O que esse japonês está fazendo em Fukushima pode parecer loucura para alguns, mas para muitos outros está sendo um grande gesto de amor e compaixão aos animais. O agricultor Matsumura Naoto de 52 anos, voltou à zona de radiação de Fukushima com o único propósito: Cuidar dos animais que foram abandonados.
Naoto Matsumura, assim como todos os outros moradores, foi obrigado a sair da zona proibida com um raio de 20 km da Usina Nuclear de Daiichi, mas movido por um sentimento de compaixão e solidariedade aos animais, resolveu ignorar a proibição e retornou à pequena cidade rural onde vivia, Tomioka.
Tomioka, que já foi o lar de 16.000 pessoas, agora tem o Sr. Matsumura como único habitante, além dos animais é claro. A cidade que antes era uma terra considerada fértil para o plantio e criação de animais, tornou-se um grande deserto ou uma cidade fantasma, como tantas outras em Fukushima.
Naoto Matsumura está ciente dos riscos da radiação para a sua saúde, que podem aparecer daqui 5, 10 anos, mas ele não se arrepende de ter voltado à Zona de Perigo para viver ao lado dos animais que foram deixados para trás pelos seus donos e que agora convivem com a negligência da TEPCO e do governo japonês.
No início, seu desejo era de alimentar os animais em sua fazenda, mas logo ele se viu cercado de cães e gatos da vizinhança, que estavam desesperados de fome. Sr. Matsumura começou a alimenta-los também, sendo necessário sair da zona proibida para conseguir comprar alimentos para eles.
No local, o sr. Matsumura vive de maneira bem rústica, sem eletricidade e água potável e sobrevivendo à base de enlatados e jantar a luz de velas. Em entrevista ao CNN, ele conta que se sente triste com o descaso das autoridades em relação à sua cidade natal e outras áreas atingidas.
Sr. Matsumura conta que uma das cenas mais tristes que viu quando retornou à Tomioka foi de uma vaca e seu bezerro. A vaca estava pele e osso e quando o bezerro se aproximava para amamentar, sua mãe o empurrava pra longe. O bezerro atordoado pela fome se arrastou chorando para um canto do celeiro e começou a chupar um pedaço de palha como se fosse a teta de sua mãe.
No dia seguinte encontrou a vaca e o bezerro mortos. Depois de ver inúmeras cenas parecidas com essa, o sr. Matsumura resolveu conceder entrevistas a correspondentes estrangeiros, para mostrar sua insatisfação com a imprensa japonesa que não cobria a triste realidade na zona de radiação.
Graças à repercussão que seu gesto de amor aos animais ganhou mundo afora, o sr. Matsumura tem recebido muitas doações de todo Japão e isso o tem ajudado a levar adiante seu desafio de cuidar dos animais abandonados.
O sr. Matsumura não está atrás de 15 minutos de fama. Sua missão é a de salvar animais da fome e pra isso ele enfrenta radiação 17 vezes superior aos níveis considerados normais. Por causa da sua exposição prolongada, o sr. Matsumura foi declarado como o “homem mais radioativo do mundo”.
Mas o sr. Matsumura disse não se importar com isso, pois diz que um dia terá que morrer de todo jeito e quer que isso aconteça na sua terra natal. Além de cuidar dos animais, o sr. Matsumura luta também para acelerar o progresso de descontaminação da área, que vem acontecendo de forma bem lenta.
Essa é uma da histórias de compaixão mais lindas que eu já li e que com certeza merece ser compartilhada. Convido vocês a assistirem esses dois documentários produzidos pela Vice Japan sobre esse homem extraordinário que tem muito a nos ensinar através desse grande exemplo de solidariedade.
O Guardião dos Animais de Fukushima
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