O papel de mãe é um dos mais complexos do mundo. Ser responsável pela vida de outra pessoa em todos os sentidos, sustento, educação, orientação, estabelecimento de valores e princípios não é fácil, principalmente quando se está sozinha, e nesse contexto, muitas vezes as cobranças e culpas podem surgir.
As mães frequentemente têm a sensação de que não estão cumprindo a sua função tão bem. Acreditam que passam muito tempo longe dos filhos, que não compreendem seus sentimentos direito, que não sabem como guiá-los no caminho certo, e mais muitas outras culpas que nem sempre têm razão de existir.
A responsabilidade que as mães têm muitas vezes faz com que se cobrem além do saudável, sempre na tentativa de dar o melhor tratamento e oportunidades de vida aos seus filhos. É preciso existir um equilíbrio saudável, para que as culpas excessivas não comprometam a felicidade dessas mulheres e nem o relacionamento com os filhos e com o restante da família.
O psiquiatra e escritor Içami Tiba fala em um dos seus livros sobre essa culpa que algumas mães sentem injustamente. Leia abaixo um trecho.
“Se eu pudesse aliviar o mundo de um sofrimento, seria o de remover as culpas indevidas que a maioria das mulheres carrega dentro de si, na função de mãe.
Para qualquer problema comportamental apresentado por uma criança ou adolescente, ou até mesmo por alguns adultos, há uma mãe se responsabilizando por ele. Há, sem dúvida, responsabilidades de que as mães não podem se furtar na educação dos filhos, mas uma boa parte da culpa é devida à cultura da época e do local, e pode ser evitada.
Hoje a grande culpa indevida é a que a maioria das mães pensa/sente que está “em falta” com os filhos quando trabalha fora. Essa culpa, que sabota a felicidade familiar, deve-se ao pensamento de que ela deveria se dedicar mais aos filhos.
Algumas mães podem ter a opção de não trabalhar e permanecer mais tempo com os filhos. Mas estes não precisam delas o tempo todo e, se precisarem, é porque já existe uma dinâmica de comportamentos problemáticos: o sufocado produz e sustenta um folgado. Ou seja: embaixo de um sufocado (mãe) tem sempre um ou vários folgados (filhos e às vezes também outros adultos).
Enquanto a mãe não resolver essa equação, ficará cada vez mais sufocada, e os filhos, cada vez mais folgados, malcriados e tiranos.
Essa sufocada mãe vai achar que 24 horas por dia são insuficientes para atender a tantos folgados e… lá vem a culpa indevida! A sufocada vai se sufocando porque quer deixar todos os filhos satisfeitos somente quando aprenderem a cuidar de si e dos seus pertences e ajudar os conviventes necessitados.
Essa prática entra em conflito com outro pensamento: é obrigação da mãe fazer sempre tudo e mais alguma coisa para os filhos.
Quem foi que estabeleceu essa lei? Quem ensinou a mãe a ser sufocada? Vem da época do machismo, quando surgiu a figura da “boa mãe”, que todas as mulheres buscavam e buscam ser, cujo resultado final é perpetuar os filhos no folgado e inadequado machismo.
A boa mãe ensina o filho a fazer o que é capaz e cobra. Cobrança, estabelecimento de limites, responsabilidade que gera liberdade, ética para ser bem tratada, mesmo estando ausente, perde quem não cuida do que tem, prazos existem para serem cumpridos, necessidades têm que ser satisfeitas e vontades, quando puder, são costumes que devem ser adotados em casa, para que a mãe tenha prazer e paz ao voltar para o “lar, doce lar…”
A fala de Içami retrata a realidade vivida por muitas mães, mas que deve ser combatida.
As mães fazem o melhor que podem pelos seus filhos, e sempre serão suficientes para eles. O que não derem conta de fazerem por si mesmas, o universo sempre dará um jeito de ensiná-los.