Ao contrário do que muitos pensam, Wilfrid M. Voynich não é o autor do manuscrito de letras elegantes que leva o seu nome, e sim o livreiro que o comprou, em 1912. Não se sabe ainda se o Manuscrito Voynich é um livro de bruxarias, receitas culinárias ou um manual sobre ervas medicinais. Com desenhos bizarros de plantas, grávidas nuas banhando-se em líquidos verdes e signos astrológicos, jamais ninguém o decifrou – nem mesmo uma inteligência artificial.
Quando esta é aplicada ao texto, a pesquisa geralmente é rejeitada logo depois por não fazer nenhum sentido (ou a inteligência artificial não é tão inteligente como pensávamos que era em tradução).
Uma das últimas tentativas aconteceu em 2016, quando o professor de ciência da computação Greg Kondrak e o estudante Bradley Hauer, da Universidade de Alberta (Canadá) computaram o texto, mas somente alguns aspectos, como a frequência com que as letras aparecem e quais combinações são as mais frequentes. Em tese, eles poderiam comparar o manuscrito aos idiomas existentes e, assim, encontrar uma correspondência.
Como base, eles usaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, escrita em 380 idiomas. Não foram usadas redes neurais ou aprendizado profundo; os algoritmos se baseavam na análise estatística das línguas modernas, o que já se mostrou inusitado, já que o manuscrito foi escrito no século XV.
O mistério permanece
Ao publicarem um artigo, a dupla divulgou ter descoberto que o idioma de origem do Manuscrito Voynich era hebraico, porteriormente codificado. Muita gente se perguntou como eles chegaram a essa conclusão, já que a IA não havia sido treinada para esse idioma em sua forma arcaica.
Mesmo que os algoritmos apontassem para um idioma, eles não puderam avaliar a probabilidade de cada correspondência. Isso significa que realmente não se sabe se o texto estava em hebraico. Kondrak e Hauer assumiram que o manuscrito era um anagrama, significando que as letras em cada palavra foram embaralhadas, o que permitiria maior liberdade na interpretação do texto – ou seja, ele pode ser um livro de bruxarias, receitas culinárias ou um manual sobre ervas medicinais.
Usar inteligência artificial para desvendar o mistério do Manuscrito Voynich – e ela falhar miseravelmente – levanta outra questão: a inteligência artificial tem dificuldade em entender completamente as complexidades da linguagem humana. Para o cientista-chefe da empresa sul-coreana de inteligência artificial Mind Ai, John Doe, há uma grande diferença entre o processamento de linguagem natural, um subconjunto de inteligência artificial e o que ele chama de “linguagem natural do raciocínio.”
Segundo ele escreveu no Medium, o processamento da linguagem natural se baseia em treinar o computador para manipular a linguagem humana, e isso depende de algoritmos de aprendizado de máquina e de redes neurais. Isso acontece, por exemplo, quando o usuário de celular conversa com a Alexa ou a Siri, ou quando ele aprende como terminar suas frases (como no Gmail).
Mesmo sendo boa no que faz no dia a dia, para John Doe a IA “jamais alcançará o domínio da linguagem, porque os algoritmos não sabem o que estão fazendo”. Ou seja, a IA precisaria ter inteligência humana genuína para entender o contexto, o tom e o significado do que é dito. E isso inclui desvendar o mistério oculto nas páginas do Manuscrito Voynich.