Confira 7 Coisas que as mulheres estão proibidas de fazer no Japão
Como sabemos, apesar da luta pela igualdade de gênero ter começado décadas atrás, em várias partes do mundo, as mulheres ainda sofrem restrições, ou seja são proibidas de fazer determinadas coisas, especialmente dentro de um contexto histórico, cultural ou religioso.
No Japão, como podemos imaginar, não é diferente. Se você leu 6 vantagens que as mulheres tem no Japão, que tal conhecer agora 7 coisas que as mulheres são proibidas na Terra do Sol Nascente? Na verdade, em algumas delas, “proibidas” não seria o nome correto e sim aconselhadas a não fazer por causa de rituais ou superstições. De qualquer maneira, você vai se surpreender com algumas dessas situações que as mulheres enfrentam no Japão.
1. Ascender ao Trono Imperial
De acordo com a Lei da Casa Imperial, as mulheres da família Real não podem ascender ao trono do Crisântemo. Mas isso não foi sempre assim. O Japão já foi governado por várias mulheres, sendo a última a imperatriz Go-Sakuramachi ( 1762 – 1770). A proibição da sucessão feminina ao trono ocorreu com a reescrita da Constituição Meiji em 1889.
Por volta do ano 2.000, esse assunto voltou à tona pelo fato da princesa Masako, casada com o príncipe Naruhito, só ter uma filha. O irmão de Naruhito, o príncipe Akishino e sua esposa, a princesa Kiko, também não tinham nenhum sucessor do sexo masculino nesta época.
A possibilidade das mulheres voltarem a exercer essa função foi debatida e havia até mesmo uma proposta oficial governamental para alterar a Lei da Casa Imperial, mas acabou sendo novamente adiada em 2006 após o nascimento de Hisahito, filho do príncipe Akishino.
Outro detalhe que não podemos esquecer é que as princesas japonesas que se casarem com plebeus e seus descendentes são excluídos de quaisquer tipos de tratamentos e privilégios imperiais. Foi o que aconteceu com a princesa Sayako, única filha do Imperador Akihito, após se casar em 2005 aos 36 anos com o plebeu e urbanista Yoshiki Kuroda.
2. Visitar a Ilha de Okinoshima
Okinoshima (沖ノ島) é uma pequena ilha de 70 hectares localizada em Fukuoka, entre a Coréia e o Japão em um trecho de 200 km do Mar de Genkai. A ilha era tradicionalmente visitada por marítimos que trocavam mercadorias entre a China, a Coréia e o Japão e hoje abriga um Santuário Munakata Taisha, sendo considerada terra sagrada pelo Xintoísmo.
O Santuário abriga mais de 80.000 relíquias, alguns datando do século IV, que são designados como tesouros nacionais. No entanto, mulheres são proibidas de visitar Okinoshima, podendo admira-la apenas a partir da Ilha vizinha, Oshima. O local está inscrito na lista de sítios que podem ser incluídos como Patrimônio Mundial da UNESCO em 2017.
3. Manter um sobrenome diferente do seu cônjuge
No Japão, as mulheres casadas costumam abdicar do seu sobrenome familiar, passando a usar legalmente o sobrenome do marido. Isso ocorre devido ao koseki tohon (戸籍謄本), um sistema de registro familiar onde é necessário incluir todos os relacionamentos familiares legais (nascimentos, mortes, casamentos, divórcios, adoções, etc) em um único documento.
O inverso também pode ocorrer, ou seja, o marido adotar o sobrenome da esposa, mas isso é muito raro, ocorrendo somente em situações em que a esposa não tem irmãos do sexo masculino e deseja manter a linhagem do sobrenome de sua própria família.
4. Escalar o Monte Omine
O Monte Omine (大峰山), também conhecido como Mt. Sanjo, situado na província de Nara, é Patrimônio da Humanidade pela UNESCO e uma das 100 montanhas mais famosas do Japão. Por estar localizado em uma área sagrada, que faz parte das Rotas de Peregrinação na Cordilheira de Kii, a montanha é muito visitada por turistas e peregrinos.
