Iwao Hakamada pode se considerar um cara de sorte, apesar de tudo. Ele é um dos poucos homens no Japão que conseguiu ser inocentado de um crime ocorrido em 1966 e assim, escapar da pena de morte. O problema no entanto foi a longa espera…
Iwao Hakamada ficou nada mais nada menos do que 48 anos no corredor da morte, sendo libertado no dia 27 de março de 2014. Sua história nos traz muitos questionamentos, relacionados a pena de morte no Japão. Como que um país tão civilizado pode dar margem a injustiças como a de Hakamada?
O fato de ter inocentes no corredor da morte nos faz refletir sobre o sistema de justiça criminal no Japão e sobre os métodos de tortura para obter a confissão de suspeitos de assassinatos. No caso de Hakamada, além da tortura sofrida, houve também provas falsas, fabricadas pela promotoria.
A condenação de Iwao Hakamada
O ex-boxeador Sr. Hakamada trabalhava em uma fábrica de miso e foi condenado à morte em 1966 pelo assassinato do seu patrão e de sua família, no caso a esposa e seus dois filhos. Após passar por um interrogatório, onde foi espancado e privado do sono durante mais de 20 dias, o Sr. Hakamada acabou admitindo a culpa pelos assassinatos.
Depois de um tempo, a acusação plantou provas incriminando-o, tais como roupas manchadas de sangue com alegação de que era o mesmo tipo sanguíneo com a do Sr. Hakamada. Essa prova, aliada a confissão obtida, foram decisivas para que o Sr. Hakamada fosse condenado à morte por enforcamento.
No tribunal, diante do júri, o Sr. Hakamada retirou a confissão, mas não adiantou. Somente há pouco tempo, a defesa conseguiu provar de que as manchas de sangue não pertenciam ao Sr. Hakamada, e ele foi libertado aos 78 anos de idade, após passar quase cinco décadas atrás das grades.
O Sr. Hakamada é o prisioneiro inocente a passar mais tempo no corredor da morte. Além dele, há outros poucos sortudos como o Sr. Sakae Menda, o primeiro a ser absolvido da pena de morte. A maioria das condenações no Japão são baseadas em confissões, e muitas delas são obtidas por intimidação.
Por ter ficado tanto tempo preso em regime fechado, o Sr. Hakamada está muito debilitado, não só fisicamente como psicologicamente. Mesmo que receba alguma indenização por todo seu sofrimento, acredito que será difícil para este homem superar o drama que viveu e voltar a ter uma vida normal.
Ainda bem que ele pode contar com o apoio de Hideko, sua irmã de 81 anos, que dedicou mais da metade de sua vida para provar a inocência do seu irmão. A Vice Japan produziu um documentário sobre o Sr. Hakamada e outros que como ele, tiveram a “sorte” de serem absolvidos da pena de morte.
Assista ao vídeo
* PS: Ative a legenda em português nas configurações do vídeo.
Quantas pessoas estão no corredor da morte?
Hoje são cerca de 130 pessoas condenadas a morte. Desde 1945, muitos condenados tem dito ser inocentes, porém apenas quatro deles conseguiram provar a inocência e escapar da forca. É triste e assustador saber que pessoas inocentes estão ou estiveram no corredor da morte.
Por causa disso, muitas pessoas tem ido contra o sistema penal japonês, a fim de evitar condenações injustas como aconteceu com o Sr. Hakamada. Pedem mais transparência nas investigações e nos interrogatórios, que são feitos a portas fechadas e sem a presença de um advogado de defesa.
As datas das execuções são mantidas em segredo e os condenados à morte são apenas informados no dia em que serão enforcados. Segundo os críticos, as execuções sem aviso prévio violam os direitos humanos básicos e que esta incerteza causa uma angústia desnecessária aos condenados.
Pena de morte é uma questão que levanta muitas polêmicas. Sempre haverá quem seja contra e quem seja a favor. Mas o que é mesmo intolerável é a tal da injustiça, cuja dor prolongada pode tornar-se irreparável.
Fonte: Japão em Foco