Eu estava de férias e iria para o Rio de Janeiro. Já tinha a passagem comprada havia alguns dias, e meu voo saía cedinho de Curitiba, antes das 8h, em um sábado. O fato é que eu comecei a arrumar minha mala às 2h de sábado, menos de 6 horas antes da viagem.
Até agora me pergunto por que permiti que isso acontecesse e por que tenho essa tendência maldita de deixar tudo para a última hora, de contar com o gol nos 45 do segundo tempo. Isso não é de hoje. Declaração do Imposto de Renda? Fiz no último dia do prazo, assumo. Recadastramento biométrico do TRE? Idem.
Para a minha alegria, alguns estudos têm comprovado que procrastinar pode ser um bom sinal – uhu! De acordo com o professor Adam Grant, psicólogo e escritor, esse tempo que “perdemos” ao procrastinar é, na verdade, uma forma de recarregar nosso lado mais criativo – para ele, pessoas criativas são as mais procrastinadoras.
Viva a criatividade!
Já de acordo com a psicóloga britânica Anna Abramowski, pessoas que deixam tudo para o último minuto são autoconfiantes e cheias de autonomia, afinal têm coragem de assumir os riscos de deixar tudo para a última hora, e de maneira consciente ainda por cima. O lado bom disso? De novo, a criatividade: deixar para fazer o gol nos minutos de acréscimo parece dar um empurrão na criatividade e na nossa capacidade de fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo.
Fico aqui lembrando que, de fato, na hora de arrumar a mala para a viagem, eu tive que pensar em mil coisas ao mesmo tempo, pois não havia feito sequer uma lista de itens – e deu tudo certo. Quando percebi que tinha menos de três horas para terminar tudo e dormir – sim, eu ainda quis tirar uma soneca –, simplesmente fiz o que precisava fazer.
Há, ainda, uma pesquisa que afirma que a procrastinação é uma forma de rebeldia e que isso poderia ser, inclusive, um traço geneticamente herdado. A mesma pesquisa defende também a possibilidade de que por trás da procrastinação haja medo do fracasso – ou mesmo do sucesso.
É tudo uma questão de percepção de tempo
Um estudo realizado com 295 pessoas testou, ainda, a noção que temos de tempo, já que estamos condicionados a planejar tudo com base em semestres, estações do ano, horas etc. Basicamente, essas pessoas tinham que abrir uma conta em banco, para dar suporte a uma instituição de caridade. Aquelas que atingissem determinado saldo em seis meses seriam recompensadas ao final do projeto.
O bizarro foi perceber que os que receberam a missão em junho, com a intenção de seguir no programa até dezembro, abriram as contas bancárias rapidamente. Agora quem recebeu a missão em julho, para seguir no programa até janeiro, demorou muito mais para abrir as contas, afinal, inconscientemente, esses participantes tiveram a impressão de que tinham mais tempo pelo simples fato de que estavam pensando em um mês do ano seguinte. Ah, a mente humana… Tão esperta e tão ingênua ao mesmo tempo.
O fato é que, independente de qualquer conclusão, podemos perceber que procrastinar é uma atitude mais do que comum. Se não nos afeta de modo negativo, se não prejudica nosso desempenho no trabalho e nos estudos, se é a sensação de fazer tudo com pressão que nos dá impulso, procrastinemos sem medo. Tem muito cientista por aí ao nosso lado – talvez eles tenham tirado tanta conclusão assim na última hora, mas isso já não vem ao caso.