As crianças têm muita energia para gastar, e muitas vezes as 24 horas do dia parecem não ser suficientes. Quando nós já estamos cansados do dia, elas parecem renovar sua disposição e, se deixarmos, só vão dormir de madrugada.
Nós muitas vezes permitimos que elas fiquem até mais tarde acordadas, afinal “são crianças, e só se vive essa fase uma vez na vida”, mas um rotina de sono desregulada não faz bem para nós (que também desregulamos o nosso) e muito menos para elas, podendo até mesmo contribuir para um maior número de problemas de comportamento.
Uma pesquisa recente conduzida por Yvonne Kelly, John Kelly e Amanda Sacker na University College London que estudou mais de 10.000 crianças mostrou que a falta de uma hora certa para dormir pode interferir no funcionamento do relógio biológico da criança, o que causa problemas em todas as áreas de sua vida, impulsionando brigas com colegas na escola e até mesmo um surto de hiperatividade. As crianças que não possuem uma rotina de sono também estão mais suscetíveis a problemas relacionados ao comportamento e emoções, como a ansiedade.
No artigo, que foi publicado no periódico Pediatrics, os pesquisadores explicam que quando o sono não é saudável (quando a criança dorme em horários diferentes ou dormem menos do que o necessário), o relógio biológico, responsável por regular o funcionamento do corpo é prejudicado, o que faz com que funções como a fome, o humor e os horários de sono sejam afetados.
“Alterar constantemente a quantidade de horas em que você dorme por noite ou então ir para a cama em horários diferentes a cada dia é como bagunçar o seu relógio biológico. Isso impacta a forma como o seu corpo será capaz trabalhar no dia seguinte”, explicou uma das autoras do estudo, Yvonne Kelly, pesquisadora da University College London.
As crianças estudadas eram todas da Grã-Bretanha, com idades entre 3, 5 e 7 anos. Os pesquisadores analisaram hábitos como o horário em que iam para a cama todos os dias ou quantas horas por noite elas dormiam de segunda à sexta-feira. Os pais e professores também participaram, respondendo questionários que tratavam dos comportamentos dessas crianças.
Os resultados da pesquisa mostram que as crianças que não possuíam um horário para ir pra cama eram mais propensas a desenvolver problemas de comportamento ou emocionais (ansiedade, tristeza, irritabilidade, hiperatividade) do as que iam para a cama no mesmo horário, de segunda à sexta.
Alguns resultados sobre a esfera social também foram encontrados. Segundo os pesquisadores, as famílias de baixa renda têm mais crianças com problemas de sono, além dos hábitos tradicionais como ficar muito tempo frente à televisão.
No entanto, nem tudo está perdido, os pesquisadores explicam que, quando a família se esforça e cria em conjunto com profissionais de saúde uma rotina saudável para os filhos, as consequências do sono prejudicial podem ser revertidas.
Por mais que o coração de mãe/pai muitas vezes nos diz para deixarmos eles acordados mais um tempo, precisamos pensar em seu bem-estar e saúde, e seguir uma rotina definida de sono para nossas crianças.