Como diria Deleuze, muitas vezes, somos amados pelo nosso toque de “loucura”. A felicidade não cabe nos padrões, ela transborda!
Enquanto insistirmos em sermos juízes do amor alheio, deixaremos de viver o nosso. Enquanto insistirmos em definir o que é normal, o que é saudável, o que o outro deve fazer ou deixar de fazer, esqueceremos de cultivar os nossos próprios sonhos, a nossa própria vida.
A felicidade não cabe nos padrões. Ela transborda. Quando falo padrões me refiro aos padrões sociais, a esta presença invisível que paira sobre a cabeça de todos dizendo o que devemos fazer, o que é normal sentir, qual tipo de amor tem o direito de acontecer.
Como um juiz implacável ou um rei absolutista, os padrões sociais formulam para todos um único modo de viver. Tudo o que escapa um milímetro da receita estipulada por esta força sem rosto deve ser rechaçado.
Vejo pessoas se depreciando, infelizes, desorientadas, porque não conseguem viver, sentir, pensar e se expressar exatamente como a maioria das pessoas vive e se expressa. Como a maioria das pessoas afirma sentir e pensar.
Mas o que é ser normal? Quem é realmente normal?
E se fosse possível atingir este selo de qualidade da normalidade, será que não seríamos pessoas chatérrimas, com vidas completamente previsíveis e torturantes por excesso de perfeição? Como diria Deleuze, muitas vezes, somos amados pelo nosso toque de “loucura”.
Enquanto insistirmos em defender receitas fechadas, fórmulas moralistas, padronizadas, que desconsideram a subjetividade alheia, iremos reforçar uma sociedade doente, incapaz de vivenciar a alteridade, incapaz de sentir compaixão e respeito. Incapaz de viver o amor. Cegos para o próprio desejo.
Enquanto insistirmos em sermos juízes do amor alheio, deixaremos de viver o nosso. Enquanto insistirmos em definir o que é normal, o que é saudável, o que o outro deve fazer ou deixar de fazer, esqueceremos de cultivar os nossos próprios sonhos, a nossa própria vida.
Não. A felicidade não cabe em padrões. Para algumas pessoas, até pode ser. Por que não?
Algumas pessoas podem realmente se sentir muito bem vivendo de acordo com um rígido script social. Mas me parece que a maioria deseja algo além daquilo que lhes foi ensinado e estipulado. Algo além daquilo que lhes foi permitido, autorizado.
Quanto mais vivermos o nosso próprio desejo com todo o esplendor da sua singularidade, menos nos importaremos com o desejo alheio.
Como se diz, quando apontamos um dedo para o outro, apontamos quatro para nós.