Na vila de Kongthong, na Índia, ninguém ouve os gritos desesperados de uma mãe chamando pelo Enzo ou pela Valentina para voltar para casa e tomar banho. E muito menos a tecnologia conta muito, o que evita milhares de ligações perdidas ou mensagens de áudio de vários minutos. Lá, cada criança que nasce ganha, além do nome, uma melodia única, criada pela mãe. Então, é comum ouvir assobios como se fossem pássaros cantando — são, na verdade, chamados diretos a alguém.
De acordo com Pyndaplin Shabong, mãe de três crianças, “a composição da melodia vem do fundo do coração”. “É uma maneira de expressar minha alegria e meu amor pelo bebê”. A tradição é centenária e muito usada pelos cerca de 700 residentes da vila, que preferem assobiar para se comunicar.
Apesar de eles também terem nomes próprios, os assobios, que duram entre 4 e 6 segundos, são os métodos mais utilizados. Mas, diferente de nomes, que podem ser usados em mais de uma pessoa eventualmente, a melodia própria é única e intransferível. Mesmo que o indivíduo morra, sua melodia nunca mais será usada para identificar outro morador. Os sons podem até ser parecidos, porém jamais idênticos.
Entretanto, se o assunto for uma bronca ou briga, o tom é universal. Nesses casos, o nome é usado com aquele jeito que só mães bravas sabem pronunciar. E, aí, é cada um por si!
Origem musical
A origem desse costume, chamado jingrwai lawbei (canção da primeira mulher do clã, em tradução livre), parece vir do folclore indiano. É uma referência ao povo Khasi, que acredita no poder mágico da mãe original.
De acordo com as histórias locais, “se espíritos invisíveis das florestas próximas ouvirem o nome de alguém sendo chamado, isso fará com que a pessoa adoeça”. Na prática, as ondas sonoras de um assobio parecem ecoar mais e mais longe nos campos do que o chamado de um nome. Dessa forma, é mais fácil e prático contactar alguém em longas distâncias.
Não há uma precisão sobre quando a prática iniciou no vilarejo, mas tudo indica que tenha sido com a formação da aldeia, cerca de 5 séculos atrás. No entanto, essa tradição pode estar com os dias contatos. Com a expansão tecnológica alcançando lugares cada vez mais longínquos, o vilarejo também vem se transformando. Os mais jovens já assobiam nomes baseados em músicas de Bollywood, e falar com os amigos via celular tem acontecido com mais frequência.