Prestes a completar 60 anos, a história de vida de Rubens Keniti Nakaya é indissociável da experiência da própria família, imigrantes japoneses que, desde a migração para o Brasil, se dedicaram a fazer o trabalho do campo.
“Meus avós chegaram do Japão e ficaram no município de Promissão, no interior de São Paulo. Ficaram muito tempo ali, mexeram com café. Também começaram a produzir missô, shoyu”. Inicialmente produzido para alimentação própria, para se lembrar da terra natal, o produto começou a chamar a atenção e pedidos de pessoas próximas. “Aí começaram a fabricar. De primeira, artesanal. Depois, industrializaram. Desenvolveram a marca Sakura, em São Paulo, que era do meu tio-avô e dos primos do meu pai. Em Presidente Prudente, fizeram a marca Cereja — meu pai foi um dos fundadores. Com o passar do tempo, foram fundidas as marcas, se tornando a Sakura Cereja, que até hoje é líder de mercado”.
Quando parou de trabalhar com shoyu, Itaru Nakaya, pai de Rubens, passou a se dedicar aos cereais. Foi com a esposa e os cinco filhos para Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em 1965. “Eu sempre quis mexer com com feijão, porque minha infância foi dentro de armazém. Na época em que nós viemos para cá meu pai foi o primeiro cerealista de Campo Grande, e era tudo vendido na conchinha”, lembra Rubens, que hoje utiliza as máquinas e a automação que a tecnologia oferece para ganhar agilidade em todas as partes do processo.
“Quando eu tinha 5 anos de idade, eu pegava travesseiro e carregava falando que ia ser xangueiro (pessoa que descarrega os caminhões). Achava bonito os caras pegarem peso e carregar”.
Com o passar do tempo e o desejo do pai de que os filhos estudassem, Rubens se mudou para São Paulo e estudou Engenharia Civil em Taubaté. Chegou a trabalhar como engenheiro especializado em pavimentação ao voltar para Campo Grande, mas o tino comercial e a vontade de ajudar no negócio da família falou mais alto. “A alegria que eu tinha sempre aqui era trabalhando em família, com meu pai, minha mãe. Até um tempo atrás minha mãe atendia no varejo, sempre junto conosco. Tudo que a gente tem hoje saiu daqui, de muito suor, muito trabalho”. Rubens credita essa ética e perseverença à cultura japonesa. “Eu acho que isso já vem dos nossos antepassados. É uma educação muito rígida, para nunca desistir. Eu vejo que a maior herança que o pai da gente nos dá é o caráter, honestidade, tudo isso”.
Embora esteja em um mercado que considera difícil — “há alguns anos a saca do feijão chegou a atingir R$580 e em uma semana foi pra R$280. Tem que estar sempre atento ao mercado e tem que ter um emocional muito bom” —, Rubens afirma gostar muito do que faz. “O que me alegra é fazer um produto de qualidade para o consumidor. Encontrar várias pessoas que, quando eu falo que embalo o feijão Sakura, dizem “o teu feijão é muito bom”. Estar no dia a dia das pessoas, isso me alegra demais”.
Para além da parceria com produtores, Rubens acredita que o cuidado e as responsabilidades do agronegócio são essenciais para o desenvolvimento e sucesso do Brasil. Pátria que, lá atrás, sua família escolheu para viver. “A gente procurar ajudar em todos os aspectos, porque nós temos que torcer para o nosso país dar certo. É nossa luta, para ter um país melhor, cada vez mais. A gente ama muito esse país”.