Mais de 500.000 pessoas circulam pela Estação de Tóquio diariamente. Trens expressos que partem para o Aeroporto Internacional de Narita, trens-bala que levam para inúmeras localidades do Japão, além das inúmeras linhas regionais fazem dessa estação, uma das mais movimentadas do país com base no número de trens que chegam e partem a cada dia.
Localizada no coração da capital japonesa, a Estação de Tóquio sobreviveu ao Grande Terremoto de Kanto em 1923 e a duas guerras mundiais. Também fez parte nas celebrações dos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964 e o lançamento do primeiro shinkansen do país. Em 20 de dezembro, a “porta de entrada para a capital” comemora seu 104° aniversário.
“A Estação de Tóquio não é apenas uma estação, é um símbolo do Japão”, diz Takeshi Miyata, do The Railway Museum. “Sempre foi parte do progresso na tecnologia ferroviária, mas é muito mais importante do que isso. É um marco que representa toda uma nação.”
A origem de tudo…
A história das linhas ferroviárias no Japão remonta ao ano de 1872, quando a primeira linha férrea do país foi construída entre Shinbashi e Yokohama, em uma tentativa de dar a Tóquio, acesso às instalações portuárias localizadas mais ao sul da capital japonesa.
O governo expandiu a rede e abriu a Estação Ueno em 1883 para algumas áreas na província de Saitama, como Kumagaya, que posteriormente permitiram que uma conexão fosse desenvolvida para a região de Tohoku. Na sequência, a oeste do Palácio Imperial, o governo abriu as estações de Shibuya e Shinjuku no mesmo dia – 1º de março de 1885.
Apesar do crescente número de linhas férreas que começavam a atravessar a capital, um dos principais centros permaneceu pouco desenvolvido: a área entre Shinbashi e Ueno. O governo japonês pensou na possibilidade de criar uma espécie de “terminal central” neste local, que pudesse se conectar com as demais linhas ferroviárias ao redor de Tóquio.
O polêmico projeto
Franz Baltzer, um engenheiro alemão que esteve envolvido na construção de uma linha elevada em Berlim, foi convidado para supervisionar os planos de desenvolvimento para a nova linha entre Shinbashi e Ueno. Baltzer também elaborou um projeto para a Estação de Tóquio, mas este foi mais tarde rejeitado por ser considerado “demasiado japonês”.
Como o país estava vivendo um período de ocidentalização devido à Restauração Meiji, o governo queria algo diferenciado, mais moderno. Por este motivo, o projeto foi solicitado ao arquiteto Kingo Tatsuno, que havia projetado o prédio vizinho do Banco do Japão e que mais tarde ficaria conhecido como o “pai da arquitetura moderna japonesa”.
“Balzter havia estudado arquitetura japonesa e queria que o terminal central tivesse características japonesas – algo que não poderia ser aceito na época”, diz Keiko Kawano, curadora do The Railway Museum. “É interessante que um homem japonês tenha proposto um prédio de estilo ocidental, enquanto um alemão sugeriu um prédio de estilo japonês”.
Tatsuno passou oito anos projetando a estação e, embora mantivesse a estrutura principal original de Baltzer, ele mudou drasticamente o design. A escassa contribuição financeira do governo ao projeto de desenvolvimento forçou-o a limitar a altura do prédio.
Após a vitória do país na guerra russo-japonesa em 1905, o governo aumentou seu financiamento para o projeto, permitindo que Tatsuno construísse uma instalação de três andares com cúpulas no telhado e uma saída central especificamente para a família imperial.
A estação sobrevivente
Surpreendentemente, a Estação de Tóquio sobreviveu ao Grande Terremoto de Kanto, de 7,9 graus de magnitude com poucos danos. No entanto não teve a mesma sorte durante o bombardeio americano em 25 de maio de 1945. O bombardeio danificou grande parte do terminal, além de destruir as cúpulas originais do telhado e todo o terceiro andar.
Apesar dos danos, os trens puderam usar partes da estação dois dias após o ataque. Em 1947, as cúpulas da estação tinham sido substituídas por telhados em forma de octógono. “O governo estava desesperado para que a Estação de Tóquio voltasse a funcionar, por isso arranjou dinheiro e materiais de construção suficientes para consertá-lo”, diz Kawano.
Era para durar apenas quatro ou cinco anos mas ao invés disso, o “design temporário” manteve-se por mais de 60 anos. Nesse meio tempo, a opinião pública ficou dividida em relação à sua restauração permanente. Enquanto alguns gostariam que fosse construído um novo e moderno arranha-céu, outros desejavam devolver ao marco histórico, sua estrutura original.
A reforma da Estação de Tóquio
As opiniões daqueles que queriam manter o edifício original prevaleceram. “Recriar algo projetado há 100 anos não é fácil, mas nos tempos atuais existe a preocupação de preservar prédios antigos em vez de simplesmente demoli-los e construir algo em seu lugar”, diz o arquiteto Shiro Ouchida, que por 11 anos esteve envolvido na reforma da estação.
Várias partes fundamentais ainda estavam faltando, especialmente em torno da entrada central. Para preencher esses espaços, Ouchida visitou outros edifícios da Era Meiji que haviam sido criados por Tatsuno. O arquiteto fez várias viagens à antiga sucursal do Banco do Japão de Kyoto e ao antigo prédio da Nippon Life Insurance Co. na Província de Fukuoka, onde estudou e mediu os desenhos até o mais ínfimo detalhe, incluindo as marcenarias nas janelas.
A renovação da Estação de Tóquio começou em 2007 e foi concluída em 2012. No entanto, o alto volume de passageiros que passavam pelo terminal diariamente só permitia que certas áreas fossem restauradas quando a estação fechasse, durante a madrugada. Ou seja apenas uma ou duas horas por noite, contabilizando o tempo de preparação e limpeza.
