Um britânico foi um dos poucos ocidentais a receber o título de samurai!
William Adams foi um viajante britânico nascido em 1564, que veio a ser o primeiro habitante do Reino Unido a por os pés no Japão e também o primeiro homem ocidental a tornar-se samurai. Desempenhou um grande papel nas relações do Japão com o Ocidente e mesmo nos dias de hoje, é reconhecido como um dos estrangeiros mais influentes no Japão.
Que tal conhecer sua incrível história?
Aos 12 anos, após perder seu pai, William tornou-se aprendiz do dono de um estaleiro naval, passando os próximos 12 anos aprendendo tudo relacionado a construção de navios, astronomia e navegação. Eventualmente ele serviu à Marinha Real, sendo capitão de uma embarcação de suprimentos durante a guerra da Inglaterra contra a Espanha, em 1588.
Em 1598, Adams foi contratado por uma companhia holandesa para participar de uma frota de cinco navios com destino ao Japão. A missão tinha o objetivo de estabelecer rotas de troca e uma boa relação com os orientais — uma vez que, na época, os portugueses e espanhóis já realizavam trocas com os japoneses e a ideia era quebrar este domínio.
Desta frota de cinco navios, apenas um resistiu, e em péssimas condições. Além disso, apenas 21 dos 110 tripulantes sobreviveram à viagem, atracando em abril de 1600 na ilha de Kyushu, mais especificamente em Bungo, atual Usuki, situado na Província de Oita.
Por lá, missionários portugueses os acusaram de serem piratas e todos foram levados como prisioneiros para o Castelo de Osaka, sob ordens do daimyō (senhor feudal) Tokugawa Ieyasu, que posteriormente tornou-se xogun (na época, atuava praticamente como ditador).
Embora Ieyasu estivesse consolidando seu poder sobre o Japão, ele ainda não havia vencido a decisiva Batalha de Sekigahara, que ocorreria em outubro. De fato, nessa batalha, Ieyasu usaria os 19 canhões de bronze retirados do navio de Adams e 3 anos após seu desfecho, Tokugawa finalmente consolidou seu poder sobre o clã Toyotomi, da casa de Osaka.
Adams foi interrogado por Ieyasu em três ocasiões, e seu conhecimento sobre construção naval chamaram sua atenção. Em 1604, Ieyasu ordenou que ele supervisionasse a construção do primeiro navio de estilo ocidental do Japão, em Ito, na costa leste da península de Izu.
Suas contribuições para com os japoneses fizeram com que ele assumisse o cargo de conselheiro diplomático e fosse responsável por todos os assuntos referentes ao Ocidente, ganhando muitos privilégios de Ieyasu, como terras e servos. Além disso, em razão da sua capacidade linguística, Adams também tornou-se intérprete oficial do xogum.
Com mulher e filhos no Reino Unido, William Adams foi proibido de retornar ao seu país. Isso porque Ieyasu teria avisado que Adams só sairia do Japão morto. Em contrapartida, o britânico tinha um bom salário e muitas regalias. Ganhou terras e propriedades e foi condecorado como Hatamoto (旗本), classe de samurais que serviam diretamente ao xogum Tokugawa.
Ieyasu presenteou-lhe com duas espadas e uma propriedade na Península Miura, que hoje pertence à Província de Kanagawa. Também ganhou um nome samurai: Miura Anjin (三浦按針) e acabou casando-se com uma japonesa, chamada Oyuki, filha de Magome Kageyû, chefe da estação de Nihonmachi Otenmachô, com quem teve um casal de filhos.
Apesar de nunca ter lutado diretamente em nenhuma batalha, William Adams era uma figura respeitada e teve um papel de grande importância para as relações diplomáticas e comercias entre o Ocidente e o Japão, em especial com a Holanda e Inglaterra, em um período conturbado de muitos conflitos civis relacionados ao governo ditatorial do xogunato Tokugawa.
Inclusive, ele teve grande influência na instituição do “Red Seal”, navios japoneses com permissões especiais e foi capitão de quatro expedições pelo Sudeste Asiático. Devido à sua posição privilegiada, a Companhia Britânica das Índias Orientais finalmente chegava ao Japão em 1612 e Adams conseguiu garantir-lhes direitos comerciais bastante favoráveis.
Mais tarde naquele ano, ele recebeu permissão para retornar à Inglaterra, mas decidiu ficar, provavelmente motivado pelas riquezas que poderia acumular com as lucrativas trocas comerciais. Embora tenha sido obrigado a permanecer no país, Adams acabou se afeiçoando ao estilo de vida japonês e adotava muitas das práticas típicas da cultura local.
Em 1620, Adams faleceu aos 55 anos, em Hirado, onde foi enterrado. O britânico recebeu diversas homenagens como o Anjin-chō, uma cidade de Edo, que hoje é um bairro de Tóquio, assim como um vilarejo e uma estação de trem também foram batizadas de Anjinzuka.
Na cidade de Itō, na província de Shizuoka, é comemorado anualmente o Festival de Miura Anjin no 10 de agosto. Ainda em Ito, em Nagisacho, uma estátua de bronze foi erguida em sua memória, assim como em Gillingham, cidade natal de Adams na Inglaterra.
Em 1975, a história de Adams serviu de inspiração para “Shogun”, um romance de James Clavell, que tornou-se mundialmente conhecido e que serviu de base para outras produções.
Uma delas foi uma minissérie produzido e transmitido na TV americana pela NBC entre 15 de setembro e 19 de setembro de 1980. Até hoje, é a única produção da tv americana a ser filmada inteiramente no Japão. Abaixo você pode assistir aos capítulos da minissérie.
https://youtu.be/YUGwSm2jaYI?list=PLLjHBoF0LSixQvS140_sWZ1A_A83_ZQ3Q
Recentemente um RPG de ação da Team Ninja chamado Nioh foi lançado para PlayStation 4, cujo protagonista é William Adams. Esse lançamento contribuiu para que mais pessoas conhecessem sua incrível saga, cujos detalhes você pode ver no vídeo abaixo.
https://youtu.be/fqyFZWyEpPs