O que você aí estava (ou está) fazendo aos 14 anos de idade? Eu, por exemplo, estava no meio do ensino médio, caminhando para prestar vestibular para jornalismo. Não é o caso da japonesa Juju Noda, que fez sua estreia com vitória neste fim de semana no automobilismo europeu, na Fórmula 4 Dinamarquesa, em etapa da categoria no Jyllandsringen, na cidade de Silkeborg. O campeonato revelou, por exemplo, Frederik Vesti, de 18 anos, atual campeão da F-Regional Europeia e que correrá pela equipe Prema na FIA F3 em 2020.
Filha de Hideki Noda, ex-piloto que disputou três provas de Fórmula 1 pela equipe Larrousse e de carreira discreta em outras categorias, Juju é considerada um prodígio do automobilismo japonês. Enquanto trilhava boa carreira no kart local, testava monopostos. Aos nove anos, por exemplo, teve seu primeiro contato com um carro da F4. Aos 14, bateu o recorde de Okayama em um teste com 1m32s8, quase um segundo melhor que a antiga marca. Aos 11, estreou em um modelo de F3.
No kart, Juju começou sua carreira em 2010 aos 4 anos vencendo sua primeira prova na categoria iniciante. No ano seguinte, disputou a temporada completa do Kids Kart e foi campeã nos de 30cc e 40cc. Depois conquistou algumas vitórias em outras categorias, mas o foco de sua carreira acabou indo para os monopostos. Toda sua carreira foi pensada pelo pai Hideki, que fundou a Noda Racing Academy em 2012 para cuidar, principalmente, da trajetória de Juju.
Aos 14 anos, Juju Noda estreou com vitória no automobilismo europeu, na F4 Dinamarquesa — Foto: Divulgação
A ideia é fazer um ano de Fórmula 4 na Europa, no campeonato dinamarquês, que não tem tanta fama assim, mas pode servir para uma boa adaptação para a menina às corridas no continente. A ideia é pular para a F3 já em 2021, já que a idade mínima para a categoria é de 15 anos, e entrar no radar da F1. Entretanto, com as mudanças de regras dos últimos anos, a piloto vai ter de mostrar serviço nos próximos anos para conseguir os pontos necessários para a superlicença emitida pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e chegar ao objetivo.
Próximos anos serão prova de fogo
Carro que Juju Noda vai usar na temporada 2020 da Fórmula 4 Dinamarquesa — Foto: Noda Racing
Apesar da laureada carreira no kart japonês e de toda a preparação nos monopostos, o grande desafio para a carreira de Juju Noda deslanchar começa agora. O desafio do automobilismo europeu é enorme. Pelo menos um item ela tem: o aporte financeiro, com uma carreira toda calculada para ela chegar à Fórmula 1 em médio ou longo prazo. Só que, para isso, ela vai ter de mostrar serviço, algo bastante complicado em um ambiente ultracompetitivo como o da Europa.
Por outro lado, a F1 não tem um piloto do Japão desde 2014, quando Kamui Kobayashi correu pela Sauber. Além disso, a maior categoria não tem uma mulher como piloto titular desde Giovanna Amati, pela Brabham, em 1992 – foram apenas cinco na história: além de Amati, as italianas Maria Teresa de Filippis e Lella Lombardi; a sul-africana Desiré Wilson; e a inglesa Divina Galica. Muito pouco para os 70 anos de história da F1, que nunca escondeu o desejo de voltar a ter uma representante feminina no grid – a última frustração foi tentar trazer a americana Danica Patrick, que venceu uma prova na Indy. Ideia morta na origem.
Juju Noda venceu uma prova e marcou uma pole position na estreia na F4 Dinamarquesa — Foto: Noda Racing
Ou seja: acredito que equipes e a própria Fórmula 1 vão começar a acompanhar os passos de Juju Noda. Mesmo que não vingue na maior categoria do automobilismo mundial, é fato que a menina terá chances de alcançar o objetivo. Tomara, porque o esporte precisa de representatividade. Por isso surgiram iniciativas como a da W Series, única categoria de base 100% feminina. Certamente veremos em breve uma mulher chegando de novo à F1. Torço muito por isso.