Se a população de Brumadinho tivesse sido treinada anteriormente para agir em momentos de pânico ou desastres, algumas vidas poderiam ter sido salvas na última sexta-feira (25), quando a barragem da Mina do Feijão se rompeu. Essa é uma constatação de Pedro Dutra, pesquisador na área de defesa civil.
Dutra acredita que é imprescindível que as diversas instâncias governamentais invistam na educação relativa à prevenção contra acidentes e sinistros, especialmente nas escolas. Neste momento, ele trabalha uma adaptação do método japonês Bousai – que mostra como as crianças devem se comportar em casos de terremoto ou tsunami – para a realidade brasileira.
Para ele, ensinamentos sobre como agir em casos extremos, que exigem uma reação rápida e ordenada, podem salvar vidas. No Brasil, além de saber como reagir em casos de rompimentos de barragens, é importante que a população aprenda sobre como se comportar em casos de incêndios, inundações e, até mesmo, em ataques violentos com armas de fogo.
“No massacre de Realengo (quando um atirador matou 12 pessoas, em 2011, no Rio de Janeiro), se os alunos fossem treinados para uma evacuação ordenada, algumas vidas poderiam ter sido poupadas”, afirma o pesquisador.
De acordo com Dutra, o Bousai apresenta ensinamentos que oferecem aos japoneses uma consciência comportamental em casos extremos de pânico. Esse tipo de educação é fundamental em um país que sofre constantemente com fortes terremotos – somente o Grande Terremoto de Tohoku provocou a morte de mais de 15 mil pessoas em 2011.
No Japão, crianças aprendem nas escolas ações simples, como ficar debaixo de mesas no momento do tremor de um terremoto e sair em fila indiana ou em pares, de mãos dadas, nos corredores do edifício. A evacuação ordenada é válida também para o caso de incêndio.
Para Dutra, a educação sobre defesa civil deve ser dada às crianças primordialmente, mas também pode ser aplicada aos adultos, especialmente àqueles que moram em regiões sujeitas a desastres. “A conscientização é importante para uma mudança de uma cultura brasileira de não falar sobre desgraças. É preciso mostrar às pessoas que acidentes e desastres podem acontecer com qualquer um e todos devem estar preparados”.
O pesquisador conversou com cerca de 15 sobreviventes do rompimento da barragem e todos eles disseram nunca terem sido treinados sobre um processo de evacuação. Mesmo após a tragédia em Mariana, há três anos, muitos moradores de cidades onde há barragens de rejeitos ainda não haviam sido orientados sobre como agir em caso de desastre.
Nesta quarta-feira (30), as autoridades afirmaram que 84 corpos foram encontrados, sendo que 51 já foram identificados pelo Instituto Médico Legal (IML). Há 276 pessoas ainda desaparecidas.