A proposta inicial seria ir até às academias localizadas no bairro, principalmente aquelas de lutas e artes marciais, seria falar sobre esportes. Porém, a Livraria Sol, talvez devido à sua localização, logo em frente ao metrô Liberdade (Praça da Liberdade, 153) me chamou a atenção “logo de cara”. Entrei só para “dar uma olhadinha”, mas acabei ficando por algumas horas tentando entender alguma coisa e me perguntando, quase sem parar. Claro, não compreendi nada do que estava escrito nos livros, revistas e materiais de papelaria, mas conseguia me guiar por meio das imagens e cores. O significante, aos poucos, foi gerando um significado para mim.
Em meio à tantas revistas, algumas demandaram mais o meu tempo. As que tinham um aspecto teen foram mais observadas por mim, e não por acaso. A “Seven teen” (R$ 50,23) e a “Nonno” (R$ 48,58) tinham muitas semelhanças entre si: ambas revistas mensais de origem japonesa e escritas para um público jovem, com mulheres expondo o mesmo corte de cabelo e quase as mesmas feições, com o mesmo tom de roupas e a mesma paleta de cores em suas capas.
Nas duas imagens as mulheres têm um corte de cabelo com franjinha, adotado pela maioria das japonesas e sinônimo de rejuvenescimento. As franjas, principalmente retas, dão um ar de inocência. A partir deste ponto, pude constatar que padrões estéticos, sejam eles de corpo ou de beleza, representam uma cultura e os modos de pensar de uma determinada população. Sem cair no estereótipo, é possível recortar imagens parecidas e extrair delas pensamentos comuns.
Existe um padrão adotado pela maioria das garotas japonesas, como podemos reparar nos animes, dramas e filmes, onde a personagem principal é quase sempre fofa e delicada. O comportamento transpassa para a vida real. Maturidade não anula a meiguice da figura feminina. Ser kawaii, ou seja, ser fofa, é tão importante que podemos encontrar mulheres com mais de seus 30 anos tentando ser sempre delicadas, com o visual e personalidade totalmente infantis. No Brasil, ser chamado de criança é quase uma ofensa, mas já no Japão soa como “elogio”. O que se estende para o ramo dos cosméticos, sendo muito comum o uso de maquiagem e produtos para deixar a pele perfeita, lisa e macia, inclusive, sem manchas.
Folheando mais o conteúdo, outra grande semelhança entre as figuras femininas são as pernas tortas. Este padrão não é só japonês, as mulheres coreanas também o seguem, porém, com uma diferença: as japonesas preferem os joelhos para dentro, enquanto as coreanas preferem os joelhos para fora. A relação entre corpo (anatomia) e atividade física é muito estreita, e sim, são assuntos extremamente entrelaçados. O que parece somente um padrão de beleza no Japão pode desencadear muitos problemas físicos, posturais e prejudiciais ao desempenho motor.