Enquanto que o número de crianças adotadas é razoavelmente pequeno, a adoção de adultos é muito alta. Cerca de 90% de todas as adoções no Japão são de adultos, em sua maioria homens entre 20 e 30 anos. Essa prática, chamada de Mukoyōshi (婿養子), além de ser exclusivo do Japão, é considerado super natural pelos nipônicos.
Só para se ter uma ideia, o Japão tem a segunda maior taxa de adoção do mundo, com estatísticas que giram em torno de 80.000 por ano. Por mais estranho que isso possa parecer, esse tipo de adoção ocorre há séculos, mais precisamente desde o Período Tokugawa (1603-1867). Mas quais as razões por trás dessa prática?
A principal razão seria “Business” e envolve especialmente grandes empresas japonesas. O objetivo é garantir herdeiros que assumam o cargo da empresa no caso de falta de herdeiros de sangue ou então quando o pai não quer que nenhum de seus filhos assumam cargos de presidência por não confiar o suficiente neles.
A adoção de jovens adultos promissores e talentosos se tornou um recurso muito utilizado para esses casos. E não são poucos não… Empresas multinacionais como a Suzuki, Suntory, Toyota, Canon, Kikkoman e Matsui Securities são apenas alguns exemplos que encabeçam a lista de presidentes que foram adotados.
Muitos empresários no Japão, preferem adotar um adulto sem laços de sangue a entregar o comando de suas empresas a filhos que acreditam não ter competência suficiente para tal. Segundo especialistas do mercado empresarial, este tem sido o segredo do sucesso de empresas japonesas ao longo das ultimas décadas.
Quando comparado o desempenho de herdeiros de sangue com herdeiros adotados, esse último normalmente se sobressai na gestão da empresa. O herdeiros de sangue quando assumem cargos na empresa sabem que estão sendo testados e caso não mostrem talento suficiente para os negócios, correm o risco de serem substituídos por um adotado.
Quando a adoção é concretizada, o jovem renuncia ao seu sobrenome e passa a usar o sobrenome da família que o adotou. Outra coisa bastante comum nesse tipo de “adoção” é o famoso “omiai”, ou seja casamento arranjado entre o adotado e a filha de seu pai adotivo, o que faria dele filho e genro simultaneamente.
Claro que a filha em questão não é obrigada a casar-se com o adotado, mas deve sempre rolar uma certa pressão para que o casamento aconteça com o objetivo de firmar ainda mais a relação com o filho adotado. Se não há filhas, o herdeiro adotado pode se casar com outra pessoa que não seja da família (Fufu-Yoshi).
Há poucos casos assim, mas caso o escolhido para ser adotado já for casado, os dois acabam sendo adotados como filhos. Os principais alvos para se tornarem filhos adotivos de grandes empresários são rapazes inteligentes e com talento para os negócios, que estudam em universidades conceituadas como a de Tóquio.
Quem também sai no lucro são as agências de casamentos especializadas em casamentos de jovens ambiciosos com filhas de grandes empresários. A Consultoria de Casamentos Ms Date’s conta que já intermediou 600 desses casamentos ao longo de uma década e comemora por não ter ocorrido nenhum divórcio até agora.
Exemplos de Adultos Adotados
Para você entender como funciona, olha esse exemplo: Osamu Suzuki de 81 anos é o atual presidente da Suzuki e é o quarto filho adotado seguidamente. Antes dele, outros três presidentes também eram adotados. O próximo seria o quinto adotado, já que Osamu Suzuki também “providenciou” um filho adotivo, o Hirotaka Ono.
Ono havia sido escolhido para ser seu herdeiro e administrar a empresa, ao invés de seu filho biológico, Toshihiro Suzuki. Pra isso, até casou-se com a filha mais velha de Osamu Suzuki, assim como o próprio havia feito na geração anterior. Porém, em 2007 Ono morreu em virtude de um câncer no pâncreas.
Esse fato fez com que Osamu retornasse à empresa como presidente. Em abril de 2011, Osamu tinha criado um conselho de quatro pessoas para ajudar a administrar a empresa, liderada por seu próprio filho biológico, Toshihiro Suzuki, que hoje atua como vice presidente da empresa e pode futuramente vir a ser presidente.
Se isto acontecer, será o primeiro descendente consanguíneo a liderar a empresa após 4 gerações. Mas ainda é cedo para afirmar se tal fato acontecerá, pois ao que parece os grandes empresários japoneses tem uma certa preferência em escolher pessoas que não sejam do mesmo sangue para continuar os negócios.
Só sei de uma coisa: Esta pode ser uma das razões por algumas empresas japonesas estarem com a mesma família mesmo após tantas gerações, como esse hotel. Com certeza, deve haver casos de adoção pois caso contrário impossibilitaria muitas empresas de pertencer tradicionalmente a uma única família.
Está aí mais uma curiosidade a respeito da Terra do Sol Nascente pra vocês … espero que tenham gostado. Se puderem, deixem a opinião de vocês sobre o Mukoyoushi, uma prática no mínimo incomum para nós ocidentais.
Fonte: Japão em Foco