No topo do Mt. Omine encontra-se o templo Ominesanji e por isso é natural as pessoas escalarem a montanha afim de chegar ao templo. Porém, há um pequeno detalhe: Mulheres são proibidas de ir ao templo, porque segundo uma antiga tradição xintoísta, a beleza e a natureza sedutora das mulheres distrairia os peregrinos de seus deveres ascéticos.
Apesar de haver placas com a inscrição Nyonin kekkai (女人結界), que significa “Proibido mulheres”, é muito improvável que alguém impeça de fato uma mulher que esteja caminhando para o topo da montanha. No entanto, os japoneses em geral costumam obedecer por respeitarem muito essas antigas tradições, além de serem muito supersticiosos.
5. Participar em certas celebrações xintoístas
Ao longo dos séculos, as mulheres tem sido proibidas de participar de certas práticas religiosas xintoístas e budistas no Japão. Algumas delas envolvem rituais de purificação que ocorrem em muitos dos festivais na Terra do Sol Nascente, como o Gion Matsuri, um famoso festival de Kyoto e o inusitado Hadaka Matsuri, conhecido como o “Festival de homens nus”.
Como vimos anteriormente, o nyonin kekkai (女人結界) ou nyonin kinsei (女人禁制) são práticas que ocorrem no Mt. Omine e na Ilha de Okinoshima, nas quais proíbem as mulheres de participar de rituais de purificação. Uma das razões é o fato delas menstruarem, que é considerado Kegare (穢れ), um termo xintoísta para se referir à coisas impuras.
De acordo com a escritora Naoko Takemaru, durante o Período Kamakura (1185-1333), a ideia de que as mulheres eram “impuras” deixou de ser apenas por questões religiosas e passou também a significar que os homens eram superiores às mulheres, um conceito discriminatório que tomou conta entre as classes samurai durante o período Edo (1603-1867).
6. Entrar no ringue em uma competição de sumo
A Associação de Sumo alega que, uma vez que as mulheres tradicionalmente não tem permissão para participar de atividades relacionadas ao sumo (相撲), seria uma desonra para todos os seus antepassados mudar essa regra. Mas qual o motivo dessa restrição? Mais uma vez por motivos religiosos, já que o sumo possui raízes xintoístas e rituais de purificação.
Vale lembrar que as mulheres não tem permissão para entrar no ringue circular (dohyō), nem mesmo para apresentar prêmios aos lutadores. Existe o Onna Sumo (女相撲), um esporte amador desde o início do século 18, cujo lutadores são mulheres e vem ganhando adeptas no mundo todo, no entanto, o esporte é proibido de ganhar status profissional.
7. Tornar-se uma respeitada chef de sushi
Esse é um assunto que tem levantado bastante debate no Japão, especialmente após a declaração de Yoshikazu Ono, filho de Jiro Ono, do documentário “Jiro Dreams of Sushi”. Segundo Ono, as mulheres não podem ser chefs de sushi por várias razões. Algumas delas são pelo fato das mulheres menstruarem e porque os hormônios deixam suas mãos quentes.
Em sua declaração, ele diz que para ser um profissional nesse ramo, é necessário que o sushi mantenha sempre o seu sabor equilibrado, mas devido suas mãos serem mais quentes, o sabor do sushi pode ficar alterado. Na verdade, Ono respondeu uma pergunta que há muito tempo intrigava muitas pessoas: Por que não existem mulheres chefs de sushi no Japão?
No entanto, as coisas podem estar mudando no Japão. A japonesa Yuki Chizui tem lutado contra o sexismo e hoje é chef do Nadeshiko Sushi, um restaurante de sushi em Akihabara, Tóquio. Este restaurante é o único no Japão, onde todos os chefs são mulheres. Quem sabe, outras mulheres podem seguir o exemplo e acabar com essa tradição infundada.
Fonte: Japão em Foco