No dia 13 de julho de 2016, o Imperador Akihito anunciou sua intenção de renunciar (ou abdicar) ao trono por questões de saúde. A data escolhida foi 30 de abril de 2019 para marcar os 30 anos do reinado do Imperador Akihito e consequentemente da Era Heisei.
Ele será substituído pelo filho mais velho, o príncipe Naruhito no dia 1° de maio de 2019, dando início a uma nova Era Imperial. O nome para a nova era imperial será Reiwa (令和). Abaixo, confira algumas curiosidades sobre a nova Era que se inicia no Japão.
1. Lei criada para a abdicação de Akihito
No dia 9 de junho de 2017, o parlamento japonês aprovou uma lei permitindo que o Imperador Akihito, o 125° na linha de sucessão, se torne o primeiro monarca do país a abdicar do trono em 200 anos. Em agosto do ano anterior, o Imperador de 85 anos havia manifestado o desejo de renunciar ao Trono do Crisântemo, citando sua saúde frágil e idade avançada.
A lei de abdicação vale apenas para Akihito e expira em três anos, para evitar expor futuros monarcas ao risco de uma abdicação forçada oriunda de manipulação política.
2. Primeira sucessão de um imperador vivo
Esta será a primeira sucessão de um imperador vivo em cerca de 200 anos no Japão. Nobuo Ishihara, que serviu como vice-secretário de gabinete quando o nome da era japonesa foi mudado de Showa para Heisei em 1989, relembra como foi o procedimento na época.
“Desta vez, a sucessão imperial está marcada para ocorrer enquanto o Imperador estiver vivo, para que possamos realizar discussões de uma maneira muito aberta”, disse Ishihara, salientando a necessidade de garantir a transparência nos debates sobre o novo nome da era, e cerimônias e outros eventos relacionados com a entrega do trono.
Quando o Imperador Hirohito, pai do Imperador Akihito e postumamente chamado de Imperador Showa, foi diagnosticado com um câncer, o governo japonês começou secretamente, cerca de um ano antes da sua morte, os preparativos para seu funeral e cerimônias de entronização para o imperador Akihito, bem como um trabalho para decidir o nome da próxima Era.
“Não conseguimos dizer (abertamente) que ‘estávamos fazendo preparativos para o funeral do imperador Hirohito’ enquanto ele ainda lutava contra sua doença”, lembrou Ishihara. “No entanto, essa consideração foi desnecessária desta vez”, disse ele.
Isso facilita a vida dos fabricantes de calendário pois permite que tudo seja planejado com antecedência. Setores da administração pública que utilizam documentos que mencionam a era, juntamente com o calendário gregoriano, também terão tempo para se organizar.
2. Regras para a criação do nome da nova Era
A prática da utilização das “eras (“gengo”, em japonês) tem suas origens na China antiga, mas continua em vigor no Japão, segundo historiadores. O país conheceu quase 250 eras, muito mais do que o número de imperadores, porque era costume mudar os nomes para marcar um novo começo e renovação após desastres naturais ou outros eventos importantes.
A escolha do nome das eras é feita de acordo com um processo rigoroso que não depende da Casa Imperial, mas do governo sob a constituição do pós-guerra na qual o imperador foi destituído do poder político. O termo selecionado deve ser novo, refletindo os ideais da nação.
Heisei (平成), significa por exemplo, “alcançar a paz” ou “cumprimento da paz” e foi o primeiro nome de Era decidido pelo governo japonês no pós-guerra. A escolha do novo nome deve obrigatoriamente obedecer algumas regras: deve ser composto de dois ideogramas, ser fácil de escrever e ler, além de evitar nomes comuns de pessoas, empresas ou lugares.
3. Reiwa significa “Bela Harmonia”
“Reiwa é melhor interpretado como ‘bela harmonia’”, disse Masaru Sato, vice-cônsul geral e diretor do Centro de Informações do Japão, em Nova York. “Reiwa se refere à beleza das flores de ameixa depois de um inverno rigoroso, e é tomado como significando a beleza das pessoas quando elas unem seus corações para cultivar uma cultura.”
No entanto, alguns especialistas disseram que o primeiro caractere “Rei”, hoje é mais amplamente pensado para dizer “ordem”, “comando” e “ditar”, com um tom autoritário. “O nome soa como se tivéssemos ordens para alcançar a paz, ao invés de fazê-lo de forma proativa”, disse Kazuto Hongo, historiador da Universidade de Tóquio, na TV Asahi.
