Durante milhões de anos, o desejo e o prazer mantiveram a vida no planeta. A sede para não morrermos desidratados, a fome para não nos esquecermos de comer e até o apetite sexual para transmitir nossos genes. Nós, humanos, acreditamos que podemos controlar estes impulsos básicos, mas ignoramos até que ponto dependemos de uma programação biológica e de como o ambiente nos influencia.
O peso corporal e o metabolismo de nossos corpos são regulados por uma parte do cérebro conhecida por hipotálamo. Embora a relação entre a dieta não saudável e obesidade seja vastamente conhecida, muito pouco foi explorado sobre como a alimentação pode alterar nosso cérebro.
Um estudo liderado por Sabrina Diano, professora da universidade de Yale (Estados Unidos), avaliou como o consumo de uma dieta hipercalórica — especificamente dietas ricas em gorduras e carboidratos — pode estimular uma inflamação no hipotálamo.
Os pesquisadores afirmaram que esta inflamação ocorre apenas três dias após consumirmos uma alimentação hipercalórica. “Ficamos intrigados pelo fato de que essas mudanças ocorrem muito rapidamente, antes mesmo de o corpo mostrar sinais de obesidade, e quisemos entender o mecanismo celular envolvido”.
Micróglia e alimentação
O grupo observou inflamação na região hipotalâmica de animais com dieta rica em gorduras e descobriu que essas alterações acontecem especificamente na micróglia. A micróglia é formada por células especiais que funcionam como uma casa para os macrófagos — que é a primeira linha de defesa do nosso corpo.
A ativação da micróglia, ou seja, de uma resposta inflamatória, ocorreu devido à diminuição do tamanho de suas mitocôndrias. Mitocôndrias são pequenas estruturas no interior das células que convertem a glicose em energia propriamente dita. Seu tamanho é afetado por uma alteração na proteína UCP2 (Uncoupling Protein 2) que regula a utilização de energia.
Quando receberam dieta hipercalórica, a resposta inflamatória (por ativação da micróglia), afetou o funcionamento dos neurônios do hipotálamo dos animais estudados estimulando-os a comer mais e tornando-os obesos.
Quando os pesquisadores bloquearam esse mecanismo removendo a UCP2 da micróglia, os animais expostos a dieta rica em gorduras e carboidratos, comeram menos e ficaram mais resistentes ao ganho de peso.
Comer para o cérebro
“Existem mecanismos cerebrais específicos que são ativados quando nos expomos a certos tipo de alimentos. Esses mecanismos podem ser importantes do ponto de vista evolutivo. No entanto, quando alimentos ricos em gorduras e açúcares estão constantemente disponíveis isso é prejudicial.” diz, Sabrina Diano.
A autora do estudo segue investigando como essa ativação inflamatória pode afetar várias doenças neurológicas, inclusive a doença de Alzheimer, que está associada a alterações da micróglia e demonstrou ter maior incidência entre obesos.