Muitos já se sentiram tentados a abandonar a rede social, mas o que aconteceria com seu estado psicológico se isso se concretizasse? Para descobrir a resposta, pesquisadores da Universidade Stanford realizaram um estudo com centenas de usuários — e o resultado é intrigante.
Divulgada no mês passado, a pesquisa teve foco na saúde mental dos participantes. Alguns voluntários, e outros recebendo uma compensação em dinheiro, foram convidados a abandonar a rede social por um mês para que as consequências pudessem ser observadas e analisadas.
As mudanças mais evidentes foram as seguintes:
- Menos tempo online foi gasto, visto que o Facebook não foi substituído por outra rede social ou aplicativo;
- Mais tempo foi passado com a família e amigos próximos;
- Não havia muita consciência do cenário político, mas foi percebida mais tolerância;
- Houve a alegação de estarem “se sentindo melhor”;
- Foi reforçada uma antiga hipótese de que a rede social só seria benéfica para usuários excessivamente ativos.
Ademais, muitos alegaram estar planejando usar menos — ou não voltar para — o Facebook após o estudo.
A perspectiva dos autores
O portal de notícias Recode entrou em contato com um dos autores do estudo, Matthew Gentzkow, professor de Economia da Universidade Stanford, para discutir os resultados do experimento. Para o pesquisador, a falta de consumo de notícias e de conteúdo relacionado a política foi o que tornou os usuários menos polarizados — e, como consequência, mais tolerantes. “A postura agressiva das pessoas é muito vinculada a quão engajadas estão. […] Para muitos, estar no Facebook significa ler mais, consumir mais, discutir mais, e isso não é culpa do algoritmo da rede social”, disse.
O professor também especula que a razão para a rede social criar um ambiente mais hostil do que qualquer outro podem ser as “bolhas sociais”: “É bem mais provável que liberais e conservadores consumam os mesmo canais de televisão, revistas ou portais de notícias do que sejam amigos no Facebook”, alegou, destacando a segregação ideológica causada pelo site.
Sobre a considerável redução de engajamento político dos participantes, Gentzkow questiona: “Não é melhor que tenhamos pessoas que sabem menos, menos engajadas, mas que são mais bem-humoradas?”. Definindo o efeito colateral como inevitável, o pesquisador não sabe definir até que ponto o acesso à informação é inofensivo.
“Voluntários” exigentes
Quando receberam a proposta de abrir mão da rede social, muitos não a aceitaram de graça. “Várias pessoas pediram até 100 dólares; já outras pediram valores muito acima disso”, relatou o professor. E completou que “Também houve respostas como: ‘você não pode pagar o bastante para me fazer sair do Facebook’.”.
Por fim, Gentzkow disse não poder afirmar se o Facebook é realmente prejudicial para a sociedade — mas não há dúvidas de que alguns usuários são exageradamente presos à rede social.