Não queria te dar uma notícia ruim, mas ei, se você gosta de comida japonesa, saiba que, provavelmente, está fazendo tudo errado. Desculpe, mas se você costuma molhar o sushi com bastante shoyu, gosta de temakis gigantes e come o missoshiro como entrada, você está estragando a experiência real da comida japonesa.
Ninguém aqui está falando sobre regras de etiqueta, mas sobre como aproveitar do alimento em sua melhor forma, respeitando a delicadeza do prato e podendo sentir as texturas e a intensidade. Tudo isso exige alguns conhecimentos para que cada ingrediente possa ser percebido. “A qualidade que era pra pessoa estar degustando aquele sushi, se perde se você, por exemplo, exagera no shoyu”, ensina o chef George Koshoji, que comanda o Kosushi, em São Paulo, e que conquistou – e vem mantendo há três anos – uma estrela no conceituado Guia Michelin, seleção dos melhores restaurantes do mundo.
Pode parecer besteira ou preciosismo, mas seguindo alguns padrões, a comida japonesa pode ficar ainda mais gostosa – sim, isso é possível! Só queremos que você curta ainda mais o que está comendo!
Bom, descanse o hashi aí do lado e vamos conversar um pouco.
Erro 1: só gostar de rodízios
Rodízios são sim gostosos e a fartura é um atrativo, sabemos bem. Mas como você deve imaginar, o caráter fast food deste tipo de restaurante faz com que a qualidade da comida não seja primorosa e muitas invenções apareçam na sua mesa. Sim, os chefs e sushimans mais tradicionais desaprovam o uso de chocolate, frutas e até salgadinhos, mas relevam o uso de maionese, usado até no Japão, e cream cheese, influência americana, que foram bem aceitas pelo paladar brasileiro. “A qualidade dos materiais e dos fornecedores utilizados também são diferentes. Por isso que o rodízio fica mais barato do que o à la carte. Mas sushi tem a ver com simplicidade também”, indica o chef.
Acerte: Teste os menus do dia, estilo kaiseki (seleção mais formal de pequenos pratos do dia) ou os pedidos omakase, em que o sushiman monta pra você a combinação com o que tem de fresco no dia. Geralmente são servidos de 7 a 10 peças. Pode ser menor do que o barcão do rodízio, mas o sabor vai te surpreender!
Erro 2: tomar o missoshiro como sopinha de entrada
Diferente dos restaurantes ocidentais, onde o caldo é geralmente consumido como entrada, a sopa de missô é perfeita para encerrar a refeição.
Acerte: Peça o seu apenas no fim, porque ele é pra ser consumido quentinho mesmo. E fica a dica: “A sopa de missô é ótima pra curar uma ressaca no dia seguinte da bebedeira, viu?”, aconselha George. Anotadíssimo!
Erro 3: comer gengibre com a entrada de pepino, em cima do peixe ou só no final
O sunomono, a conserva de pepino, é a entrada. O gengibre tem função de limpar o paladar entre os pratos, por isso não tem finalidade comê-lo antes ou apenas no final. “Por ser ácido, o gengibre – ou gari- também aguça o paladar”, ensina o chef.
Acerte: Deixe ele no cantinho e vá comendo aos poucos, entre um sushi e outro. Isso faz com que o peixe ou ingrediente seguinte seja degustado corretamente.
Erro 4: demorar para comer o temaki
Se você pedir um sushi que venha com alga, melhor consumí-lo assim que chegar a mesa. Conversa vai, papo vem, e a comida fica ali parada, grandes chances do peixe ressecar por causa do ar condicionado e da alga umedecer por conta do contato com o arroz. Sem crocância e com peixe seco, o sushi perde metade da graça.
Acerte: Menos papo, mais comida! “Até mesmo o tempo que vem do sushibar para a mesa precisa ser certinho para que a qualidade não se perca. Comer no balcão é outro sabor!”, ensina o chef, que tem 30 anos de experiência com comida japonesa. Fica a dica para pedir menos delivery!
Erro 5: temakis gigantes não são bacanas. Infelizmente!
Desculpa quebrar o seu , mas aquele temakão despencando recheio pra fora, não é a mellhor forma de comer este tipo de sushi. É que o peixe e o arroz podem amolecer a alga.
