Muitos associam as gueixas a prostituição, mas o que poucos sabem é que elas são uma grande representação da cultura japonesa. Desta forma para os japoneses as gueixas são objetos de grande admiração e respeito. Como lhe chocam quando ocidentais ou os próprios japoneses as comparam com meras prostitutas exóticas.
Essas grandes figuras nacionais, as gueixas, são artistas, bem como tem alto conhecimento sobre a estética japonesa. Desta forma elas mantem as tradições culturais do japão vivas. Ou seja, são peças centrais para manter costumes e tradições do Japão vivos para as futuras gerações.
Assim, entender o que é ou o que uma gueixa faz é complexo, principalmente para quem não tem conhecimento da história do Japão. Portanto a existência das gueixas só fazem sentido e são compreendidos no contexto japonês, sendo um produto do país.
O surgimento das gueixas está relacionado em como a sociedade japonesa foi organizada durante a Era Edo, entre 1603 a 1867. Desta forma, nas primeiras décadas da Era Edo (1603 – 1867), as medidas de controle de vida civil aumentaram, sendo não apenas para estabilidade como também manutenção do clã Tokugawa no poder.
Desta forma a sociedade como um todo foi controlada por uma forma feudal, rígida e hierarquizada. Bem como influencias externas, como o cristianismo foram vistas como negativas. Assim estrangeiros eram expulsos, o que tornou o Japão isolado do mundo por séculos.
Porém esse controle governamental atingiu em especial as mulheres. Por essa razão elas só podiam executar o papel de mãe, dona de casa, e auxiliadora do seu marido na agricultura ou comércio, sendo uma “obrigação” e sem remuneração. Bem como em 1629 uma lei o xógun proibiu a participação das mulheres em atividades de entretenimento público.
Surgimento das gueixas
Por conta de tais decretos o palcos foram totalmente ocupados por homens, inclusive nos papeis de mulheres. Assim as primeiras gueixas conhecidas não foram mulheres, mas sim homens. Bem como a palavra “geisha” significa “pessoa da arte”, e era usada para designar comediantes e músicos que se apresentavam em banquetes e festas no século XVII.
E pelo fato das mulheres serem proibidas de participarem de entretenimento público as festas privadas se tornaram uma opção. Portanto os eventos privados eram os únicos lugares onde podiam cantar, tocar musicas e dançar, surgindo assim as onna-geishas, ou artistas femininas.
Contudo, as atividades artísticas e prostituição eram confundidas na época. Desta forma os donos de pousadas e casas de chá ofereciam suas funcionárias como prostitutas à noite para seus clientes. Um trabalho muita das vezes obrigado, onde os patrões diziam as empregadas para “agradarem o cliente ou irem embora”.
Por conta disso muitos não esperavam menos das mulheres artistas, bem como as associavam a prostitutas. Contudo a partir do século XVIII medidas oficializaram e regulamentaram a prostituição, assim tornando distinto as prostitutas das gueixas. Desta forma elas se tornaram figuras culturais, que participam de eventos e festa.
Sendo elas uma grande representação cultural japonesa, o dia a dia de uma gueixa é bastante cheia, bem como uma profissão difícil. Elas são treinadas para terem beleza em seus gestões, no seu modo de falar e caminhar, parecendo assim delicadas e educadas. Bem como são conhecedoras da cultura japonesa, arte e música. Desta forma são atividades das gueixas:
Maquiagem e vestimentas
Gueixas – Mitos e verdades desse grande símbolo da cultura japonesa
Tantos as gueixas como suas aprendizes, chamadas de maiko possuem uma rotina complexa de vestimenta. Assim levando cerca de 2h para se maquiar, arrumarem o cabelo e se vestirem, dispondo de ajudantes. Sendo seu penteado volumoso, elaborado e firme, com enfeites florais e pingentes metálicos.
Seu quimono é mais longo do que os normais, chegando a arrastar no chão. Bem como o obi de brocado brilhante é mais largo e cai solto nas costas, em forma de cascata. Além de que ele é bem mais caro do que os quimonos padrões, podendo custar uns milhares de dólares.
Okiya e relacionamentos
As gueixas vivem sob contratos com Okiyas, que são espécie de casas de gueixas. Desta forma essas casas são administradas por proprietárias chamadas Oka-san, que literalmente significa mãe em japonês. Essas Oka-san(s), que também são gueixas, são responsáveis pelos relacionamentos e status de suas “filhas”.
