Um japonês injustamente condenado a pena de morte por assassinato há mais tempo no mundo, recebeu mais de 217 milhões de ienes em indenização.
O pagamento representa 12.500 ienes para cada dia das mais de quatro décadas que Iwao Hakamata passou detido, a maior parte no corredor da morte, quando cada dia poderia ter sido o último.
O ex-boxeador, agora com 89 anos, foi inocentado no ano passado de um homicídio quádruplo em 1966, após uma campanha incansável de sua irmã e outros.
O caso gerou questionamentos sobre o sistema de justiça no Japão, onde obter um novo julgamento é notoriamente difícil e os condenados à morte são frequentemente informados de sua morte iminente poucas horas antes de serem enforcados.
O Tribunal Distrital de Shizuoka, em uma decisão datada de segunda-feira (17), informa que “o reclamante receberá 217.362.500 ienes”.
O mesmo tribunal decidiu em setembro que Hakamata não era culpado em um novo julgamento e que a polícia havia adulterado evidências.
Hakamata sofreu “interrogatórios desumanos com o objetivo de forçar uma declaração (confissão)” que ele posteriormente retirou, disse o tribunal na época.
A equipe jurídica de Hakamata disse que o dinheiro não é suficiente para compensar a dor que ele sofreu entre sua prisão em 1966 e sua libertação em 2014, quando lhe foi concedido um novo julgamento.
“Acho que o fato de ele receber isso… o compensa um pouco por todas as dificuldades”, disse o advogado Hideyo Ogawa em uma entrevista coletiva.
“Mas, à luz das dificuldades e do sofrimento dos últimos 47 ou 48 anos, e dada a sua situação atual, acho que isso mostra que o estado cometeu erros que não podem ser reparados com 200 milhões de ienes”, disse ele.
Décadas de detenção — com a ameaça constante de execução — afetaram muito a saúde mental de Hakamata, disseram seus advogados, descrevendo-o como alguém que “vive em um mundo de fantasia”.
Hakamata foi condenado por roubar e matar seu chefe, a esposa do homem e seus dois filhos adolescentes.
Inicialmente, ele negou as acusações, mas a polícia disse que Hakamata eventualmente confessou. Durante seu julgamento, Hakamada alegou inocência, dizendo que sua confissão foi forçada.
Mais de um ano após os assassinatos, os investigadores disseram ter encontrado roupas manchadas de sangue — uma evidência essencial que o tribunal posteriormente disse ter sido plantada pelos investigadores.
Hakamata agora mora com sua irmã com a ajuda de apoiadores.
Hakamata foi o quinto condenado à morte a quem foi concedido um novo julgamento na história do pós-guerra do Japão. Todos os quatro casos anteriores também resultaram em exonerações.
O Japão é a única grande democracia industrializada, além dos Estados Unidos, a manter a pena de morte, uma política que conta com amplo apoio público.
O ministro da Justiça do Japão disse em outubro que abolir a pena de morte seria “inapropriado”, mesmo após a absolvição de Hakamata.
Fonte: AFP