A maior parte do edifício principal da Estação de Tóquio foi mantida, mas o projeto restaurou as rotundas das extremidades norte e sul, além de recriar o terceiro andar. As rotundas conservam sua aparência original, composta por cantos octogonais com relevos de gesso moldados a partir de uma águia, uma flor, uma fênix, uma espada e animais do zodíaco chinês. A fachada centenária de tijolo vermelho e pedra do lado Marunouchi também foi restaurada.
A renovação concentrou-se em restaurar a estação como era nos tempos de glória, no entanto alguns recursos modernos foram adicionados aos projetos. Por um lado, um novo sistema de isolamento de base sísmica foi incluído nas fundações da estação, incluindo a instalação de dois andares subterrâneos para absorver terremotos e impedir seu desmoronamento.
“Não se pode afirmar com certeza que o edifício vai resistir a novos desastres naturais, mas, basicamente, a renovação foi feita para durar para sempre”, diz Ouchida. No entanto, sua aparência no lado Marunouchi, continua tão magnífica quanto era um século atrás.
Um grande ponto turístico
A Estação de Tóquio tornou-se um grande ponto turístico, atraindo pessoas de todo o Japão e de outros países. Hoje em dia, muitas pessoas vêm à estação para passear, fazer compras, comer nos restaurantes ou simplesmente para admirar sua bela arquitetura.
Uma praça fica em frente à estação, indo em direção ao Palácio Imperial. O lado Marunouchi faz um belo contraste com os arranha-céus circundantes. Dentro da Estação de Tóquio, há muitas lojas, além de ser um espetáculo à parte com suas cúpulas em estilo neobarroca.
A cúpula norte é a entrada da The Tokyo Station Gallery. Já a sul contém a entrada para o The Tokyo Station Hotel. Apesar das máquinas de bilhetes e dos trens próximos, ao olhar o seu teto, o espaço parece mais uma catedral do que propriamente uma estação.
O projeto fez com que Tokyo Station se tornasse “a única estação no mundo a integrar história, tradição, cultura, negócios e tecnologia”. Ele não apenas renovou o prédio histórico de tijolos vermelhos do lado Marunouchi, como também o edifício localizado no lado Yaesu, no lado oposto a Marunouchi. Yaesu é conhecido por suas galerias de lojas e restaurantes.
Além disso, no lado Yaesu encontramos uma grande cobertura de vidro que fica magnificamente iluminada durante a noite. Ela protege os passageiros que esperam por um ônibus no terminal Yaesu. A estrutura de vidro lembra a vela de um navio impulsionado pelo vento. Construída em estilo contemporâneo em 1953, Yaesu permanece com seu design moderno e inovador.
10 Curiosidades sobre a Estação de Tóquio
A Estação de Tóquio foi inaugurada há mais de um século com apenas quatro plataformas que atendiam cerca de 4.600 passageiros por dia. Hoje, mais de 4.000 trens chegam e partem da estação diariamente, tornando-se uma das estações mais movimentadas do país.
Tokyo Station é o epítome da capital, incorporando tanto o antigo quanto o novo. Marunouchi reflete a história e a tradição, enquanto Yaesu exibe orgulhosamente a modernidade e a tecnologia de ponta da capital japonesa. Confira abaixo 10 curiosidades interessantes a respeito dessa icônica estação, considerada uma das mais belas do Japão.
1. A estação foi nomeada apenas estação de Tóquio duas semanas antes de sua abertura oficial. Até então, era simplesmente chamada de “terminal central”.
2. Duas tentativas de assassinato de primeiros-ministros foram realizadas na Estação de Tóquio. Takashi Hara foi esfaqueado até a morte em frente à saída sul em 1921, enquanto Osachi Hamaguchi sofreu um atentado a tiros na plataforma do trem expresso para Tsubame em 1930, vindo a falecer desses ferimentos no ano seguinte.
3. O plano arquitetônico original foi criado pelo arquiteto alemão Franz Baltzer, mas sua ideia foi rejeitada por ter um design “muito japonês”.
4. Cerca de 740.000 pessoas ajudaram a construir a Estação de Tóquio em 1914. A recente renovação envolveu cerca de 780.000 pessoas.
5. O espaço total da Estação de Tóquio é de 182.000 metros quadrados, ou 3,6 vezes o tamanho do Tokyo Dome.
6. Apenas duas estações estão operando e são designadas como Ativos Culturais Importantes: Estação de Tóquio e Estação de Mojiko, na Província de Fukuoka.
7. Antes de sua reforma, a Estação de Tóquio era protegida contra danos durante terremotos por 11.050 hastes de 21 cm de diâmetro que tinham entre 3,6 e 7,2 metros de comprimento.
8. Apenas oito dos 12 animais do zodíaco são exibidos nas cúpulas da Estação de Tóquio. O resto dos animais pode ser encontrado no segundo andar de um prédio na fonte termal Takeo Onsen, província de Saga, que também foi projetado por Kingo Tatsuno.
9. Em 2013, a Estação de Tóquio ultrapassou a Estação de Shibuya em número de passageiros, ocupando o terceiro lugar depois de Shinjuku e Ikebukuro, de acordo com a JR East.
10. Cerca de 8 milhões de tijolos foram usados para construir a Estação de Tóquio.
Espero que vocês tenham gostado de conhecer um pouco mais sobre a história da icônica estação de Tóquio. Se você é um aficionado por arquitetura e design ou simplesmente gosta de fazer compras ou restaurantes, com certeza vai gostar de conhecer este local.
Não deixe de reservar um tempinho para explorar esse edifício histórico. Com certeza vai se surpreender com todos os detalhes e a atmosfera mágica que essa estação proporciona.