Os japoneses economizaram R$ 6,9 bilhões ao decidir reaproveitar locais de prova antigos para a Olimpíada que começará a pouco menos de um ano. Tiraram de Tóquio um terço dos 43 pontos de disputa, espalhando-os por 9 províncias, e farão poucas obras – são 25 locações já existentes, 10 temporárias e apenas 8 novas, cuja entrega está adiantada.
A estratégia de pulverização das provas, entretanto, tornou mais desafiador para os japoneses garantir a segurança do Jogos Olímpicos de 2020. “Quando nós nos candidatamos para sediar os Jogos, o plano inicial era de que todos esses locais ficassem dentro de Tóquio, mas havia a questão do ‘elefante branco’. Como não queremos desperdiçar as construções depois dos Jogos, decidimos aproveitar o máximo possível as instalações que já temos no país”, diz Kentaro Kato, diretor de projetos de relações com a mídia.
Em entrevista no quartel-general da Olimpíada em Tóquio, ele traçou ao Estado um paralelo com os Jogos do Rio, onde vivia em 2016. “No Rio, foi feito um Parque Olímpico e dentro desse parque ficavam os locais para cada modalidade. Em Tóquio, não vamos criar um espaço único, mas sim utilizar várias instalações espalhadas no Japão. Por isso, temos um desafio de segurança”, afirmou Kato.
Em Jogos com competições concentradas em um Parque Olímpico, os espectadores se deslocam de uma prova para outra sem ter que passar por novas checagem. Os jornalistas, por sua vez, podem cobrir várias competições no mesmo dia em um curto espaço, sem reiteradas vistorias.
No Japão, não será assim. Em um país de clima ameno, a alta temperatura de julho é um complicador inusitado neste aspecto. Obrigar milhares de turistas a esperar na fila pela revista de segurança sob temperaturas acima dos 30ºC é um risco, agravado, no caso japonês, pela própria falta de espaço para aglomerações.
Para ter uma ideia de como o calor é algo levado a sério pelos organizadores, provas como a maratona começarão às 6h. Em 1964, os Jogos foram em outubro para evitar as altas temperaturas. Uma solução para conseguir uma vistoria eficaz nos visitantes será acelerar o controle sobre jornalistas, atletas e integrantes da organização.
“A inspeção de pertences para as pessoas que já têm a credencial deve ser um pouco menos rigorosa do que para os visitantes comuns”, diz Kato. Outra forma de apressar a entrada de quem trabalhará na Olimpíada é a identificação facial, capaz de reconhecer feições em 0,3 segundo. Calcula-se que serão registradas 300 mil pessoas entre atletas, voluntários e equipes de imprensa.
Liberando mais rapidamente este grupo, a segurança será mais concentrada nos que vão assistir às provas. Outro desafio é o tamanho das empresas de segurança japonesas. A organização de Tóquio 2020 calcula que serão necessários 14 mil agentes, mas não há uma companhia no país com tantos funcionários.
Ao se contratar várias empresas, fica mais difícil uniformizar os padrões de disciplina. Na época da aprovação da candidatura, os japoneses planejavam ter 37 locais de prova, 33 deles em Tóquio.
No fim, serão 43 locais, 29 na capital. A aposta japonesa em reaproveitar estruturas antigas deixa os organizadores tranquilos em relação à entrega das obras novas. Dos oito locais de prova feitos especialmente para essa competição, cinco já estão prontos. Entre as obras que faltam está a do novo Estádio Olímpico, construído na área do original demolido – no qual Flamengo, Grêmio e São Paulo foram campeões mundiais.
O estádio já está com mais de 90% das obras acabadas. O local mais “atrasado” é o Centro Aquático de Tóquio, que está com 75% das construções terminadas. “ATLETAS EM PRIMEIRO LUGAR” – Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), apesar de as provas serem espalhadas por 43 pontos de disputa, o fato de a Vila Olímpica ser centralizada, na Baía de Tóquio, fará com que os atletas tenham acesso rápido e conveniente aos locais de competição.Ainda de acordo com o COI, “a revisão do plano diretor do local foi realizada pela Tokyo 2020 e pelas Federações Internacionais no espírito de seu conceito de ‘atletas em primeiro lugar’ e da Agenda Olímpica 2020, que incentiva as cidades-sede a usar locais existentes e temporários sempre que possível para reduzir custos.
“De acordo com a entidade, “isso significa que continuará proporcionando aos atletas uma excelente experiência nos Jogos, ao mesmo tempo em que reduz os custos do local e envolverá muito mais a população na organização dos Jogos”.
Por fim, em relação à segurança da Olimpíada, o COI afirma que está confiante “de que esse aspecto foi levado em consideração pela ‘Tóquio-2020’ e pelas autoridades locais” na elaboração do projeto dos Jogos.