4. Inspirado na literatura clássica japonesa
Os dois kanjis usados para Reiwa vieram da introdução de um conjunto de 32 poemas oriundas do século 7, com temas de flores incluídos em “Manyoshu”, a mais antiga antologia de poemas waka existente no Japão. O nome da era será um símbolo do amor à cultura do povo japonês e da natureza rica do país, disse o Primeiro Ministro Shinzo Abe.
“O nome da nova era se baseia em um texto sobre a natureza, que é diferente dos nomes da era anterior”, disse ele, apontando que pessoas de uma variedade de classes sociais – que vão desde imperadores, guerreiros e fazendeiros – todos contribuíram com poemas para o livro.
Abe disse que o nome significa que a cultura nasce e cresce quando as pessoas se reúnem e “cuidam umas das outras lindamente”. “Com essa seleção de um novo nome, renovei meu compromisso de ser pioneiro em uma nova era que será cheia de esperança”, disse Abe.
5. Rivalidade com a China
Um crescente sentimento de rivalidade com a China aparentemente levou Abe e outros membros do gabinete a se distanciarem da literatura chinesa, que há muito tempo é a fonte tradicional quando se trata de escolher um novo nome. Mas, ironicamente, a passagem que inspirou o novo nome foi aparentemente influenciada por um poema clássico chinês.
Membros do gabinete “compartilharam o sentimento” de que o nome da nova era deveria ser escolhido a partir de um livro clássico japonês, não chinês. “O Japão esteve por muito tempo sob a influência chinesa e desfrutou de grandes benefícios”, disse Iwaya em uma entrevista coletiva. “Mas o Japão cultiva sua própria cultura única há milhares de anos.”
“Então foi muito significativo que os caracteres fossem escolhidos de um livro japonês dessa vez ”, disse ele. “Ter seu próprio gengō era um símbolo da independência de um estado. Há mais de 1.300 anos, a escolha do nome impirava-se em clássicos da literatura chinesa.
No entanto, a introdução em questão foi escrita apenas com gramática chinesa e caracteres chineses, baseada em um poema clássico chinês de Zhang Heng (78-139) amplamente lido por intelectuais japoneses na época. A sentença da introdução em questão diz: “Em um mês auspicioso (rei) do início da primavera, os ventos sopram de maneira pacífica (wa)”.
Para Kenji Yamazaki, professor de literatura japonesa na Universidade Meiji, em Tóquio, é difícil encontrar algo que seja puramente japonês, dada a natureza híbrida do sistema de escrita japonês. Já para Asao Kure, da Universidade Kyoto Sangyo, as pessoas não deveriam se concentrar muito nos significados associados a um kanji que constitui o gengō.
“Eu sinto que o novo gengo está alinhado com as formas modernas de pensar, na medida em que se concentra mais em relações harmoniosas entre os indivíduos para criar uma sociedade diversificada, ao invés de propor um princípio específico”, disse Kure.
6. O Japão teve 247 nomes de Era
O Japão teve 247 nomes de era desde que instituiu o sistema sob o Imperador Kōtoku em 645. Desde a era Meiji (1868 a 1912), houve uma era para cada imperador. Mas antigamente, era comum o nome mudar várias vezes durante um reinado imperial, especialmente após um evento desfavorável como uma guerra, terremoto, epidemia ou grande incêndio.
Os caracteres nos 247 nomes somam um total de 504. No entanto alguns ideogramas específicos se repetiram ao longo dos reinados, resultando em apenas 72 diferentes caracteres usados. Os cinco primeiros aparecem em quase metade de todos os nomes de época, presumivelmente por causa de suas associações particularmente felizes.
Por exemplo, o caractere mais comumente usado 永 (ei/nagai) significa “eterno” ou “muito longo”, enquanto 天(ten / ama), que significa “céu”, carrega conotações de santidade e reverência. O terceiro kanji mais frequente, 元 (gen / moto), indica um “começo”, e o quarto, 治 (chi / osameru), está associado a um governo bem regido e ordenado.
