A prioridade dos assentos em transportes públicos no Japão
Nos transportes públicos do Japão, assim como no Brasil, existem assentos designados à pessoas com características especificas tais como idosos, gestantes, deficientes ou pessoas com crianças de colo. No entanto, se você mora no país um bom tempo, deve ter notado que é comum ver esses assentos ocupados por pessoas que não se enquadram nas características descritas acima.
E outra coisa que incomoda é ver que as pessoas raramente cedem seus assentos quando se deparam com alguém que realmente necessita dele. Claro que isso não é uma regra, mas já me deparei com muitas situações desse tipo. E daí nos perguntamos, como que isso pode acontecer no Japão, um país que é conhecido mundialmente por sua extrema educação e respeito ao próximo?
Mostrar respeito e dar prioridade para os idosos por exemplo, é visto em qualquer país como uma atitude educada e primorosa e esta prática com certeza deve ser incentivada por toda a sociedade, especialmente os jovens. Porém no Japão, percebemos que esta questão vai mais além do que se refere à educação em si. Na verdade, esta questão é fruto do comportamento social japonês.
O Japão é conhecido por ter a maior longevidade do mundo. Mesmo depois de aposentar-se, a maioria dos idosos continuam trabalhando e são ativos na comunidade onde moram. Sendo assim, alguns podem até ficar ofendidos quando alguém, por gentileza lhes oferece um assento em trem lotado, por exemplo. Apesar da idade, muitos acreditam que não precisam desse tipo de “regalia”.
Pode ser interpretado como orgulho talvez, mas nem todos levam na boa esse tipo de gentileza. Seria como lembrá-los de que eles estão ficando “velhos”. Além disso, os japoneses no geral tem uma preocupação constante de não causar nenhum tipo de incômodo aos que estão ao seu redor.
Portanto, mesmo que você tenha boa vontade em ceder o seu assento, isso não significa que a pessoa irá aceitar sua gentileza de bom grado. No entanto, não se sinta ofendido. Procure entender o outro lado da moeda. Como o Japão é uma nação onde os idosos fazem de um número crescente, muitos idosos preferem não ter um tratamento diferenciado dos demais. Pelo menos foi essa a resposta que uma senhora japonesa me deu quando a indaguei tempos atrás sobre esse assunto.
Apesar desse tipo de mentalidade e da preocupação que os japoneses no geral tem de não incomodar os outros, isso não deve ser um empecilho para as pessoas não serem gentis.
Independente se está sentado em um assento prioritário ou não, se alguém próximo necessitar desse assento mais do que você, nem pense duas vezes. Levante-se e ofereça o lugar para a pessoa sentar-se. Isso é o mínimo a ser feito!
A pessoa com certeza irá recusar no início, mas diante da sua insistência vai acabar aceitando sua gentileza e ficará muito grata por isso. Claro que uma recusa não está descartada.
Mas se isso acontecer, não se sinta constrangido. Você fez a sua parte e sua consciência está tranquila!
Assentos Prioritários: Sentar ou não sentar?
Quanto a sentar em assentos prioritários, sempre é bom não faze-lo, mas se o trem estiver lotado e caso não haja por perto nenhuma pessoa que realmente necessite, não há problemas em utilizar esses assentos. Você não receberá uma reprimenda e nem será multado por conta disso.
Um fato curioso é que em Tóquio, os “assentos prioritários” são chamados de “Yuusenseki” (優先席). Já em Sapporo, província de Hokkaido, os assentos levam outro nome: “Senyouseki”(専用席), cujo significado é “assentos de uso exclusivo”. Não se sabe se é por este motivo, mas raramente se vê pessoas utilizando-os, exceto se for alguém realmente designado a utilzar esses assentos.
Pelo menos é o que nos mostra a foto acima, tirada por um usuário do Twitter chamado Robot Nozomi, durante um passeio de trem em Sapporo. Por mais que o trem estivesse lotado e muitas pessoas estivessem em pé, ninguém se aproveitou da ocasião para sentar-se nos bancos prioritários.
É possível que o encarregado de escolher usar o termo “senyouseki” (専用席) nem sequer cogitou que com isso estaria dando uma conotação mais rigorosa, mas o fato é que funcionou pois incutiu na mente das pessoas que aquele assento é de uso exclusivo à idosos, gestantes, deficientes ou pessoas com crianças pequenas e qualquer um que não esteja incluído nesse grupo, não deve utiliza-lo.
Bom, não importa os termos linguísticos. Ficar em pé em um trem lotado por 30, 40 minutos não é agradável pra ninguém mas para uma pessoa idosa, deficiente físico ou gestante, é muito mais complicado e até doloroso. O importante é que todos tenham a consciência de ajudar o próximo. É o mínimo que podemos fazer para melhorar a nossa convivência com as pessoas à nossa volta.
Fonte: Japão em Foco