Sandra Fukada, 46 anos, é a fundadora da Furoshiki Store, uma loja que vende tecidos tradicionais japoneses que, ao ser dobrados, podem ser usados como bolsas, embalagens, sacolas e acessórios de vestuário. Confira abaixo um depoimento da empresária.
“Uma das palavras que eu mais ouvia em casa na infância era mottainai. Sabe quando uma criança escova os dentes com a torneira aberta?
No Japão, um adulto lhe chamaria a atenção dizendo exatamente isso: ‘Mottainai!’ Que desperdício!
Sou neta de japoneses que emigraram para o Brasil em 1933 e sempre estive cercada de empreendedores por todos os lados. Meu avô paterno tinha uma fábrica de chapéus em Okinawa, no sul do país.
Meu avô materno veio para a lavoura e após algum tempo passou a se dedicar ao comércio, com uma mercearia e uma loja de autopeças. Meus pais começaram a vida como feirantes e depois foram donos de um armazém atacadista em São Paulo.
Cada um deles trilhou um caminho, mas todos seguiam o mottainai, essa visão de que é preciso dar valor às coisas que temos e não desperdiçá-las. Isso é muito difundido no Japão, um país que passou pela guerra e por todo tipo de privação.
E se tornou uma filosofia minha também, que resgatei principalmente quando resolvi empreender sozinha, pouco mais de um ano atrás — antes disso, atuava na área de alimentação.
Queria trabalhar com artigos japoneses e enxerguei uma oportunidade no furoshiki, um tipo de embalagem muito tradicional, feita de tecido. Originalmente, o furoshiki era feito com panos reaproveitados — um quimono usado, por exemplo.
Com o tempo, passou a ser fabricado com belíssimos tecidos estampados e ganhou sofisticação. É isso que vendo hoje na minha loja, na Japan House, em São Paulo. É emocionante perceber como os japoneses e descendentes que visitam o espaço se identificam com as peças e fazem uma viagem no tempo.
Vendemos cerca de 400 artigos por mês: sinto que fazer isso é uma espécie de agradecimento aos meus antepassados, pelas dificuldades que venceram nesse país tão distante. Para mim, a tradição do furoshiki e o conceito do mottainai se encaixam perfeitamente com o movimento pela sustentabilidade.
Esse é um valor presente na educação que recebi e que procuro cultivar, tanto na vida pessoal quanto na empresa.”