Se você tivesse que chutar qual foi o período de todos os tempos para a civilização humana, qual seria o seu palpite? A época em que a Peste Negra cobrou seu maior número de vítimas, na Idade Média? O ápice da Primeira Guerra Mundial, talvez? Quando a pandemia de Gripe Espanhola causou milhões de mortes no mundo? O auge da Segunda Guerra Mundial, por ocasião do Holocausto? Ou, ainda, o ano de 2018? Porque, convenhamos, eita aninho…
Pois, segundo um estudo realizado por cientistas da Universidade de Harvard, nos EUA, nenhum desses momentos históricos foi o pior para a civilização humana. De acordo com o levantamento, o período mais dramático foi o século 6 — com o ano de 536 sendo possivelmente o mais terrível na história humanidade. E sabe o que se deu nessa época? Não? Venha com a gente descobrir!
Dá para apagar do calendário?
De acordo com Michelle Starr, do site Science Alert, o ano de 536 marcou o 10º ano do reinado do Imperador Bizantino Justiniano, o Grande e, apesar de não estar acontecendo nada de extraordinário nesse ano — tipo… nenhuma grande guerra ou pestilência sinistra. Entretanto, segundo registros deixados por historiadores da época, o Sol perdeu seu brilho habitual e ficou parecido com a Lua ou como se estivesse em um eterno eclipse. Durante todo o ano!
Então! Os pesquisadores de Harvard conduziram um estudo superdetalhado em um testemunho de gelo — uma amostra em forma de tubo que é coletada em geleiras ou no pico de montanhas para que os cientistas possam estudar o acúmulo de camadas de gelo ao longo do tempo — obtido em um glaciar que fica na fronteira entre a Suíça e a Itália. E esse núcleo gelado “contou” aos cientistas que, apesar de os humanos não estarem se matando nem transmitindo doenças letais uns aos outros, a natureza esteve pra lá de furiosa.
As evidências apontaram que exatamente no ano de 536 ocorreu um grande acúmulo de cinzas vulcânicas e fragmentos no gelo — indicando a ocorrência de uma violenta erupção. Como se fosse pouco, 4 anos depois, em 540, rolou outra erupção, e o acúmulo de material na atmosfera não só causou uma queda nas temperaturas globais, como afetou o cultivo de alimentos, mergulhando o planeta em um período de frio e fome.
Mas a desgraça não parou por aí, não! Em 541, veio a Praga de Justiniano, uma pandeia semelhante à Peste Negra e que teria provocado a morte de um número estimado em cerca de 100 milhões de pessoas — e inclusive contribuído para o declínio do Império Romano! Sim, caro leitor, a coisa ficou feia e testemunhos de gelo coletados na Antártida e na Groenlândia mostram as mesmas evidências.
Depois da tempestade…
O nome que arranjaram para essas fantásticas amostras de gelo é bem apropriado! Isso porque, segundo Michelle, os testemunhos são verdadeiros testemunhos da passagem do tempo, visto que, conforme a neve — contendo os materiais presentes na atmosfera — cai e vai se acumulando com o decorrer dos anos, as camadas resultantes “congelam” de forma permanente vestígios de centenas e milhares de anos atrás, cronologicamente.
No caso desse período maldito da história humana, os testemunhos mostraram que ele durou alguns anos, mas não muitos. Os cientistas sabem disso porque, nas camadas, eles identificaram o acúmulo de chumbo por volta do ano 640. Esse elemento indica a presença de poluição na atmosfera, o que não é algo positivo, mas sugere que os humanos da época estavam dando a volta por cima, uma vez que esse material era resultante da obtenção de prata para a produção de moedas.
Os pesquisadores ainda identificaram novos picos nos anos de 660 e 695, sugerindo que as coisas voltaram a entrar nos eixos e a economia voltou a florescer. Efetivamente, por volta desse período, as últimas moedas de ouro do período pós-romano foram produzidas e saíram de circulação, dando lugar às de prata. O testemunho mostrou, ainda, uma brusca redução na quantidade de chumbo na atmosfera entre os anos de 1349 e 1353 — intervalo de tempo que coincide perfeitamente com a época em que a Peste Negra devastou a Europa. Interessante, né?