Shimoguri no sato (下栗の里) é uma aldeia solitária localizada na encosta íngreme de uma montanha na área de Tōyama-gō, situada ao sul da província de Nagano. A aldeia está a 1.000 metros acima do nível do mar, aparentemente suspensa no espaço e no tempo.
A aldeia faz parte da Vila Kamimura, na cidade de Iida e ganhou fama nos últimos anos, tornando-se em um dos destinos turísticos mais populares de Nagano, especialmente por sua bela folhagem de outono. Em 2016, por exemplo, a aldeia recebeu aproximadamente 65.000 visitantes que vieram até a aldeia para apreciar a pitoresca paisagem ao redor do local.
Muitas pessoas devem se perguntar: como esta aldeia surgiu em um local de tão difícil acesso? A resposta está em uma abundância de recursos naturais como sol e água. Shimoguri-no-sato é um dos poucos locais nesta região alpina que desfruta de um dia inteiro de sol.
Por causa das longas horas de exposição solar, este ambiente tornou-se propício para o cultivo de batatas, trigo sarraceno e outros vegetais. A água cristalina da montanha flui em profusão pelos canais de abastecimento da vila, e os moradores a usam para tudo, desde lavar seus vegetais até fabricar chá a partir das folhas cultivadas nas hortas de suas casas.
Uma aldeia isolada que preserva tradições antigas
No entanto, chegar até a aldeia não é uma tarefa fácil pois não há serviço regular de ônibus. A única maneira de chegar até Shimoguri-no-sato é subindo à pé pelas encostas íngremes da montanha ou pegando um táxi na pequena cidade de Kamimachi, situada no sopé da montanha. Não é a toa que a população da pequena aldeia tem diminuído nas últimas décadas.
Nos últimos oito anos por exemplo, o número de famílias caiu de 53 para 48 e o número de residentes de 117 para 93. Muitas casas estão ficando vazias e abandonadas e muitos aldeões acreditam que os dias da aldeia estão contados. Realmente é preciso pensar duas vezes antes de decidir-se morar em um lugar tão inóspito apesar das belas paisagens ao redor.
“As batatas aqui são pequenas, mas são doces e deliciosas”, diz Kurumizawa Mieko, que chegou na aldeia após se casar com um morador de Shimoguri décadas atrás. “Um dos nossos pratos tradicionais é o dengaku de batata. Você coloca três ou quatro no espeto e assa-os em fogo aberto, cobrindo-os depois com molho de miso caseiro ou noz moscada.”
As pessoas aqui vivem rusticamente. Kurumizawa faz seu próprio miso e tofu de soja colhida no outono e utiliza a água cristalina que atravessa a aldeia. Os rituais de cultivo de hortaliças se mantem como centenas de anos atrás e a comida é a típica culinária de fazenda.
Restaurante Hanbatei
Por gerações, o principal cultivo tem sido a pequena batata “nido imo”. Em um ambiente típico ao encontrado nos Andes, esses pequenos tubérculos podem ser plantados e colhidos duas vezes no mesmo campo, uma vez no início do verão e outra no outono.
Os visitantes podem provar tais especialidades locais no único restaurante da aldeia, o Hanbatei, onde as mulheres de Shimoguri-no-sato se revezam cozinhando e atendendo os clientes. O restaurante foi construído onde antes era uma escola primária, fechada em 1986.
Kurumizawa é uma das senhoras que trabalham no restaurante. Apesar de trabalhar duro, ela considera a vida em Shimoguri-no-sato “despreocupada”. “ Por mais simples que aqui possa parecer, nunca nos falta o que comer. O ar é fresco e limpo, há muito sol e a maioria das plantações floresce. Eu não sinto que a vida aqui seja inconveniente ou solitária.”
Além das pequenas batatas “nido imo”, os moradores de Shimoguri-no-sato também conseguem encaixar o trigo-sarraceno em seu cronograma de plantio e colheita. Desde o final de agosto até meados de setembro, uma profusão de flores brancas de trigo mourisco adornam os campos inclinados da aldeia, dando à paisagem uma beleza única e quase celestial.
Festival de Shimotsuki
Nos dias 13 e 14 de dezembro um festival muito interessante acontece no Santuário Jūgosha Daimyōjin, em Shimoguri-no-sato. Moradores e visitantes se reúnem no santuário durante esses dois dias para celebrarem as colheitas e pedir proteção ao povoado de Tōyama-gō.
Quando a noite cai, eles fervem água em um caldeirão como oferenda aos deuses. Na companhia de figuras mascaradas representando os deuses e espíritos ancestrais, os aldeões dançam e saltam ao redor do caldeirão enquanto bebem saquê, acompanhados pelo som do tambor taiko e da flauta japonesa. Trata-se de uma cerimônia de renascimento.
À medida que a noite avança, a celebração se torna mais e mais barulhenta, com aldeões, turistas e “deuses” se juntando à folia; as festividades continuam até o raiar do dia. É uma cerimônia que continua inalterada há séculos e atrai muitos visitantes e curiosos.
As máscaras representam Hassha, o espírito ancestral de uma família aristocrática que teria habitado o Vale Tōyama até o início do período Edo (1603–1868). Os moradores acreditam que durante essa época do ano, os deuses se banham com a água quente do caldeirão em um ritual de purificação e renascimento com o intuito de saudar o novo ano que está por vir.
Parecendo ter saído de algum filme de Miyazaki Hayao, este local ainda preserva tradições antigas, longe das tecnologias e correria das grandes cidades. Para os viajantes é uma surpresa se deparar com esse esplendor cênico e uma vida provinciana intocada.
Suspenso no espaço e no tempo, Shimoguri-no-sato é uma das joias escondidas do Japão, considerada uma das aldeias mais bonitas especialmente no outono com suas folhagens em tons de amarelo, laranja e vermelho. Vale a pena conhecer se tiver oportunidade.
Confira o vídeo de Shimoguri-no-sato
Fonte: Japão em Foco