Kazuyoshi Miura, um atacante japonês pioneiro (conhecido no Brasil apenas como Kazu), continua no futebol aos 51 anos. No ano passado, Miura se tornou o jogador mais velho a marcar um gol no futebol profissional —ao menos era isso que se acreditava—, com a idade de 50 anos e 14 dias. Ele aproveitou um rebote e comemorou com um passo de samba conhecido como Kazu Dance.
Mesmo Kazu coloca a própria façanha em dúvida. “Tenho certeza de que existe alguém na quarta ou quinta divisão brasileira que marcou um gol aos 54 anos”, ele disse.
O cabelo dele é grisalho, e seu tempo no gramado é mínimo; a dança com que celebra seus gols é vista raramente. Até o final de setembro, Miura só havia entrado em campo oito vezes, nas 35 primeiras partidas do Yokohama FC na J2 League, em todas elas vindo do banco. E não houve nem mesmo um gol para que ele pudesse sacudir os quadris como se o carnaval tivesse chegado.
“Aos 51 anos, você perde força, é complicado manter a forma”, disse Edson Tavares, o treinador brasileiro do Yokohama. “Tenho de ser honesto com ele. Sempre que possível o coloco em campo”.
Mesmo no banco, porém, Miura contribui, disse Tavares, em um clube pequeno e pouco acostumado a grandes expectativas. Ele treina fastidiosamente. E come… bem, todo mundo tem uma história favorita sobre a suposta forma de comer de Miura.
Ele se levanta às 5h para o café da manhã, preparado pelo seu nutricionista pessoal. Se o nível de ferro em seu organismo está baixo, ele vai a um restaurante para comer fígado. Depois dos treinos, mergulha as pernas em um banho de gelo e bebe, segundo algumas fontes, uma quantidade imensa de suco de laranja. Mas não é suco de laranja: é uma água carbonada especial vinda da Itália.
Quando tinha 30 e poucos anos, diz a revista esportiva japonesa Number, Miura era capaz de comer um bolo inteiro sozinho. Agora, se concentra em alta proteína e baixa gordura, filés e salada temperada com azeite de oliva. Um site de esportes chamado Spollup noticiou que ele se pesa e verifica o teor de gordura em seu corpo quatro ou cinco vezes por dia.
“O Japão precisa crescer a passos pequenos para se tornar altamente profissional”, disse Tavares. “Kazu oferece um bom exemplo, estimulando as pessoas, motivando os jogadores”.
O rosto dele continua a aparecer em outdoors, e o número de sua camisa, 11, é visto em todo tipo de produto, de uniformes de futebol a capas para celulares. A maioria das pessoas que o encontram o considera prestativo, despretensioso, sempre pronto a apertar as mãos dos torcedores e assinar autógrafos, ainda que o tempo que ele dedica à mídia possa ser tão difícil de prever quanto seus minutos em campo.
Miura é considerado por muitos como o primeiro superastro do futebol japonês. Ele jogou no Brasil pelo Santos, o antigo clube de Pelé, e pelo Genoa, na Itália, e Dínamo de Zagreb, na Croácia. Quando a J League foi criada, em 1993, Miura era uma das grandes atrações, com seu estilo vistoso de jogo e suas declarações francas. Ele foi escolhido como melhor jogador na primeira temporada da liga, e compareceu à cerimônia de premiação usando um terno vermelho.
“Sem Kazu, a liga jamais teria se tornado o sucesso que se tornou”, diz Kenji Hattori, diretor de futebol do Yokohama.
Além do futebol, Miura representa a possibilidade de envelhecer produtivamente, em um país que, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, só é superado por Hong Kong em expectativa de vida, com 83,8 anos.
“Não podemos parar e fechar a conta em uma determinada idade”, disse Nobuko Kamiya, 68, um professor aposentado que vai ao estádio para assistir a todos os jogos do Yokohama, em casa e fora. “Kazu me deu a inspiração de continuar tentando; algo pode surgir para você”.
Por que ele continua jogando aos 51 anos? Porque ama o futebol e evitou lesões graves, disse Miura ao jornal The Japan Times no ano passado. Alguns torcedores e repórteres acreditam que ele continua a ser espicaçado, duas décadas mais tarde, pela sua exclusão da primeira seleção japonesa a jogar uma Copa do Mundo, em 1998.
A esperança de estar na seleção talvez ainda o mova: no ano passado, quando a Fifa aprovou a expansão da Copa do Mundo a 48 seleções, Miura, que defendeu o Japão pela última vez quase duas décadas atrás, viu uma abertura. “É importante continuar sonhando”, ele disse à Reuters. “E jogar uma Copa do Mundo continua a ser meu sonho”.