Informações sobre a história da biodiversidade podem ser obtidas por meio de documentos, fósseis, livros e fotografias. Para entender melhor a vida marinha do Japão ao longo do tempo, dois biólogos se debruçam sobre outro tipo de fonte: os gyotaku, uma forma de arte que existe no litoral japonês desde o século 19.
Os gyotaku são gravuras de peixes e outros seres marinhos em papel de arroz. Animais pescados são revestidos de tintas e seus corpos são pressionados contra a folha, como se fossem um carimbo.
Yusuke Miyazaki, da faculdade Shiraume Gouken, de Tóquio, e Atsunobu Murase, da Universidade de Miyazaki, decidiram viajar o Japão digitalizando o maior número possível de gyotaku. O objetivo é criar um banco de dados online reunindo todo o catálogo.
Até o momento da publicação deste texto, a dupla tinha conseguindo digitalizar 261 gyotaku, que retratavam, ao todo, 325 espécimes diferentes. Além do banco de dados, os biólogos produziram uma pesquisa que foi publicada na revista científica ZooKeys.
No artigo, Murase afirma que os gyotaku são uma boa forma de analisar o histórico de certas espécies e estimar o declínio ou ascensão populacional de algumas delas, já que alguns tipos de animais marinhos foram mais ou menos frequentes nas gravuras em determinadas épocas.
“No geral, as espécies que formam os gyotaku refletiram de forma aproximada a fauna marinha de cada região biogeográfica. Nós sugerimos que os pescadores japoneses continuem usando a técnica do gyotaku, ao lado de fotografias digitais, para registrar suas pescas memoráveis”, conclui o pesquisador.
A história do gyotaku
O gyotaku surgiram em meados do século 19. A gravura mais antiga catalogada é de 1839.
Em suas origens, as gravuras eram feitas usando a tinta natural de moluscos, como polvos e lulas. Atualmente, os gyotaku são feitos com tintas industrializadas não tóxicas.
Ao longo dos anos, alguns artistas passaram a incluir aquarelas em seus gyotaku, adicionando cores após o carimbo do peixe no papel.
Com os avanços tecnológicos, a produção dos gyotaku diminuiu, já que essa arte foi concebida para registrar a memória de pescarias. Com a comodidade de câmeras digitais e celulares, muitos pescadores passaram a apenas fotografar suas pescas, deixando de lado as tradicionais gravuras.
Atualmente, os gyotaku podem ser encontrados à venda em pequenas lojas de vilas de pescadores do litoral japonês.