De joelhos, com a ponta dos dedos apoiadas no parqué, Chacha, uma gueixa, inclina-se diante de uma plateia que acompanha seus gestos, mas não ao seu lado e sim a quilômetros de distância, através de uma tela.
A mulher de 32 anos, iluminada por potentes holofotes, faz uma dança tradicional movendo-se como uma borboleta e abrindo seu leque.
Seu público habitual é geralmente composto por homens maduros com recursos, que assistem a cerimônia em uma pequena sala cheia de tatames.
Mas agora os espectadores de Chacha a assistem por meio de uma tela e são formados por mulheres e famílias com crianças.
“Como estão passando o tempo em casa?”, pergunta a gueixa. “Eu estava jogando Animal Crossing durante o estado de emergência”, diz a seus espectadores em referência a um conhecido videogame.
O Japão, relativamente pouco afetado pela pandemia de coronavírus, impôs o estado de emergência que também paralisou a vida cultural e noturna.
Encontre uma gueixa
No cerimonial da gueixa, quase tudo vai contra as medidas de distanciamento físico, desde os cantos e danças em espaços reduzidos até as conversas regadas com saquê.
Um desastre para Chacha, cujo salário foi zerado e aguarda com impaciência uma ajuda do governo.
Então, decidiu fazer as cerimônias online no “Meet Geisha”, um sistema lançado no ano passado por uma empresa informática japonesa.
Inicialmente, a ideia era promover os espetáculos das gueixas para os turistas nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e em um ambiente menos intimidador.
No entanto, o coronavírus obrigou o adiamento dos jogos e fechou as fronteiras ao turismo internacional, o que levou as empresas a associarem-se com as gueixas de Hakone, uma cidade a cerca de 80 km ao sudoeste de Tóquio, para propor uma versão virtual, explica à AFP a responsável pelo projeto, Tamaki Nishimura.
Ao contrário do equívoco de alguns ocidentais, as gueixas não são prostitutas, mas artistas altamente qualificadas.
Público jovem e feminino
Michiko Maeda, de 65 anos, uma das clientes do espetáculo online de Chacha, conta que decidiu-se graças a este formato à distância.
“Acho que muita gente têm a sensação que as cerimônias de gueixas não são feitas para as mulheres”, explica.
Agora “estou convencida de que mais de nós iremos às casas de gueixas de Hakone, certo?”, pergunta às demais espectadoras no evento, que concordam com a cabeça.
“Gostaria de me livrar da nossa imagem afetada”, diz Chacha, que espera que as gente pessoas posteriormente vão à Hakone “e interajam conosco de verdade”.