A controvérsia em torno da coluna de Ayako Sono em 11 de fevereiro 2015 no Sankei Shimbun foi impossível de ignorar, especialmente para aqueles que estão envolvidos no trabalho cotidiano de apoiar comunidades estrangeiras no Japão.
Veja um trecho do jornal Japan Times: “Ela também disse que, embora fosse bom para as pessoas de todas as raças trabalhar, pesquisar e socializar um com o outro, eles também deveriam viver separados um do outro. “Desde que aprendi sobre a situação na África do Sul 20 ou 30 anos atrás, pensei que brancos, asiáticos e negros deveriam viver separadamente”, escreveu Sono.”
A carta do embaixador sul-africano Mohau Pheko nesse mesmo jornal foi uma lembrança de que, no passado, a palavra “separação”, insanamente simples, tem sido utilizada para justificar e descrever as violações dos direitos humanos em grande escala – uma prática que não tem lugar no século 21.
Em 21 de fevereiro, The Japan Times informou as tentativas de Sono de esclarecer sua declaração original, na qual se referiu a “colônias dedicadas para” imigrantes nikkei japoneses “na América do Sul. Ela também afirmou que no Japão, “há comunidades para imigrantes brasileiros”, onde eles vivem “separadamente pela escolha”. Essa é uma distorção das experiências tanto do japonês no Brasil como dos brasileiros no Japão.
Quando os imigrantes japoneses começaram a chegar no Brasil, há mais de 100 anos, eles gravitavam em direção a certas cidades e bairros onde havia maiores oportunidades.
Os japoneses no Brasil se espalharam pelo país, absorveram a cultura brasileira e se casaram e tiveram filhos com outros brasileiros. Em suma, eles foram integrados na sociedade brasileira, sem desistir de sua cultura ancestral.
Os japoneses e outros imigrantes ajudaram a tornar o Brasil uma sociedade genuinamente multicultural, onde os estrangeiros poderiam se tornar totalmente brasileiros, preservando ao mesmo tempo a herança de suas terras.
Hoje, mais de 1,5 milhão de descendentes japoneses no Brasil são membros exitosos da sociedade – ambos totalmente brasileiros e orgulhosos de sua herança japonesa. Os japoneses que originalmente vieram ao Brasil trabalharam principalmente como trabalhadores agrícolas; trabalho árduo e integração na sociedade brasileira permitiram que seus filhos se tornassem engenheiros, artistas, médicos, funcionários públicos e empresários.
Os descendentes japoneses representam 12% dos alunos da Universidade de São Paulo, a universidade de maior ranking no Brasil. Como sociedade, sempre procuramos integrar melhor todos aqueles que vivem em nosso país – e esses esforços continuam a influenciar a política governamental, por exemplo, através do importante trabalho de nossa Secretaria para a Promoção da Igualdade Racial.
Por sua vez, os mais de 175 mil brasileiros que vivem no Japão hoje – eles próprios em grande parte de descendência japonesa – não vivem “separadamente pela escolha”. Eles chegaram a essas costas esperando a mesma abertura e oportunidade que os imigrantes japoneses encontraram no Brasil.
Embora a maioria deles tenha obtido permissões de trabalho, na esperança de permanecer alguns anos e voltar para casa, ao longo do tempo muitos desenvolveram profundos vínculos com o Japão, iniciando famílias e negócios aqui.
Apesar de uma série de obstáculos, estes brasileiros procuram a plena integração em uma sociedade que vieram a admirar. Eles desejam se juntar e contribuir com a sociedade japonesa – não viver separadamente disso.
Muitos estão trabalhando para ajudar a integrar esses brasileiros – não apenas nossos consulados em Tóquio, Nagoya e Hamamatsu, mas também nossos parceiros japoneses nos governos nacionais e locais, a sociedade civil e a comunidade empresarial.
Para todos os envolvidos nesses esforços, uma coisa é clara: o Japão tem uma oportunidade única de se beneficiar dos talentos, da cultura e do trabalho árduo dos brasileiros que vivem aqui. Esperamos e acreditemos que o Japão aproveitará esta oportunidade para fortalecer seu futuro integrando estrangeiros e rejeitando vozes que exigem separação.