Os moradores de Kanbara, uma pequena cidade escondida entre campos e colinas na província de Gunma, conhecem muito bem o potencial destrutivo do Monte Asama. O vulcão ativo, com 2.568 metros de altura, acordou furioso em um fatídico dia no final do século XVIII, vomitando cinzas, rochas e magma, e transformou para sempre a paisagem do local.
A erupção cataclísmica, um dos desastres naturais mais documentados do início do Japão moderno, durou quatro meses e desencadeou um lahar – uma avalanche de alta velocidade de gás e detritos superaquecidos – que devastou Kanbara, uma pacata comunidade campestre.
O relativo silêncio de Asama ao longo dos séculos subsequentes tem acalmado as comunidades vizinhas, incluindo Karuizawa, uma cidade turística popular situada na fronteira das províncias de Gunma e Nagano. Mas Kanbara ainda mantem viva na memória, a tragédia conhecida como “Erupção de Tenmei” que assolou a região e fez centenas de vítimas em 1783.
Após o fatídico episódio, que na verdade ocorreu ao longo de 4 meses, a cidade de Kanbara foi reconstruída, graças ao empenho dos poucos sobreviventes que escaparam por um triz de serem engolidos pelas cinzas e lavas do vulcão e consequentemente da morte iminente.
Vivendo na sombra de um vulcão
Durante o período de Edo (1603-1868), Kanbara era uma agitada cidade na estrada montanhosa de Shinshū. Suas pousadas e casas de chá hospedavam e entretinham comerciantes, peregrinos e outros viajantes que atravessavam a estrada sinuosa.
A sua população – em torno de 570 no momento da erupção – ganhava a vida com o solo vulcânico rochoso, cultivando trigo, milho e outras culturas adequadas à altitude e ao clima.
Na primavera de 1783, o terceiro ano da Era Tenmei, o Monte Asama começou a mostrar atividade. Em maio, o vulcão teve várias erupções em pequena escala. A intensidade foi aumentando gradativamente até que em meados de julho, o vulcão Asama vomitou uma enorme nuvem de fumaça negra no ar, cobrindo toda a região com cinzas asfixiantes.
A partir de então, o vulcão passou a despejar fumaça e rochas diariamente, causando destruição generalizada de casas e plantações, distantes centenas de quilômetros. Nas proximidades de Karuizawa, especialmente em Nakasendō, uma importante rota que ligava Edo (atual Tóquio) a Kyoto, pedras abrasadoras aterrorizaram moradores e viajantes.
Depois de quase quatro meses, a gravidade da erupção atingiu seu ápice a partir da noite de 2 de agosto. Durante três dias, o vulcão exibiu sua força máxima, expelindo cinzas e explosões maciças que foram sentidas até mesmo em Kyoto, a 300 quilômetros de distância.
Pouco depois da explosão, um rio ardente de magma escorreu pelo declive norte, formando o que agora é conhecido como fluxo de lava Onioshidashi. Pouco depois disso, uma parte do norte da montanha, enfraquecida pelo calor e pelo cataclismo, desmoronou.
Uma cidade enterrada em um instante
Escondida em um vale ao norte de Asama, a cidade de Kanbara havia atravessado a erupção intacta. Com a aparente calma na atividade vulcânica, os aldeões aproveitaram para descansar. No entanto, no dia 5 de agosto, todos foram surpreendidos por um lahar, nome dado a uma avalanche de lama vulcânica composta por materiais piroclásticos e água.
Isso foi um fator fundamental para a tragédia que ocorreu em seguida. Muitos moradores não estavam trabalhando nos campos – onde provavelmente teriam uma maior oportunidade de fuga – e sim em suas casas. Apesar do estrondo ensurdecedor vindo do vulcão, poucos aldeões conseguiram fugir da avalanche, que avançava a uma grande velocidade.
O lahar cobriu a cidade em questão de minutos, engolindo os moradores enquanto corriam e enterrando casas, armazéns, campos e tudo que encontrava pela frente.
O único refúgio para fugir do caos era o Kannon Hall da cidade, um pequeno santuário dedicado à deusa da misericórdia. Empoleirado no alto de uma encosta acima da aldeia, o edifício podia ser alcançado após subir alguns lances de escada de pedra.
Os registros mostram, porém, que apenas 93 pessoas, menos de um sexto da população, conseguiram escalar os 50 degraus que finalmente as deixariam em segurança.
