Se nós, humanos, somos – de longe – as criaturas mais inteligentes do planeta, como é possível que a gente tome tantas decisões erradas? Pior ainda: por que tantos de nós insistimos no erro e nos equivocamos de novo? Pois, de acordo com Nicoletta Lanese, do site Live Science, em vez de buscar respostas na Psicologia apenas, pesquisadores da Universidade de Ciências e Tecnologia da China se voltaram para a Física e a Mecânica Quântica e, por mais estranho que soe, encontraram pistas bastante interessantes.
Teoria Cognitiva Quântica
Pode até parecer que a Física e a Psicologia sejam tão diferentes quanto a água e o vinho. No entanto, ambas áreas ajudam, à sua maneira obviamente, os cientistas a preverem o quão desorganizado um sistema pode se tornar – embora uma seja aplicada ao estudo da natureza das partículas e, a outra, ao estudo da natureza humana.
Dentro da Física, a Mecânica Quântica consiste no ramo que descreve o comportamento das partículas fundamentais que compõem toda a matéria que existe. Assim, enquanto a Física estuda o comportamento do Universo na escala de corpos como galáxias, estrelas, planetas etc., a quântica se dedica a compreender o funcionamento do cosmos na escala de átomos, elétrons, partículas subatômicas e assim por diante, e um de seus pilares consiste no conceito de incerteza que se aplica a esse domínio minúsculo.
Agora, considerando o comportamento humano e o processo de tomada de decisões, não restam dúvidas de que nós, apesar de sermos criaturas inteligentes e complexas, com frequência provamos não ser tão racionais assim na hora de optar por algo e, em vez de decidir pelo óbvio, nem sempre nos portamos como deveríamos, muito menos como esperado.
É aí que entra a chamada “Teoria Cognitiva Quântica”, uma proposta que, ademais de conciliar a Psicologia e a Física, ajuda a explicar os lapsos racionais que os humanos têm – através do mesmo conceito de incerteza da quântica. Em outras palavras, o que os defensores dessa linha de pesquisa defendem é que, para poder prever melhor como se dará o processo de tomada de decisões, os psicólogos podem lançar mão de algumas noções da mecânica quântica.
Casamento entre humanas e exatas
No caso dos pesquisadores chineses, segundo Nicoletta, eles selecionaram um grupo de pessoas e colocaram todas elas para realizar uma variedade de testes psicológicos clássicos em que os participantes precisavam – adivinhe… – tomar decisões e aprender através de seus erros a desenvolver melhores estratégias para situações futuras.
Os cientistas também aplicaram testes baseados em 2 modelos criados a partir dos preceitos quânticos – além de gravar o grupo e monitorar a atividade cerebral de todos os integrantes por meio de ressonâncias magnéticas funcionais. Por fim, o time identificou as regiões do cérebro que se tornavam mais ativas durante o processamento de informações e aprendizado de novas estratégias para os participantes avançarem nos testes.
A análise dos resultados apontou que os modelos quânticos são mais eficientes do que os testes psicológicos na hora de prever quais decisões os participantes tomariam, além de possibilitarem aos cientistas antecipar com maior precisão como o processo de aprendizagem ocorreria. Outro aspecto interessante da pesquisa foi que 40% dos participantes nos experimentos eram fumantes – e, enquanto os cientistas observaram os resultados descritos acima entre os não-fumantes, não foi possível traçar o mesmo paralelo entre atividade cerebral e modelo quântico entre os tabagistas.
E o que isso significa? Considerando que o monitoramento do cérebro foi realizado durante exercícios focados na tomada de decisões e na habilidade de se aprender com os próprios erros, a análise indica que a dependência no cigarro pode gerar deficiências nessas habilidades – mas mais estudos são necessários para explorar melhor essa hipótese.
Além disso, os resultados sugerem fortemente que o princípio de incerteza e a Teoria da Cognição Quântica oferecem modelos mais adequados para prever com maior precisão o comportamento humano associado com o processo de tomada de decisões do que os modelos psicológicos tradicionais – e que duas ciências que parecem completamente opostas podem ter mais em comum do que se pensava.