Como que crianças inseridas no mesmo ambiente de criação e com a mesma origem genética desenvolvem tantas diferenças entre si? Alfred Adler, um psicoterapeuta austríaco do final do século XIX e início do século XX, questionou-se sobre isso durante anos. Para ele, a raiz de toda a diferença entre irmãos (no contexto acima) estava na ordem de nascimento.
Alguns estudos confirmaram sua teoria. Uma pesquisa de 1968 demonstrou que os “temporões” eram menos propensos a encarar esportes perigosos devido ao medo de lesões físicas. Outra pesquisa, agora dos anos 80, analisou 170 mulheres e 142 homens utilizando o método Howarth Personality Questionnaire. Os resultados, por sua vez, constataram que primogênitos ostentavam um ego maior e eram menos ansiosos. Todavia, ambas as pesquisas se mostraram um tanto quanto questionáveis.
Para resolver a questão, um grupo de cientistas liderado pela psicóloga Julia Rohrer, da Universidade de Leipzig estudou 20.000 pessoas dos EUA, Reino Unido e Alemanha. Eles não só compararam os perfis entre irmãos, como com pessoas totalmente desconhecidas em diferentes posições de nascimento. Ao fim do estudo, os cientistas não encontraram nenhuma diferença sistemática de personalidade. No entanto, análises como essa devem ser muito minuciosas, uma vez que qualquer fator mal observado pode alterar o resultado de maneira drástica.
Assim, a luta em busca da verdade continuou. Uma pesquisa mais recente pode lançar uma luz sobre esse mistério. Em 2015, os psicólogos Rodica Damian e Brent Roberts da Universidade de Illinois, observaram 377 mil estudantes do ensino médio. Em concordância com a teoria de Alfred Adler, a dupla constatou que os primogênitos tendem a ser melhores líderes, mais conscientes e extrovertidos. Além disso, eles também se mostraram mais tolerantes e emocionalmente estáveis do que os demais. Mas, por fim, concluiu-se que as diferenças não eram expressivas o suficiente para atribuir à ordem de nascimento traços de personalidade tão bem definidos.
“É bem possível que a posição na sequência de irmãos forme a personalidade – mas não em todas as famílias da mesma maneira”, diz Frank Spinath, psicólogo da Universidade de Saarland, na Alemanha. “Outras influências pesam mais quando se trata das diferenças de caráter dos irmãos. Além dos genes, o ambiente indivisível também é importante. Para irmãos que crescem na mesma família, isso inclui o respectivo círculo de amigos, por exemplo.”. Ademais, vale lembrar que os os pais não tratam seus filhos da mesma maneira, independentemente da ordem em que nasceram, e isso interfere em seu desenvolvimento. Estudos anteriores já comprovaram que os pais reagem de acordo com o temperamento inato de seus filhos e, a partir disso, adaptam a maneira de educá-los.