Acerte: “O temaki deve ter um tamanho que possa ser consumido em 3 bocadas. Dessa maneira, a alga permanece crocante e perfeita”, ensina George. “Você também precisa sentir todos os ingredientes na mesma mordida”.
Erro 6: lotar o potinho de shoyu
Você é do tipo que mal sentou e já está lotando o potinho de shoyu, antes mesmo da comida chegar? Primeiro, segura essa ansiedade! Já reparou como você sempre volta com sede do restaurante japonês? É que você está exagerando no sódio, amiga.
Acerte: “Uma quantidade do tamanho de uma moeda ou de uma colher de chá, já é o suficiente pro jantar inteiro”, explica o chef. E isso nos leva ao próximo erro…
Erro 7: mergulhar o arroz do sushi no shoyu e deixá-lo encharcado
Se você mergulhar o arroz virado pra baixo no molho de soja, ele ficará tão encharcado e empapado, que quebrará todo. Além do mais, isso altera a percepção do gosto real do peixe.
Acerte: Molhe apenas a pontinha do peixe no shoyu e coma em uma bocada só. O certo também é que o peixe entre primeiro em contato com a língua para uma melhor experiência do sabor do pescado. E lembre-se: os sushis que já vem pincelados com molhos em cima não precisam do shoyu.
Erro 8: misturar o wasabi no shoyu e fazer um “molhinho”
Você ama a ardência do wasabi, certo? Sem problemas, mas não misture no shoyu. Para que ele seja sentido em toda sua potência, mas sem mascarar o gosto do peixe ou fruto do mar, é o sushiman que passa o wasabi entre o arroz e o peixe.
Acerte: Se ainda assim, você gostar de mais picante, passe uma camada extra – com o dedo – em cima do peixe. O wasabi também tem uma função importante, já que por ter propriedades antibacterianas, ajuda a prevenir a infecção alimentar. E fica a dica: se um dia você for no Japão, saiba que o wasabi usado lá é ralado direto do caule. Aqui no Brasil, não há importação da planta e todos os restaurantes usam a versão em pó (misturado com água) ou em pasta.
Erro 9: segurar o sushi com o peixe virado pra cima
Sim, o sushi tradicional vem com o peixe em cima do arroz. Mas se você molhar no shoyu nesta posição, você comete o pecadinho que já citamos de encharcar o bolinho.
Acerte: o jeito correto é tombar o niguiri de ladinho, segurá-lo com o hashi e molhar apenas o peixe como já explicamos. Todo ingrediente que não estiver temperado deve ser consumido desta maneira, como polvo, camarão e ovas de peixe, por exemplo.
Erro 10: ir mordendo o sushi aos pouquinhos
Não é nem preciso explicar muito: você vai morder e ele vai desmontar. Simples assim.
Acerte: os sushimans mais experientes costumam fazer a peça do sushi ou do sashimi no tamanho exato de uma mordida. “Existe um termo em japonês pra isso: hitokuchi (uma bocada). O sushi tem que entrar na boca e ter o tamanho perfeito pra você mastigar e desmanchar”, explica o chef.
Erro 11: achar feio comer com a mão
Você sabia que não é falta de educação comer com as mãos no restaurante japonês? “Com o hashi ou com as mãos, tanto faz. É por isso que os restaurantes disponibilizam aquela toalhinha quente para que os clientes limpem as mãos antes e após a comida”, conta o chef.
Acerte: pegue o sushi com os dedos, coloque no shoyu e coma. Não tem segredo. Depois é só lavar as mãos ou limpar com as toalhinhas. Já o sashimi pede o uso do hashi, tá?
Erro 12: achar que apenas sakê harmoniza com a comida japonesa
Ok, por um lado você está certa: o saquê realmente cai muito bem com o sushi e o sashimi, claro. No entanto, os restaurantes mais modernos já oferecem uma carta de drinques e vinhos que também ressaltam o sabor do sushi.
Acerte: No Kosushi, o mixologista Márcio Silva criou uma seleção de drinques com ingredientes como gengibre e umê (conserva de ameixa japonesa), que combinam muito com o menu japonês. Vinho branco, que todo mundo sabe que vai bem com peixe, e até vinho tinto- SIM!- também fazem parte do que o bartender oferece como harmonização perfeita.