zen encontrados na arte do jardim tradicional japonês, por exemplo, têm muitas lições para nós, embora sejam desconhecidos para a maioria das pessoas.
Elas estão presente na arquitetura e no Geidō (芸道) que refere-se às várias artes tradicionais japonesas como Noh (teatro), Ikebana (arranjo de flores japonês), shodō (caligrafia japonesa ), Sadō (cerimônia do chá japonesa), yakimono (cerâmica japonesa), etc.
Todas essas disciplinas carregam uma conotação ética e estética e ensinam uma apreciação do processo de criação. A estética japonesa é um conjunto de ideais antigos. Para entendermos melhor sobre esses conceitos da estética japonesa, vamos dar uma olhada em alguns escritos de Patrick Lennox Tierney (recebedor da Ordem do Sol Nascente em 2007).
Sete princípios da estética japonesa
1. Kanso (簡素) Simplicidade ou eliminação da desordem
As coisas são expressas de maneira simples e natural. Lembra-nos de pensar não em termos de decoração, mas em termos de clareza, um tipo de clareza que pode ser alcançado através da omissão ou exclusão do não essencial.
Kanso diz que beleza e utilidade não precisam ser exageradas, excessivamente decorativas ou fantasiosas. O efeito geral é fresco, claro e limpo.
Como exemplo, podemos citar o Instagram, que antigamente era repleto de recursos, sem uma proposta de valor simples e, como tal, tinha poucos usuários.
Ao simplificá-lo para que as pessoas pudessem entender e se divertir com ele em 30 segundos, o Instagram ganhou 2 milhões de usuários em apenas quatro meses, uma taxa de crescimento mais rápida que o Foursquare, o Facebook e o Twitter.
Lição Zen: Elimine o que não interessa para ter mais espaço para o que realmente importa.
2. Fukinsei (不均整)Assimetria ou irregularidade
A irregularidade e a assimetria são princípios centrais da estética zen. O enso (“círculo zen”) na pintura a pincel, por exemplo, é frequentemente desenhado como um círculo incompleto, simbolizando a imperfeição que faz parte da existência.
No design gráfico, o equilíbrio assimétrico é considerado algo dinâmico e belo. A natureza em si é cheia de beleza e relacionamentos harmoniosos que são assimétricos, mas equilibrados. Esta é uma beleza dinâmica que costuma atrair e envolver as pessoas.
O efeito é que o espectador fornece a simetria que falta e participa do ato criativo. É como um filme ou seriado que após o fim do episódio nos deixa a sensação de estar incompleto. No entanto, as pistas estão lá, basta que o telespectador ligue os pontos.
Lição Zen: deixe espaço para outros co-criarem com você; fornecer uma plataforma para inovação aberta.
3. Shibui / Shibumi (渋味) Minimalismo
Shibui significa literalmente sabor adstringente. Neste caso, refere-se à simplicidade elegante, algo bonito sem ser elaborado ou chamativo. O termo é usado às vezes hoje para descrever algo lindamente minimalista, incluindo tecnologia e alguns produtos de consumo.
O objetivo é apresentar algo que pareça sobressalente e transmita uma sensação de foco e clareza. No mundo dos aplicativos móveis, por exemplo, muitas vezes o menos significa mais. Uma interface clara e objetiva é essencial para quem os utiliza.
Lição Zen: Abster-se de acrescentar o que não é absolutamente necessário em primeiro lugar.
4. Shizen (自然) Naturalidade
Uma ausência de pretensão ou artificialidade, plena intenção criativa não forçada. Ironicamente, a natureza espontânea do jardim japonês que o espectador percebe não é acidental. Este é um lembrete de que o design não é um acidente, mesmo quando estamos tentando criar um ambiente natural. Não é uma natureza crua como tal, mas com mais propósito e intenção.
O objetivo do shizen é encontrar um equilíbrio entre ser “natural”, mas distinto dele – ser visto como sendo sem pretensão ou artifício, embora pareça intencional e não acidental ou casual.
O designer Noé Duchaufour Lawrance capturou a essência do shizen em sua coleção Naturoscopie de móveis destinados a recriar e abstrair as sensações da natureza: a filtragem da luz através das árvores, o sol poente, as sombras das nuvens passageiras. Como ele explicou, ele queria “ir além da transcrição literal da natureza”.
Lição Zen: incorpore padrões e ritmos naturais ao seu design.
5. Yugen (幽玄) Profundidade ou sugestão em vez de revelação
O princípio de yugen capta a visão zen de que o poder da sugestão é frequentemente mais forte do que o da revelação completa. Isso faz despertar nossa imaginação e curiosidade e pode nos levar à ação.
Yugen figurou centralmente na estratégia de marketing da Apple, desde o iPhone original. Nos meses que antecederam o seu lançamento em junho de 2007, foi saudado como um dos produtos mais badalados da história.
Mas ao invés de promove-lo fortemente através do marketing e da mídia, a Apple fez exatamente o oposto: Steve Jobs demonstrou o Iphone no Macworld 07 apenas uma vez.
Entre o anúncio e o lançamento do produto, não havia nada além de silêncio em relação a publicidade, promoção, vazamentos para a mídia, descontos nos preços, demonstrações para revisores de tecnologia, publicidade inteligente ou pré-ordenação.
Houve essencialmente um embargo à informação oficial, com apenas o demo de Jobs disponível para referência online. A blogosfera explodiu, resultando em mais de 20 milhões de pessoas expressando a intenção de comprar.
Lição Zen: limite a informação apenas o suficiente para despertar a curiosidade, deixando o resto para a imaginação das pessoas.
6. Datsuzoku (脱俗) Liberdade do hábito ou fórmula
Fuja da rotina diária ou do comum. Este princípio descreve o sentimento de surpresa e um pouco de espanto quando nos libertamos do óbvio e das convenções. Quando um padrão ou um hábito é quebrado, a criatividade e a desenvoltura surgem em nossa em mente.
Imagine que de repente seu pneu fura enquanto estiver dirigindo. Você vai precisar sair do comum pois vai ser necessário de imediato procurar soluções para resolver o problema e isso requer total atenção da sua parte neste momento.
Algumas das alternativas são procurar o acostamento da estrada ou locais seguros para estacionar, observar o tráfego ao seu redor com mais atenção, buscar ferramentas necessárias para a troca de pneus em seu porta-malas ou buscar algum auxílio imediato.
Estes são todos os recursos que você precisa para uma solução criativa. Eles estavam lá o tempo todo, mas foi a ruptura da rotina que os trouxe à tona.
Lição Zen: uma “rotina” interrompida é uma parte importante de qualquer projeto inovador.
7. Seijaku (静寂) Quietude, Tranquilidade
Refere-se a uma calma energizada (completamente), quietude, solidão. Isso está relacionado ao sentimento que você pode ter quando está em um jardim japonês. O sentimento oposto ao expresso por seijaku seria ruído e perturbação. Como podemos trazer um sentimento de “calma ativa” e quietude para projetos efêmeros fora das artes zen?
Para o praticante Zen, é em estados de calma ativa, tranquilidade, solidão e quietude que encontramos a essência da energia criativa. E a meditação é uma maneira eficaz de aumentar a autoconsciência, o foco e a atenção e preparar o cérebro para obter insights criativos.
Lição Zen: Fazer algo nem sempre é melhor do que não fazer nada.
Fonte: Japão em Foco