Dentro de um círculo de amizades, nem sempre nos damos bem com todas as pessoas. Nessas situações, acabamos nos afastando de quem não se comporta da forma que julgamos agradável, e tudo acaba passando despercebido.
Animais não possuem essa opção, e alguns começaram a alterar seus hábitos para evitar o encontro com pessoas. Contudo, algo que pode parecer natural tem gerado uma série de problemas.
Condicionados a viver na escuridão
Através da análise de 62 espécies de animais em 6 continentes, um grupo de cientistas percebeu alterações nos hábitos para evitar o contato com seres humanos. A principal modificação é a troca do horário em que estão ativos, causando sérios danos pela agressão que isso causa ao seu organismo.
Grande parte dos animais que, longe de seres humanos, dividem de forma e equilibrada o tempo em que se mantêm ativos durante a noite e o dia passaram a priorizar as atividades noturnas quando vivem próximos a nós.
A pesquisa, publicada na revista Science, mostra que não existe diferença entre um caçador e alguém caminhando em uma região de mata que abriga animais — eles se escondem em ambos os casos. Em vez de utilizar o dia para caçar ou coletar alimentos, eles se sentem ameaçados e dormem durante esse período. Como consequência, isso faz com que se exponham a predadores diferentes dos habituais, criando dificuldades para se alimentar durante um período em que não estão acostumados.
Justin Brashares, um dos autores do estudo, emitiu sua opinião ressaltando que “os padrões de atividade animal refletem milhões de anos de adaptação. Por isso, é difícil acreditar que podemos simplesmente espremer seus hábitos para a noite e esperar que eles funcionem e os animais prosperem”.
Alterações na rotina ou no horário em que esses animais saem em busca de alimento são comuns na natureza. O grande problema é que, vivendo próximo a grandes cidades, humanos estão por perto praticamente o dia todo, e isso significa efeitos nocivos em longo prazo.
Segundo a principal autora do estudo, Kaitlyn Gaynor, “as perdas catastróficas em populações de animais selvagens, em decorrência da atividade humana, estão bem documentadas, mas as maneiras mais sutis pelas quais influenciamos o comportamento animal são difíceis de detectar e quantificar”.
Nem tudo está perdido
Ao mesmo tempo que alguns animais sofrem com a presença humana, outros se aproveitam disso para obter proteção ou alimentos. Já foi identificado na natureza um comportamento em que eles optam por se aproximar de humanos para evitar predadores que são mais ariscos à nossa presença.
Por isso, essa nova descoberta é relevante, mas não engloba todos os aspectos envolvidos na questão. A partir desses resultados, novos estudos podem ser realizados para verificar o momento em que a alteração de rotina ocorre e quais espécies são mais prejudicadas com a mudança.
Por mais pontual que possa parecer, esse tipo de influência no habitat natural dos animais faz com que seja necessária uma autocrítica sobre o quanto devemos explorar a natureza e os efeitos disso em um contexto global.