O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva iniciou sua visita de Estado de quatro dias ao Japão, acompanhado por uma delegação empresarial de 100 pessoas, enquanto as tarifas dos EUA pressionam os países a fortalecer os laços comerciais em outros lugares.
Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro Shigeru Ishiba também devem discutir o desenvolvimento conjunto de biocombustíveis antes da cúpula climática da ONU, COP30, em novembro, na Amazônia brasileira.
Nas negociações de quarta-feira (26), os líderes reafirmarão seu compromisso com o livre comércio após as taxas do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre aço e outras importações.
“Todo mundo que falava em livre comércio agora está praticando protecionismo”, disse Lula, 79, antes de sua partida.
“Acho esse protecionismo absurdo”, disse ele à mídia japonesa.
O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os Estados Unidos, depois do Canadá, embarcando quatro milhões de toneladas do metal em 2024.
Lula e Ishiba provavelmente concordarão com visitas regulares dos líderes e em estabelecer um diálogo estratégico sobre segurança e outros assuntos, informou a mídia japonesa.
A dupla também pode afirmar a importância da ordem internacional baseada em regras, uma frase frequentemente usada para fazer uma crítica velada à política externa chinesa.
Uma cerimônia de boas-vindas a Lula será realizada na terça-feira no Palácio Imperial de Tóquio, seguida de um banquete de Estado naquela noite.
Será a terceira visita de Lula ao Japão, a quarta maior economia do mundo, como presidente do Brasil.
Aumentar as exportações brasileiras para o Japão — de carne bovina a aviões — é um objetivo fundamental de Lula, que na quarta-feira participará de um fórum econômico com o objetivo de criar novas oportunidades.
A China é atualmente o principal parceiro comercial do Brasil, com o Japão logo atrás, como seu 11º maior parceiro global, de acordo com autoridades brasileiras.
O Brasil “aumentou sua dependência comercial da China nos últimos anos”, disse à AFP Karina Calandrin, professora da escola de negócios Ibmec em São Paulo.
Mas desde que assumiu o cargo em janeiro, Trump impôs tarifas que equivalem a um aumento de 20% sobre as remessas chinesas para o exterior, que no ano passado atingiram níveis recordes.
Isso, disse Calandrin, “coloca o Brasil em risco, tornando-o mais vulnerável a qualquer mudança no cenário internacional”.
No entanto, os esforços para diversificar o comércio exterior podem ser difíceis, dada a “dependência estrutural” da potência sul-americana no comércio com a China, disse Roberto Goulart, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília.
Um cenário comercial mais equilibrado para o Brasil na região Ásia-Pacífico é improvável “no curto prazo”, disse ele.
Enquanto isso, Tóquio pode ver laços mais fortes com Brasília como uma forma de impedir que o Brasil forme um relacionamento mais próximo com a China e a Rússia, membros do bloco de economias emergentes BRICS.
O Brasil abriga a maior diáspora japonesa do mundo, um resquício da migração em massa do início do século XX.
No ano passado, o governo Lula emitiu um pedido de desculpas histórico pela perseguição aos imigrantes japoneses durante e após a Segunda Guerra Mundial.
Milhares de pessoas que viviam ao longo da costa de São Paulo foram expulsas de suas terras em 1943, enquanto pelo menos 150 imigrantes japoneses e seus descendentes acabaram encarcerados em uma ilha remota.
Um pedido de desculpas é “o mínimo que podemos fazer para reconhecer nossos erros no passado”, disse Lula à mídia japonesa antes da viagem.
Fonte: 2025 AFP