A cerimônia foi realizada no último dia 12 no Templo Kiyomizudera, em Kyoto
Anualmente, desde 1995, a Sociedade de Exame de Proficiência em Kanji (財団法人日本漢字能力検定協会 Zaidan hojin Nihon Kanji Noryoku kentei kyokai) elege o kanji do ano (今年の漢字, kotoshi no kanji) numa cerimônia formal no templo Kiyomizudera na cidade de Kyoto.
A cerimônia ocorre anualmente no dia 12 de dezembro (Dia do Kanji) e o anúncio do kanji vencedor é feito pelo sacerdote principal do templo, através do Shodo (書道), a arte tradicional da escrita japonesa. O objetivo do Kanji do Ano é escolher um ideograma que melhor defina o ano que está por terminar. A votação é popular e abrange todo o território japonês.
Depois de um ano dominado pelas ameaças nucleares da Coreia do Norte, a palavra escolhida para 2017 foi “Kita” (北), que em português significa “norte”. Esse kanji reflete o desconforto do país sobre os avanços da Coréia do Norte no desenvolvimento de um arsenal nuclear.
“Foi o ano em que as pessoas se sentiram ameaçadas e ansiosas pela Coréia do Norte na sequência de repetidos lançamentos de mísseis balísticos e um teste nuclear”, afirmou a fundação. A palavra “Kita” recebeu 7.104 votos dos 153.594 recebidos. Confira abaixo o momento exato em que o sacerdote Seihan Mori do templo Kiyomizudera faz o anúncio:
O alarme sobre o programa de mísseis de Pyongyang atingiu seu auge no verão, quando o regime enviou dois mísseis sobre a ilha de Hokkaido, apropriadamente localizado no extremo norte do Japão, além das ameaças de “afundar o Japão, veiculadas em mídias norte-coreanas.
Mas desde fevereiro, a Coréia do Norte tem ocupado um lugar proeminente na discussão política japonesa, uma vez que um míssil balístico foi lançado pelo arquirrival para coincidir com o encontro de Donald Trump com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, em fevereiro.
No outono, Abe antecipou as eleições e garantiu ao vencer que fará o possível para driblar as duas principais “crises nacionais” que o país vive na atualidade: a crescente população idosa, consequência da baixa natalidade e as frequentes provocações da Coréia do Norte.
Uma das pretensões de Abe é alterar o artigo 9 da Constituição, imposta pelos Estados Unidos após o final da Segunda Grande Guerra, que determina que as Forças Armadas do Japão tenham papel apenas defensivo. Em outras palavras, Abe pretende realizar reformas constitucionais com o objetivo de aumentar a autonomia militar japonesa.
Algumas pessoas sugeriram que a escolha não foi inspirada somente pelas provocações da Coréia do Norte. No início deste ano, as prateleiras de supermercados foram esvaziadas de pacotes de batatas fritas devido a falta de batata em Hokkaido, a ilha mais ao norte do Japão.
Outra justificativa dada por alguns votantes foi em relação à Shohei Ohtani, um talentoso jogador de beisebol que integrava a equipe Hokkaido Nippon Ham Fighters. Ohtani recentemente se juntou ao clube da liga principal dos EUA, o Los Angeles Angels of Anaheim.
O kanji do ano de 2016 também refletiu os sentimentos do público japonês. O Kanji escolhido foi kin (金), que significa ouro e o motivo foi as 12 medalhas de ouro conquistadas nos Jogos Olímpicos de Rio. Além disso, o ex-governador de Tóquio, Yoichi Masuzoe foi forçado a renunciar após ser acusado de usar dinheiro público para gastos pessoais.
O segundo kanji mais votado, com 3.571 votos, foi 政 (sei, matsurigoto), que significa “política”. Algumas das razões foram os escândalos políticos que dominaram as notícias durante grande parte do ano e as eleições de julho e outubro que ocorreram nesse ano.
Já o terceiro lugar ficou com 不 (fu , bu), que significa “não” ou “negativo”. As razões foram os fatores negativos que afetaram o Japão no cenário internacional, tais como o 不倫 (furin), se referindo a escândalos e adultérios ocorridos no mundo das celebridades.
Outras razões relacionadas a esse kanji são: 不作 (fusaku), se referindo às colheitas ruins que afetaram os agricultores e 不気味 (bukimi), que significa perturbador, se referindo ao assassinato e o desmembramento de nove vítimas por um homem de Zama, Kanagawa.