Conheça uma bela arte japonesa que está prestes a desaparecer!
Sento (銭湯) é o nome que se refere às casas de banho públicas no Japão. Muito populares até a década de 70, as casas de banho japonesas tem sofrido um grande declínio nas últimas décadas e há um risco iminente de sumirem do mapa em um futuro não muito distante. Mas por qual razão essas casas de banho tradicionais tornaram-se tão populares no Japão?
Bem, até a década de 1970, nem todas as casas japonesas tinham um local próprio para tomar banho com chuveiro e ofurô. Por esta razão, as pessoas recorriam ao Sento para banharem-se. Este hábito acabou enraizando-se na cultura japonesa e o Sento passou a ser também um local onde as pessoas podiam se encontrar, se socializar, bater um papo…
Só para você ter uma ideia, em seu auge, por volta da década de 50, havia cerca de 2.800 “sento” somente em Tóquio. Hoje o número foi reduzido a 700. E a razão para essa redução é muito simples: A partir da década de 70, as residências japonesas passaram a ter um local próprio para banho e com isso, muitas pessoas foram deixando esse hábito de lado.
Apesar disso, ainda existem muitas em funcionamento e são frequentadas especialmente por pessoas de mais idade ou por curiosos que querem ter a experiência de um banho tradicional. Uma tradição antiga que chama a atenção nas casas de banho japonesas são os murais artísticos, que exibem na maioria das vezes, uma pintura emblemática do Monte Fuji.
Porém, com a queda significativa de frequentadores, muitos estabelecimentos precisaram fechar as portas e com isso esta bela e artística tradição está desaparecendo aos poucos. Acredita-se que atualmente há apenas três artistas especializados em “Sento Art” (銭湯アート). Um desses pintores profissionais é uma mulher de 33 anos, chamada Mizuki Tanaka.
Mizuki Tanaka resolveu tornar-se uma Penki-e (pintor que utiliza tinta a óleo) com o intuito de preservar a tradição. Hoje, ela é a mais jovem e única mulher nesta profissão. Quando começou, havia apenas dois pintores profissionais no Japão, incluindo o seu mestre, e ambos estão com mais de sessenta anos. Ela percebeu que era necessário que alguém mais jovem aprendesse o ofício e exercesse essa função, antes que a tradição se perdesse para sempre.
Tanaka tomou conhecimento sobre os murais Fuji quando estudava história da arte na Universidade Meiji Gakuin. Ela ficou simplesmente encantada pela arte e resolveu aprender mais sobre o assunto. Tornou-se aprendiz do veterano pintor Morio Nakajima e apesar dos 7 anos que trabalham juntos, Tanaka ainda não tem autorização para pintar o Fuji.
Ela pinta apenas o fundo e outros detalhes no mural. Seu professor está a quase 50 anos nesta profissão e tornou-se um dos oito pintores especializados. Hoje em dia, ao lado de outro veterano, o Kiyoto Maruyama, Nakajima faz parte da dupla de pintores remanescentes na área de Kanto. Tanaka, no entanto é sua aprendiz que promete levar seu legado adiante.
A artista pinta de quatro a cinco murais por mês, além de fazer workshops para difundir a cultura sento para o público mais jovem. Ela diz que não há regras específicas para pintar um mural, no entanto, o trabalho deve ser finalizado em um dia e não se deve pintar uma cena com um por do sol, pois segundo a tradição, pode trazer azar ao estabelecimento.
Mas por que o Mt Fuji é quase sempre a maior inspiração para esses pintores? Tanaka diz que vislumbrar a montanha sagrada (mesmo que seja na pintura de um mural) proporciona felicidade e relaxamento nos clientes. Não é a toa que muitos onsens ao redor do Mt. Fuji sejam muito requisitados. Relaxar admirando a montanha traz muita paz e tranquilidade.
Apesar dos cenários serem inspirados no Mt. Fuji e nas paisagens ao redor da província de Yamanashi, os artistas tem a liberdade de criar elementos fictícios de acordo com a sua criatividade. Muitos cenários também são inspirados nas obras de Hokusai, um artista do período Edo, conhecido pela sua série de xilogravuras “Trinta e seis vistas de Monte Fuji”.
Cada pintura é única e cada artista tem seu próprio estilo. Segundo Morio Nakajima, o Monte Fuji é uma montanha difícil de pintar, mesmo sendo um pintor experiente. Mas o mais importante é o resultado final, que é o de fazer os clientes felizes e relaxados, como se estivessem realmente tomando um banho ao ar livre, com uma paisagem estonteante ao redor.
O veterano Nakajima-san conta que pinta cerca de 70 murais por ano, e cada um deles custa aproximadamente 100 mil ienes aos proprietários do Sento. Geralmente os murais das casas de banho são substituídos a cada três anos. Os pintores profissionais são chamados para remover o mural antigo e danificado pelo tempo e produzir um novo mural em seu lugar.
Hoje, o Sento é considerado parte de um movimento cultural obsoleto no Japão, mas a aprendiz Tanaka tem o objetivo de desenvolver e modernizar a tradição, fazendo mudanças sutis, mas preservando o estilo de pintura original. O seu desejo é que as pessoas mais jovens se sintam motivadas em visitar essas instalações e obter essa grande experiência cultural.
Uma vez que você pisa dentro destas instalações, é como se tivesse sido transportado para algum lugar fora de Tóquio. É uma experiência única, onde as pessoas podem se comunicar e criar laços de amizade. Se depender de Tanaka, a arte nos murais de sento continuará ainda por muito tempo. E daqui 20 anos, ela também espera ter seu próprio aprendiz.
Veja os pintores em ação no vídeo abaixo
Fonte: Japão em Foco