Mesmo que você não tenha o costume de tomar café durante o dia, acaba ingerindo cafeína em outros alimentos. Ela é a substância psicoativa mais consumida do planeta, encontrada também em chás, refrigerantes e até mesmo no chocolate.
Na maioria dos países, não existe nenhum tipo de regulamentação sobre seu consumo, mas algumas pessoas responsabilizam o composto químico por certos efeitos indesejáveis, como a desidratação.
O que entra precisa sair
O embasamento científico para afirmar que o café causa desidratação vem de um estudo feito em 1928, o qual registrou um aumento na quantidade de urina expelida por pessoas que consumiram bebidas com cafeína. Segundo Lawrence Armstrong, professor no Departamento de Cinesiologia da Universidade de Connecticut e diretor do Laboratório de Desempenho Humano, o resultado se espalhou rapidamente, e a partir disso a fama de que café desidrata se sedimentou com o tempo.
No fim das contas, nosso corpo é um pouco mais complexo do que isso. Armstrong lembra que podemos utilizar a própria água como referencial. Se tomarmos mais do que estamos acostumados, também vai existir um aumento na quantidade de urina, e não é por isso que ela nos desidrata. Em entrevista ao Live Science, ele ressalta que “a verdade sobre o assunto é que um pequeno aumento na quantidade de urina expelida não significa que o corpo está desidratado”.
Para obter dados mais precisos e desmistificar o consumo de cafeína, Armstrong e um grupo de pesquisadores realizaram um experimento em 2005. Na ocasião, eles determinaram o que 59 homens saudáveis comeriam por 11 dias, regulando a quantidade de cafeína ingerida por cada um através de cápsulas, 2 vezes ao dia.
Ao contrário do estudo realizado no começo do século passado, eles utilizaram 20 biomarcadores diferentes para determinar o grau de desidratação dos participantes. Trabalhos anteriores analisaram apenas os efeitos do consumo pontual de cafeína; a pesquisa de Armstrong foi a primeira a observar as consequências ao longo de um dia inteiro.
Os resultados mostraram que os indicadores avaliados, dentre eles a quantidade de urina, se mantiveram similares em todos os grupos da pesquisa. Ou seja, alguns participantes consumiram pílulas placebo em vez de cafeína e, mesmo assim, apresentaram medições de desidratação semelhantes às de quem realmente consumiu a substância. O mesmo aconteceu entre quem consumiu pequenas e grandes doses de cafeína.
Muito além da desidratação
Um bom café é apreciado no mundo todo, mas muitos acreditam que a cafeína seja responsável por uma série de problemas de saúde, além da desidratação. Entre os efeitos apontados está o desenvolvimento de câncer ou a influência no crescimento de crianças, que não se desenvolveriam da forma correta por tomar a bebida.
Para Armstrong, tudo isso não passa de lenda urbana, pois se fosse verdade “teríamos emergências de hospitais lotadas de pacientes afetados pelo consumo de café. Se a substância possuísse efeitos negativos tão pronunciados, eles certamente já teriam sido identificados”.
Assim como no caso de qualquer alimento, o consumo excessivo de cafeína pode causar a morte. A dose letal, segundo Armstrong, seria de 10 mil miligramas em um período de 24 horas, mas uma xícara de 200 ml possui apenas 95 miligramas da substância. Assim, para que você consiga a façanha de ingerir a dose letal de cafeína através da bebida, precisaria ingerir apenas 20 litros de café.
Ao contrário do que muitas pessoas dizem, o café já se provou uma bebida que possui diversos benefícios em seu consumo. Os antioxidantes presentes nos grãos podem nos proteger contra o câncer no fígado, diabetes tipo 2, diminuir a pressão sanguínea e até mesmo combater a demência e a depressão.
Novas pesquisas ainda são necessárias para determinar possíveis efeitos nocivos em crianças e adolescentes, quando consomem a bebida de forma excessiva ou em conjunto com álcool e outras drogas. De modo geral, não existe problema algum em beber uma xícara de café por dia, já que ela não vai te desidratar e pode fazer parte de uma rotina saudável.