Em 1979, uma escavação desenterrou os esqueletos de duas mulheres. A posição dos corpos mostrou que a mulher mais jovem, talvez uma filha ou uma irmã, carregava uma outra mulher mais velha nas costas quando ambas foram enterradas sob os escombros ardentes.
Da calamidade para o renascimento
Depois de atingir Kanbara, o lahar chegou ao rio Agatsuma, na extremidade da aldeia, absorvendo água e se transformando em uma torrente mortal. O fluxo turbulento da lama avançou rapidamente, se mesclando com o rio Tonegawa, espalhando ainda mais destruição.
Apesar da sua aldeia estar encoberta por escombros e lama vulcânica, os sobreviventes de Kanbara mal puderam chorar pelos que haviam perdido suas vidas. Era preciso reconstruir a aldeia o mais rápido possível. Aldeias vizinhas cooperaram de diversas formas, levando água, comida, oferecendo abrigos e captando recursos na capital Edo (atual Tóquio).
Com as necessidades básicas dos sobreviventes atendidas, a preocupação a seguir foi a reconstrução da pequena cidade. A união era fundamental e a sociedade local precisava reorganizar-se. Órfãos foram adotados por novas famílias, enquanto muitos viúvos ainda enlutados, resolveram se casar entre si para que uma nova história pudesse ser contada.
Nos meses seguintes uma nova vila emergiu lentamente no topo das ruínas da antiga cidade, com a construção de uma nova estrada principal, além de casas, armazéns e pousadas.
As escavações arqueológicas descobriram uma grande variedade de artefatos da época da erupção, incluindo itens diários, como cerâmicas, moinhos, artigos de higiene pessoal, além de itens religiosos budistas. Os restos de várias vítimas também foram descobertos, fornecendo pistas sobre como era a vida na aldeia até a sua quase completa destruição.
230 anos após a tragédia, os moradores de Kanbara ainda tem o hábito de homenagear as vítimas em cerimônias anuais realizadas no Kannon Hall. No interior do santuário também estão armazenadas alguns artefatos daquela época e as marcas da fúria vulcânica ainda podem ser observadas nos degraus de pedra que levam até o Santuário.
A comunidade também construiu um pequeno museu para preservar sua história, preenchendo-os com artefatos desenterrados em escavações arqueológicas realizadas ao longo dos anos.
Vale também a pena conhecer o Onioshidashi Volcanic Park (鬼押出し園) ou Onioshidashien. O parque apresenta uma paisagem de rochas vulcânicas que lhe confere uma aparência única e robusta. As rochas foram depositadas aqui durante a grande erupção de 1783.
Além da oportunidade de examinar de perto as rochas vulcânicas, o Onioshidashi Park também oferece uma vista excelente das cidades próximas e do Monte Asama em dias claros. No centro do parque encontra-se um templo dedicado à Kannon, Deusa Budista da Misericórdia.
Os visitantes tem a oportunidade de aprender mais sobre vulcões, bem como sobre a flora e fauna em terrenos vulcânicos no Museu do Vulcão Asama (Asama kazanhaku butsukan), localizado próximo ao Onioshidashi Park, podendo inclusive experimentar a sensação de uma atividade vulcânica através de simuladores e apresentações em vídeo.
Informações dos Pontos turísticos:
Tsumagoikyodo Museum (嬬恋郷土資料館)
Endereço: 494 Ōaza Kanbara, Tsumagoi, Agatsuma, Gunma Prefecture, Japão
Telefone: + 81-279-97-3405 (japonês)
Horário de funcionamento: 09:00 às 16:30
Fechado: às quarta-feiras
Website: vill.tsumagoi.gunma.jp
Onioshidashi Park (鬼押出し園)
Endereço: 1053 Kanbara, Tsumagoi-mura, Agatsuma-gun, Gunma-ken, 377-1593, Japão
Telefone: +81 279-86-4141
Horário de funcionamento: 8:00 às 17:00 (entrada até as 16:30)
Fechado: De dezembro a meio de março
Taxa de entrada: 650 ienes
Website: princehotels.co.jp
Asama Volcano Museum (浅間火山博物館)
Endereço: 1053−26 Kanbara, Tsumagoi-mura, Agatsuma-gun, Gunma-ken, 377-1524, Japão
Horário de funcionamento: 8:30 às 17:15
Fechado: Dezembro até março
Taxa de entrada: 600 ienes
Website: asamaen.tsumagoi.gunma.jp