A cantora japonesa Mayu Tomita, hoje com 29 anos, rompeu o silêncio para relatar os nove anos de sofrimento e trauma desde que foi brutalmente esfaqueada por um fã obcecado em 21 de maio de 2016, na cidade de Koganei, oeste de Tóquio. À época, ela tinha 20 anos e estudava na universidade. O agressor, que gritou “Morra!” repetidas vezes durante o ataque, foi preso no local.
Tomita sobreviveu milagrosamente após ser atingida dezenas de vezes no rosto, pescoço, tórax e braços, e passou duas semanas em coma. Desde então, sofre de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que causa flashbacks intensos e crises ao recordar o ataque.
Em suas memórias inéditas, compartilhadas com a Kyodo News, Tomita denuncia a negligência da polícia de Tóquio, que ignorou suas queixas de perseguição menos de duas semanas antes do crime. A jovem havia procurado a delegacia de Musashino relatando ameaças de morte e assédio constante — o homem enviara cerca de 400 mensagens desde 2014 e a seguia após shows. Mesmo assim, os policiais consideraram o caso “não urgente” e não acionaram a unidade especializada em perseguição.
O ataque levou o Departamento de Polícia Metropolitana (MPD) a admitir falhas em seu relatório, reconhecendo que deveria ter tomado medidas imediatas. Ainda assim, Tomita e sua mãe processaram o governo metropolitano e sua antiga agência em 2019, alegando omissão policial. O processo terminou em acordo judicial em julho de 2025, cujo valor não foi revelado, mas que, segundo o advogado de Tomita, representa uma admissão de culpa do MPD.
Durante o julgamento, Tomita relata ter sido tratada com insensibilidade e revitimizada — inclusive sofrendo flashbacks violentos quando um policial lhe mostrou a foto do agressor.
“Foi como se ele estivesse diante de mim novamente, brandindo a faca. Percebi que eles não compreendiam o meu sofrimento — nem sequer tentavam compreender”, escreveu.
Os termos do acordo determinam que a polícia expresse “profundo pesar” e reforce medidas de prevenção contra perseguição, agindo conforme “as perspectivas do público”.
O caso de Tomita, amplamente repercutido no Japão, impulsionou em 2016 a revisão da lei contra perseguição, que passou a incluir assédio online e perseguição nas redes sociais, permitindo que autoridades ajam mesmo sem denúncia formal.
Hoje, Tomita vive reclusa, ainda incapaz de usar transporte público ou sair sozinha. Apesar do trauma, ela diz esperar que seu testemunho sirva para proteger outras mulheres.
“Mesmo depois que o incidente termina, a vitimização nunca acaba”, escreveu.
“Polícia, lembrem-se: a diferença entre ser salvo ou não pode mudar toda uma vida.”
Fonte: Japan Today









