O adiamento das Olimpíadas de Tóquio em meio à emergência do novo coronavírus é mais um teste para a capacidade de superação do povo do Japão. A tarefa de lidar com a pandemia é de todos os países, mas os japoneses terão a missão adicional de organizar a próxima edição do maior evento esportivo do mundo. Felizmente, a nação do sol nascente já deu mostras de resiliência e mobilização coletiva no passado recente, quando teve de encarar o terremoto que devastou a região de Fukushima, em 2011.
Por causa de suas características geológicas, o território japonês é sujeito a tremores de terra frequentes. Mas o Grande Terremoto do Leste do Japão, no dia 11 de março de 2011, foi devastador. Um sismo de magnitude 8,9 na escala Richter teve epicentro na costa leste da Península de Oshika e provocou ondas de tsunamis de mais de 10m de altura. Rodovias e linhas férreas foram destruídas, incêndios foram registrados em várias regiões. A situação ficou mais grave com a explosão de reatores da Central Nuclear de Fukushima, liberando material radioativo.
A cidade de Minamisoma, na província de Fukushima, foi uma das atingidas.
– Liguei para minha família para saber se estavam bem – lembra o triatleta olímpico Nishiuchi Hiroyuki, nascido em Minamisoma, mas que estava em Cingapura no dia do desastre. – Teria sido uma coisa se fosse apenas o terremoto, mas os reatores explodiram e tive que voltar para ajudá-los a evacuarem.
Hiroyuki, 32º colocado no triatlo nas Olimpíadas de Sydney, sentiu na pele o impacto da tragédia. As pessoas num raio de 20km foram obrigadas a sair, para evitar exposição à radiação nociva. O processo de reconstrução foi árduo. Mas, com afinco e espírito coletivo, os japoneses ergueram uma nova vida sobre os escombros.
Cerca de três anos após o terremoto, a prática de esporte voltou a acontecer na região. Os níveis de radiação caíram para patamares toleráveis. Um dos marcos dessa retomada foi a realização da maratona anual de Minamisoma, que o Olympic Channel acompanhou em 2019.
– Eventos esportivos como esse eram tabu em Fukushima após o desastre. Mas depois de um tempo, percebi como o esporte é importante. Quero usar o poder do esporte para revitalizar Fukushima – diz Nishiuchi Hiroyuki, que mantém vivo o sonho de disputar as Olimpíadas de Tóquio.