Aliás, em Heisei (平成), o ideograma 平 (paz) foi usado pela décima segunda vez, mas 成 (tornar-se) fez sua primeira aparição. Na era Shōwa (昭和) (1926-1989), 和 (Japão / harmonia) foi incluído pela décima nona vez, enquanto 昭 (brilhante) aparecia pela primeira vez.
7. Nome foi aprovado por quase 74% do público
Muitas pessoas no Japão receberam o nome da próxima geração do país, Reiwa, com aplausos e esperanças de paz. Em uma pesquisa conduzida pela Kyodo News após o anúncio do novo nome foi constatado que 73,7% gostaram do nome, enquanto 15,7% não gostaram.
Quase 85%, entretanto, viram a escolha do governo de um nome tirado de um clássico japonês, em vez de chinês, como positivo. A pesquisa também mostrou que a taxa de apoio para o gabinete do primeiro-ministro Shinzo Abe subiu 9,5 pontos percentuais: De 43,3% para 52,8% sendo que a pesquisa anterior foi realizada em março.
8. Gengo, um calendário ainda muito utilizado no Japão
Enquanto um número crescente de japoneses prefere o calendário ocidental ao sistema japonês em uma sociedade altamente digitalizada e globalizada, o Gengo ainda é amplamente usado em documentos governamentais e pelos mais velhos para identificar suas gerações.
Mudança de nome de era também permite para muitos japoneses refletirem sobre a situação atual do país. A era de Heisei, por exemplo, que significa “alcançar a paz”, foi a primeira sem uma guerra na história moderna do Japão, mas também é lembrada como os anos em que o país atravessou por uma grande deflação econômica e desastres naturais.
A Eras muitas vezes soam como um marco na vida dos japoneses. Por exemplo, em vez do ano é mais fácil lembrar que a bolha econômica estourou no início da era Heisei. 2018 será lembrado como o “último Heisei” enquanto outros aguardam a nova Era começar para fins burocráticos como enviar certidões de casamento ou arquivar outras inscrições oficiais.
Além disso, “os japoneses adoram começar do zero – uma nova era, um novo estado de espírito”, diz Junzo Matoba, funcionário do governo da Era Showa. Já para o Secretário Chefe do Gabinete Yoshihide Suga, espera-se que a Era Reiwa seja amplamente aceito pelo povo e profundamente enraizado como parte de suas vidas diárias.
9. Expansão dos feriados da Golden Week
A lei japonesa estipula que um dia de trabalho entre feriados nacionais se torna automaticamente feriado. 29 de abril e 3 a 6 de maio já são designados como feriados nacionais e públicos. Como o 1° de maio sera designado como feriado nacional, 30 de abril e 2 de maio se tornarão feriados também, resultando em um raro período de férias de 10 dias.
Esse conjunto de feriados que em 2019 começa a partir de 27 de abril (sábado) até 6 de maio (segunda-feira) chama-se “Golden Week” (Semana Dourada). A expansão dos feriados da Golden Week poderá estimular o turismo e outros gastos recreativos.
O Japão também vai considerar feriado nacional o dia 22 de outubro de 2019, data em que o novo imperador fará a declaração de posse do trono do Crisântemo. Outra novidade é que este ano (2019) será o primeiro a não comemorar o aniversário de nenhum imperador, desde que a lei que regulamenta os feriados entrou em vigor em 1948.
A partir de 2020, o dia 23 de fevereiro, aniversário do príncipe Naruhito, deverá substituir a data de 23 de dezembro que foi feriado até 2018 em virtude do aniversário do Imperador Akihito.
10. Akishino, próximo sucessor ao Trono
O Primeiro-Ministro Shinzo Abe declarou que um ritual será realizado em 19 de abril de 2020 para promover o príncipe Akishino, irmão de Naruhito. Akishino, de 53 anos, filho mais novo do atual imperador Akihito e da imperatriz Michiko, será o primeiro na fila do trono.
A Lei da Casa Imperial estipula que apenas os homens podem ascender ao trono na mais antiga monarquia hereditária do mundo. O príncipe herdeiro Naruhito e a princesa herdeira Masako têm uma filha, a princesa Aiko, de 17 anos.
O ritual de Rikkoshi no Rei para o príncipe Akishino será realizado pela primeira vez para notificar o público que o príncipe se tornou koshi, o título criado para o irmão mais novo, em vez do filho, de um novo imperador que se torna o primeiro na linha do Trono do Crisântemo.
Fonte: Japão em Foco