A agricultura familiar, em pequenas hortas comunitárias, ainda é muito comum no Japão. O país não dispõe de grandes áreas cultiváveis.
Mais de 30 habitantes por quilômetros quadrado – 14 vezes mais que o Brasil – e muitas regiões montanhosas.
O projeto nos arredores de Tóquio mostra como fazer muito com pouco espaço. Na estufa há uma plantação de tomates que seria igual a qualquer outra, se não fosse pela invenção do doutor Yuichi Mori, professor universitário e empreendedor.
“Por 30 anos, trabalhei com equipamentos médicos para pacientes renais e cardíacos e vi que era possível usar técnicas e algumas matérias-primas para inventar algo mais.”
Esse algo a mais está nas raízes do tomateiro. Adaptando membranas e películas sintéticas a um gel à base de água, surgiu a plantação sem necessidade do uso da terra. O que parece terra é apenas um musgo, que cresce em função da umidade.
Esse ambiente úmido já é suficiente para desenvolver a planta, dispensando o uso de pesticidas – germes e bactérias não passam pela camada de gel. A economia com a própria água chega e a 70% em comparação com métodos tradicionais de plantio. O resultado é um aproveitamento praticamente total das sementes.
“Dizemos que há um stress, um esforço da planta para crescer com menos água. No caso de uma hortaliça, esse processo significa produção de mais açúcares e nutrientes. Gera um fruto mais saboroso e saudável”, explica o doutor Mori.
O tomate é um dos pilares da empresa, criada por ele e operando no Japão há dez anos. A tecnologia já foi instalada em 160 fazendas e está presente em diversas regiões que perderam capacidade produtiva, como as atingidas pelo tsunami de 2011 e também em áreas de solo contaminado na China e no deserto dos Emirados Árabes Unidos. A invenção foi patenteada em 130 países, entre eles o Brasil. E premiada em 2019 pelas Nações Unidas.
“Estamos felizes com os resultados na agricultura, mas o nosso objetivo é, em breve, entrar no ramo de medicamentos, onde estão as minhas origens como professor.”
Uma das ideias do doutor Mori é produzir remédios com o canabidiol, substância encontrada na maconha e expandir o projeto para a produção de fitoterápicos, medicamentos á base de plantas medicinais. Os vegetais colhidos com essa técnica ainda custam um pouco mais que os comuns, mas com os remédios, a intenção é levar para o mercado preços competitivos.
“Mudanças climáticas, grandes secas, enchentes. Nada afeta a produtividade e plantas medicinais não são perecíveis como legumes e frutas. Então acredito que o custo total de produção desses remédios por cair entre 20% e 30% no futuro.”