Assim uma gueixa bem sucedida vem a conhecer um grande número de pessoas influentes. A exemplo empresários, líderes políticos. Sendo isso um dos requisitos para uma boa frequência às casas de chás, pois esses estabelecimentos possuem um alto preço.
As gueixas são muito ligadas a vida cultural de Quioto, sendo assim convidadas para grandes festivais, com centenas de convidados. Desta forma sempre estão envolvidas em apresentações teatrais e musicais. Assim como também se apresentam para grandes grupo de turistas.
Também podem ser convidadas a visitas em clubes ou restaurantes para entreter convidados, como em ryokan de luxo (hotéis tradicionais). Podendo assim envolver apresentações de músicas, teatrais e culturais, bem como momentos para jogos tradicionais japoneses.
Cerimônia do chá
Ochaya
Treinamento e trabalho
Portanto quanto mais uma maiko atinge níveis em seu treinamento seus penteados mudam. Bem como sua alças e sapatos também mudam de acordo com o avanço de nível. Como resultado, ao tornar-se uma gueixa completa elas ganham um colarinho branco.
“Celebridade”
Gueixas x Prostituição
No japão feudal os casamentos eram arranjados e por interesses entre famílias, assim para a maioria dos homens o sexo com suas esposas era por dever de procriação. Desta forma, longe das esposas os samurais invadiam as cidades, a procura de prostitutas para ter “sexo com prazer“. Assim foram criados os “bairros do prazer”.
As profissionais do sexo eram chamadas de jorõ, que significa prostituta ou cortesã. Bem como as mais jovens eram chamadas de yûjo, mulher do prazer, e as mais experientes de oiran ou age-jorõ. Elas também passaram a ser obrigadas a morar nos bordéis, administradas como pequenas empresas com hierarquias.
Gueixa não é prostituta
Então para atrair uma grande e frequente clientela, assim como entreter os clientes os bordéis contratavam gueixas. Assim elas cantavam, tocavam e dançavam para os fregueses. Contudo, mesmo que as jorõs fossem o principal motivo da presença da clientela sempre acontecia de algum cliente se interessar por uma gueixa.
A partir disso começou a existir um tipo de “concorrência”, já que as prostitutas moravam nos bordeis e não podiam deixar os limites dos “bairros do prazer”, diferentemente das gueixas. Portanto em 1779 a gueixa foi reconhecida como praticante de uma profissão distinta das prostitutas.
Assim foi criado o kenban, sendo um tipo de cartório especifico para registrar e fiscalizar o cumprimento das regras da profissão das gueixas. Bem como uma das regras era a obrigatoriedade de viver nas okyias, serem conhecedoras de artes, música, canto e literatura.
Como resultado os kenbans moldavam não somente a aparência das gueixas. Portanto elas dedicavam bastante tempo em estudos e treinamentos artísticos, passando a serem valorizadas, remuneradas e reconhecidas como entertainers.
O espaço conquistado
As principais atividades executadas pelas gueixas eram cantar, dançar e tocar instrumentos. Sentar-se a mesa e fazer companhia aos homens eram atividades das prostitutas. Contudo os próprios clientes começaram a pedir para que as gueixas tomassem lugar a mesa.
E como as gueixas eram cultas e educadas conseguiam manter uma conversa agradável e fluída. Isso era porque muitos homens que frequentavam os banquetes não queriam fazer sexo depois de comer. Asim como apenas estavam a procura de um relacionamento que não conseguiam ter com suas esposas ou prostitutas.
Restaurantes e casas de chás
Então, observando que muitos queriam apenas se distrair as gueixas descobriram o seu público. Assim elas passaram a evitar bordeis, concentrando suas atividades em casas de chás, bem como abrindo as suas próprias.
Como também por volta de 1840 uma gueixa chamada Haizen aprendeu um pequeno oficio até então realizada por homens, o de servir sâque a mesa. A partir disso se tornou a gueixa mais requisitada de Kyoto, servindo seus clientes bem como fazendo companhia à mesa.
Desde então as gueixas vêm desempenhando o papel de anfitriã, servindo bebidas, conversando com os convidados, bem como dançam, cantam e contam histórias. E mesmo com a rápida ocidentalização que ocorreu na Era Meiji, durante 1868 a 1912, elas permaneceram intocadas, e sendo assim um belo símbolo da tradição japonesa.